sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Tema para as férias

Isso mesmo, o Duelo de Escritores entra em férias essa semana, mas não deixa de criar por causa disso. A rodada será extendida, e ao invés de terminar no dia 30, irá terminar apenas no dia 10 de janeiro, juntando duas rodadas em uma só.

Mais tempo para os duelistas escreverem, mais tempo para os leitores votarem!

Assim, os duelistas deverão postar seus textos com o prazo máximo do dia 6 de janeiro.

E como férias é tempo de voltar a ser criança, aí vai o tema desta rodada:

"Fábula infantil".

Divirtam-se!

domingo, 16 de dezembro de 2007

Votação "Discos Voadores"

Está aberta a temporada de votação para o tema: "Discos Voadores"

O prazo máximo é dia 20/dez/2007.

No dia 21, conheceremos o novo tema, que será nosso tema de férias.

Abraços e bons votos! (fazendo um trocadilho com votos de feliz natal e ano novo!)

Diário de bordo - Nave 31598

Por Marina Melz
16/12/2007


De: Nave 31598 – Missão Terra
Para: Comando Geral de Missões Espaciais
Assunto: Diário de bordo

Caro comando,

Quando chegamos, tudo parecia exatamente como nos informaram nossos superiores. Mesmo de longe, víamos um grande território verde e muitas valas, que iam de norte a sul da imensa extensão de terra. Depois do deslumbramento há cinco mil quilômetros, estacionamos e começamos a planejar a missão que nos traria o maior dos prêmios jamais concedidos a qualquer nível de estudiosos: desvendar alguns mistérios daquele lugar desconhecido através de uma tentativa de comunicação com algum dos seres que povoavam aquele planeta.

Muito já havia sido descoberto sobre a longínqua Terra. Tudo graças a tentativas frustradas dos seres pouco dotados de envergadura intelectual que invadiram o nosso território achando que seria impossível qualquer forma de vida no que eles chamaram de Planeta Vermelho. Além da imensa tosquiçe pela suposta descoberta, eles não conseguiram encontrar meios de aproximarem-se, por serem extremamente dependentes da temperatura ambiente para sobreviver.

Depois de algum tempo de pesquisa e estudos grandiosos, resolvemos por bem desenvolver uma estratégia simples. Iríamos escolher qualquer um que passasse por nós. Ele seria levado até o nosso espaço, mostraríamos algumas figuras pra ele, estudaríamos sua reação e o devolveríamos ao lugar onde foi encontrado – com sua memória parcialmente pagada, é claro.

Nos aproximamos com cuidado para que os outros não nos vissem e a nossa tarefa de apagar a memória recente não fosse estendida a uma grande massa. Capturamos a tal figura numa espécie de prisão aberta, que depois descobrimos que eles lá na Terra chamam de rua sem saída. O terráquio era quase uma criança, tinha apenas 68 anos de vida e trazia inseparavelmente com ele uma garrafa de alguma coisa que eu não soube explicar o que era a princípio.

Ele emitia uma série de sons estranhos, enrolava a língua ao falar e gargalhava extremamente alto enquanto entrava no nosso disco. Já sentado, começou a entoar cânticos que imaginamos serem de satisfação pela cara e pelos risos que interrompiam a desafinava voz. Mostramos a ele a primeira da série de imagens preparadas: um mapa de um tal de Brasil.

Ao ver a cena, o terráquio levantou-se, colocou a mão no peito e iniciou uma nova cantoria, com palavras que ele nem mesmo sabia do que se tratava – já que não soube nos explicar. Quando pedimos a ele o que aquilo representava, pegou um dos milhares de globos terrestres que estavam sobre uma bancada, colocou no chão e com o pé deu um empurrão na bola, acertando exatamente o meio das duas pernas que seguravam a mesa. Olhamo-nos assustados enquanto ele gritava algo que parecia uma comemoração.

Depois de aguardarmos ele colocar na boca um pouco do líquido que trazia consigo, colocamos uma segunda imagem: uma terráquia quase nua, muito diferente das roupas esquisitas e furadas que ele usava. Imediatamente ao ver a imagem, o terráquio aproximou-se da bancada cheia de monitores e telas de vídeo e começou a dar leves batidas ritmadas. Depois que descobriu um bom compasso para o som produzido, começou a tranças as pernas e quase encontrou o chão diversas vezes com seu jeito desajeitado. Simpático, começou a nos convidar a tentarmos realizar os mesmos movimentos e a tomarmos um pouco daquele líquido.

Não sabemos exatamente o que aconteceu conosco. Fomos tomados por uma alegria incomensurável e imediatamente aprendemos a fazer os mesmos movimentos que ele apresentava. Esses tal de brasileiros devem ter uma fórmula extremamente eficaz contra uma série de problemas, já que essa certamente é só uma delas.

Nosso convidado está aqui ao lado, emite alguns sons que lembram o ronco da nossa Nave quando está em alta velocidade e está com os olhos fechados.

Acreditamos que ainda temos muito a descobrir sobre esse lugar e, por isso, resolvemos estender por mais um ano a missão. Espero que tenhamos apoio de todo o alto comando.

Equipe Nave 31598

OBS: Já conversamos com o terráquio para levarmos amostras da fórmula para aí. Ele nos disse que um tal de Seu Zé do Boteco poderá nos ajudar. Nos encontraremos com ele amanhã.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Eram os arquitetos astronautas?

Seguiram o objeto por toda a noite. Por mais de uma hora ele sobrevoou a Pedra do Leme. Quando partiu voando em direção ao Pão de Açúcar a equipe de terra sabia que não poderia mais acompanha-lo. Uma equipe anfíbia aguardava de prontidão próximo à Fortaleza de São João e seguiu o objeto quando ele partiu em direção nordeste. Cruzaram o Forte da Boa Viagem esperando que os radares do Santos Dumont não captassem nenhuma atividade. O objeto pairava agora, silencioso, sobre uma pequena península do outro lado da baía. Sem as luzes cintilantes, era quase incógnito a olhos nus. Mas os olhos que o seguiam estavam bem vestidos. Os binóculos de visão noturna denunciavam o objeto mesmo na noite sem lua e os radares de mão captavam as ondas de baixa freqüência que emitia. Nos relatórios constaria um treinamento qualquer em Niterói, mas não seria o capitão que cuidaria da papelada.

Já na praia pedregosa na base da península, ajeitou o uniforme camuflado, e deu ordem aos homens para seguir. O objeto pousaria em breve. Escalaram o pequeno trecho por entre a mata e logo se posicionaram, cercando o objeto que pousava no escuro. A tropa de assalto se aproximou oculta pela mata e pela noite, enquanto os atiradores de elite regulavam as miras telescópicas, procurando por um alvo. Quando já se encontrava próximo à linha das árvores o objeto acendeu algumas luzes auxiliares, que vagavam pelo chão a procura de um lugar adequado. Apesar de débil, a iluminação foi suficiente para divisar os contornos da espaçonave. O disco era fabricado por algum material sem emendas, branco, que brilhava esverdeado através das lentes do binóculo. A circunferência da base era consideravelmente menor que a circunferência da parte superior, forçando as laterais a se erguerem projetadas para fora. Era magnífico! Correndo ao redor de toda a lateral, uma grande faixa de material translúcido permitia que os tripulantes observassem o exterior. Era dali que provinham as luzes que iluminavam o solo agora próximo. O enorme disco pairou bem baixo por alguns minutos, fazendo o capitão se perguntar se haviam sido percebidos. Mas logo, de baixo do disco voador, uma abertura circular surgiu com um chiado lembrando um freio a ar. Um grande cilindro, do mesmo material branco que era composta a nave, baixou de vagar, como um trem de pouso, e tocou o solo. O zunido baixo dos supostos motores cessaram. O OVNI havia pousado. Um comando no rádio pôs os homens a postos. Uma porta se abriu no cilindro que tocava o solo. A equipe de assalto já estava bem perto. Saíram cinco seres de aspecto humanóide da nave. Vestiam uma grossa roupa acolchoada e um capacete que lembrava o formato da nave, com a mesma lateral transparente que permitia a visão. Os homens nem tiveram tempo de apreciar os visitantes. A uma ordem do capitão os rifles silenciosos dos atiradores de elite puseram ao chão, instantaneamente, as cinco criaturas. Todos os homens correram em direção ao disco enquanto a tropa de assalto invadia com fuzis não tão silenciosos. Do lado de fora se ouvia o som abafado das granadas de luz e fumaça e os estampidos secos das armas. Quando o capitão entrou, a nave havia sido tomada.

Por dentro do disco, um vão central hexagonal desnudava quatro pavimentos, de onde, pelas laterais transparentes, tinha-se uma visão de 360º do exterior. Ao sul uma pequenina ilha no mar; ao norte, depois das árvores, a cidade adormecida; e de cada lado, como asas, uma baía que se estendia com uma praia. Do extremo da praia a oeste, o Forte da Boa Viagem observava o novo vizinho com olhos despreocupados. A nave havia sido tomada, a tripulação morta e apagada de registros, os espólios e a tecnologia seriam recolhidos. Todas as provas seriam facilmente destruídas. Mas aquele disco não haveria como esconder. Tanto faz. O transformariam numa igreja ou museu, e diriam que é mais uma maravilha arquitetônica. Se o povo acreditaria? Com os cuidados certos e as devidas alterações, sim. Eles já acreditaram antes. Sim, claro que precisariam de alguém a quem creditar a “autoria”. Mas não teria problema, já tinham um nome em mente. Como tinham certeza que ele não se negaria? Ele não se negou da outra vez, em Brasília.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Vênus ataca!

Thiago Floriano
14 de dezembro de 2007

- Ô, seu venusiano, como o senhor se chama mesmo?
- E.T.. Meu pai era fã de Spielberg.
- Certo. E esse OVNI aí parado no meu quintal, é do senhor?
- Olha, moço. O disco voador é meu sim, mas não é OVNI, eu garanto. Aliás, tenho até os documentos de identificação dele por aqui. Estão em algum lugar...
- Perfeito. Então vamos ao que interessa. O que o senhor quer?
- Bem. Na verdade pousei pra ver se você teria uns pães ou um pacote de arroz pra me ajudar. Meus dois filhos estão no disco e precisam comer. Sabe como é, né?
- Ah, não! Acabei de mandar embora um outro sujeito que me pediu um copo d’água.
- Mas o senhor não tinha água para dar ao pobre homem?
- Ter, tinha. Mas aqui na Terra o negócio não é assim não. Não é só porque o cidadão tem fome ou sede que alguém vai dar alguma coisa pra ele “assim na maior”.
- Ah, entendi. E se eu apontasse esta arma de laser para a sua cabeça?
- SOCORRO! ESTAMOS SENDO ATACADOS POR ALIENÍGENAS ENFURECIDOS! CORRAM! CORRAM!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Escalafobécia

Félix B. Rosumek
11/12/07

Poucos carros passavam pela ampla avenida, como em todos os preguiçosos trânsitos do meio da tarde. Nas mesas da calçada, o garçom atendia aos clientes que se sentavam tranqüilos para momentos descontraídos, no intervalo do trabalho ou no passeio de férias. Alguns pássaros cantavam nas árvores que ornavam a bela e sossegada avenida, como fazem em todo início de estação reprodutiva. As pessoas tomavam café, como fazem todas as pessoas tomadoras de café, desde que as pessoas tomam café.

Um jovem nu correu em meio à avenida, gritando e agitando um cartaz onde se lia "eu acredito NELES" e se via o desenho de um ornitorrinco de fraldas. Assustou o rinoceronte trajado com um belo smoking que saía de seu carro, mas foi esmagado pelo pouso do disco voador multicolorido, juntamente com algumas árvores e uns pássaros azarados que procuravam desesperadamente por uma fêmea. A porta se abriu e os alienígenas saíram, anunciando sua vinda em paz para a Terra. O Capitão Elvis chacoalhou os quadris e começou o show, enquanto Jesus tocava seu baixo alucinadamente. Uma multidão de formigas neoliberais entrou em êxtase e aplaudia com vigor até ser esmagada pelo mosh enlouquecido do guitarrista. As sobreviventes se dispersaram em pânico e foram aspiradas por um tamanduá comunista. Elvis agradeceu a todos e declarou que tinham vindo para levar seus irmãos de volta para casa. Os ornitorrincos, que a tudo assistiam escondidos em um Fusca azul-calcinha, correram felizes para a rampa, acompanhados de Mick Jagger e Marilyn Manson. A nave levantou vôo e uma chipanzé em trajes de bailarina chorou pela morte de seu primo distante, nada mais que uma pasta avermelhada pontilhada por dentes brancos. O rinoceronte consolou-a, e a troca de olhares indicou um tórrido romance por vir. Entraram no carro e saíram cantando pneus, espalhando pasta avermelhada e dentes em um casal de sabiás que, empolgados, copulavam sob os destroços. Limparam-se e a sabiá perguntou para o sabiá se ele ainda sabia assobiar. Ambos riram e prepararam-se para outra rodada de sexo ornitológico.

Na calçada, o garçom, que tudo tinha visto, deu os ombros e ajeitou suas asas. Voltou a servir seus clientes, que pediam uma nova rodada. As pessoas continuaram tomando café, como fazem todas as pessoas tomadoras de café, desde que as pessoas tomam café.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Cordel de Varginha

Fábio Ricardo
11/12/07


Assassinhora, hômi de Deus
Qu’eu vô te falá uma cousa
Dum trem que não tem lá na cidade
Nem o ‘fessor escrinhevi na lousa
É um troço gozado que avoa no céu
E quando se cansa, na terra ele pousa

Ele é redondo e avoa no alto
Gira bem doido e tem luze piscano
Em cima de mim ele tava parado
Eu vi c’os meus óio num tava sonhano
Se vosmicê acha que não é pussíver
Pode acreditá qu’eu num tô te enganano

Eu tava sentado na minha varanda
Bebeno folgado a minha branquinha
Quando vi lá no alto aquilo avoando
Sobre o céu da noite da minha Varginha
Fiquei assustado com aquela fumaça
Que saía da nave, paricia farinha

O disco pousô, ali mais um pouco
E abriu uma porta bem na minha frente
Assustô os bicho que vive na mata
Que fugiro tudo, tal qual repelente
Mas diferente deles, eu sô cabra hômi
Num tenho medo de lobisôme, fantasma ou serpente

De dentro da nave saiu um dimonho
De cabeça grande e óio esbugaiado
Caminhô divagar, parecia um bêbudo
E parou bem pertinho, aqui do meu lado
Ele era nojento, todo brilhoso
E fedia que nem queijo estragado

Ele alevantô a mão e disse uma cousa
Eu que num sô bobo, dei-lhe um murro na testa
Pois bicho assim feio num quero que avenha
Pr'essas banda que senão vira festa
E eu sô cabra macho, já te falei
E defendê minha terra é o que me resta

Mas voltano pro causo qu’eu tô a falá
O bicho caído se pôs a corrê
Entrou assustado na nave redonda
Meio perdido, sem sabê o que fazê
E a nave avoou e foi-se embora
Má que bicho medroso, vá entendê

Depois desse dia, aqui na Varginha
ET num apariceu nunca mais não
Pode ponhá nessa tua entrevista
Que aqui eles agora arrumaro vilão
É um nordestino que se mudô pr’essas terra
Meu nome é Dejair, neto de Lampião

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Tema da rodada

O tema desta rodada é: "discos voadores".

Os textos serão postados até dia 16.

Vamos exercitar a criatividade, galera!

Abraços!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Votação. Tema: Duelo

Esta aberta a votação para os contos do tema "duelo".

E aí, qual o melhor em sua opinião?

Lembrando sempre que só serão válidos os votos assinados, e apenas um conto pode ser eleito por pessoa.

Boa sorte, escritores!

Nòvus Proverbìum

Thiago Floriano
05 de Dezembro de 2007

Àquele que cai na arena
só resta rabiscar na areia

Duelo silencioso

Marina Melz
06/12/2007

- Levantar, hunf... tão difícil.
- Difícil, nada! Olha o sol lindo que faz lá fora.
- Sol? Hum. Talvez.
- Talvez? O que vais ficar fazendo num sábado, sozinha em casa, se não ir lá pra fora?
- Dormir?
- Acabasse de passar 10 horas dormindo.
- Mas essa semana foi tão cansativa...
- Cansativa, nada, mulher! Já passasse por bem piores e tivesse mais disposição.
- Mas, ah, final do ano, né? Todo mundo cansado, de saco cheio.
- Se o ano não tivesse sido muito bom essa até que poderia ser uma desculpa.
- Minhas costas doem, a preguiça me consome e eu quero um brigadeiro com um filme bobo e sem muito o que pensar.
- Já fizesse massagem nas costas, a preguiça te fez ter uma bunda gorda e cheia de celulites. Comesse brigadeiro ontem a noite e já visse todos os filmes idiotas da sessão de comédias românticas da locadora. Agora levanta, vai?!
- Ah, mas é que...
- É que você reclama de tudo, enche o saco de todo mundo e acha que sofre.
- Vai pensar nas crianças da África, também?
- Imagina, coitadinhas...
- Vá se catar. Tenho que manter o otimismo, manter a bunda dura, manter o sorriso na cara, trabalhar, estudar, ser filha, amiga e o caralho a quatro!
- Pára de se fazer, ô metida a Madre Teresa. Tens casa, comida, roupa lavadinha e passada e só o que tu é capaz de fazer é reclamar da vida. Tens é uma bela síndrome de inércia. Quanto mais reclama, mais quer reclamar.
- Tenho é síndrome de dupla personalidade constante. Enquanto você me torra a paciência eu só queria ficar na fossa um pouco.
- Faça me o fav...
- Pronto. Quis teimar e te tirei, ô máscara de pessoa legal. Cadê o leite condensado?

A Cidade de Bronze*

Fábio Ricardo
05/12/2007
*Livremente baseado em passagem do romance A Cidade de Bronze, de 1998, escrita por Fábio Ricardo, Félix Rosumek, Douglas de Amorim e Niclas Mund.


Até mesmo o mais temido dos guerreiros teria receio daquele combate. A visão dos dois minotauros, armados com enormes machados de batalha era assustadora. O maior chegava aos dois metros e meio, enquanto o outro tinha cerca de 20 centímetros a menos que ele, ambos com armas afiadas e músculos prontos para destruir o grupo de aventureiros.

Garth foi o primeiro a agir, posicionando-se em frente a sua equipe e liberando o poder mágico de sua armadura, fazendo espinhos surgirem na superfície da couraça metálica. O grupo tinha a sorte de contar com a superioridade numérica, mesmo que seus membros fossem fisicamente inócuos contra duas criaturas tão fortes. Darien, Vhati e Baris correram em direção aos monstros, enquanto os místicos Andreas e Avram entoavam suas canções evocando as forças da natureza, a uma distância mais segura.

O minotauro maior avançou na direção de Garth, que o aguardava vestido em sua magnífica armadura negra, dotada de grandes poderes. Apenas um golpe foi necessário para lançar o guerreiro contra a parede oposta, deixando-o temporariamente fora de combate. Sem dúvidas, os aventureiros não tinham noção do poder que estavam enfrentando naquele labirinto esquecido há tantos anos. O outro minotauro correu em direção de Darien, com os chifres tentando acertar seu tronco. Um movimento rápido salvou a vida do guerreiro, que desviou da investida e conseguiu ainda desferir um golpe na perna da besta.

Avram, em um movimento circular dos braços, fez alguns gestos com a mão direita, de onde surgem três pequenos dardos feitos de gelo, que são lançados em direção ao minotauro menor. Andreas aproveitou o ataque do companheiro para gritar um palavra em uma língua já morta, disparando um raio de energia que sai de suas mãos unidas diretamente contra o peito do minotauro que acabara de ser atingido. O minotauro perde o equilibrio, balança para trás e abre a guarda para o jovem Vhati, que salta na direção do monstro e desfere um golpe de espada que sangra a face da criatura.

No fundo da sala, Garth levanta-se, observa atentamente a localização de cada um dos monstros e desenrola as correntes que a armadura trazia unida a seus braços. Criando uma espécie de chicote, golpeia o grande minotauro por duas vezes, e consegue enrolar as mãos da besta com as duas correntes. Em resposta, o monstro começa a girar o corpo freneticamente, arremessando Garth do local onde estava para a parede oposta. A criatura, meio homem e meio touro, ruge para os céus e corre na direção do adversário.

Do outro lado da sala, o minotauro mais baixo atinge Vhati no braço, causando um grave ferimento, mas que não é o suficiente para tirar o jovem do combate. Andreas intercede antes que o minotauro atinja novamente Vhati, lançando contra ele um punhal, que crava profundamente no ombro direito da criatura. O monstro investe com fúria contra o mago, que tenta desviar, mas acaba atingido nas pernas, o que o derruba no canto da sala. Baris corre em seu socorro, cravando a sua espada nas costas da besta.

Das mãos de Avram, mais três dardos de gelo são lançados contra os monstros, que são atingidos mas continuam de pé. Darien tenta atingir o minotauro mais baixo em uma nova investida, mas o monstro bloqueia seu golpe com o machado, revidando em seguida. Quando o grande machado estava próximo de atingir a cabeça de Darien, Garth, ainda no chão, lança as correntes de sua armadura, que se enrolam nas pernas do monstro o fazendo cair. Um novo ataque com as correntes faz com que uma prenda as pernas e a outra se enrole no pescoço do minotauro, sufocando a fera.

Andreas, que assistia tudo a certa distância, conjura novamente suas energias místicas e dispara um raio de energia contra o monstro caído no chão. Baris vê o monstro caído e pula com os dois pés sobre o peito da fera, vira a ponta de sua espada para baixo e crava a lâmina afiada no peito do monstro. Um urro de dor ecoa pelas paredes, quando o monstro entrega suas últimas energias.

Enquanto isso, o minotauro maior investe em alta velocidade contra o mago Avram. Garth vê a cena e tenta impedir, mas com as correntes presas no corpo do outro monstro, não pode fazer nada. O machado zumbe no ar e atinge o lado direito do crânio do místico, que com sua frágil resistência física, padece sobre o solo. Garth levanta-se com um grito, largando o corpo já sem vida da besta que havia derrotado. Com uma ordem mental, enrola as duas correntes formando um cabo de metal retorcido, e golpeia o monstro pelas costas. O golpe acerta o minotauro na cabeça, e este cai de joelhos, sem ação.

Baris corre na direção do monstro, do outro lado da sala, e Vhati golpeia a criatura na altura da nuca. Ainda resistindo, a besta se levanta a tempo de defender os golpes de Darien, que atacava em seguida. Andreas corre em socorro ao amigo místico, que não tinha conseguido resistir. Já era tarde para o corpo daquele que, por tantos anos, defendeu a vida dos outros integrantes de sua equipe.

Garth utiliza as correntes para atingir novamente o minotauro, que não consegue se defender do poderoso golpe. A força das correntes desequilibra novamente o monstro, que balança o corpo para trás, deixando sua arma cair. Baris o atinge de raspão, e a fera revida com socos e chutes. O minotauro segura o guerreiro com as duas mãos e o ergue sobre a cabeça, antes de jogá-lo do outro lado da sala. Garth aproveita o momento de distração do minotauro e enrosca seu corpo com as duas correntes. A besta tenta se livrar de sua prisão, mas não obtém sucesso. Andreas concentra todo o seu poder nas palavras místicas aprendidas com seu mestre quando jovem e grita de dor quando sente a energia partindo de seu corpo na direção do monstro. A bola de fogo que se formou atravessa a sala em uma questão de segundos, e explode em chamas contra o monstro aprisionado. Vhati se agacha e atinge com um só golpe os dois tornozelos da fera, que cai no chão.

Baris sobe sobre o corpo de mais uma besta e desfere um golpe de espada que trespassa o pescoço do minotauro, fazendo com que a cabeça da fera caia para trás. O sangue do monstro se espalha pelo chão enquanto os heróis desabam em sua dor. Vhati arranca a manga da camisa e vê a gravidade do corte. Seu braço deverá ser colocado em uma tipóia pelas próximas semanas. Garth senta-se no chão, exausto. Andreas percebe que toda sua força se esvaiu quando lançou sua mais poderosa magia. Agora podia notar o sangue escorrendo por suas orelhas e narinas. Baris e Darien correm na direção do amigo morto, que não conseguiu resistir a um combate tão intenso. Baris iniciou uma oração aos deuses, enquanto Darien embainhava a espada, sabendo que já deveriam partir antes de amanhecer, pois mais criaturas destas poderiam aparecer a qualquer instante...

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Deserto morto

02/12/07

Eu já estivera naquele lugar infinitas vezes. E sempre era a mesma coisa. Nada nos cercava, apenas a vastidão vazia. Uma terra desolada, um céu sem cores. A alguns metros de distância, ele me encarava, Despidos de tudo, nos confrontávamos. O deserto morto era nossa arena. Nossas armas, nossas palavras. Nossos escudos, nossa força de vontade. A falta desta, nossa mais exposta vulnerabilidade.
- Você vai voltar – ele disse.
- Como você tem tanta certeza? – repliquei friamente.
Ele abriu mais o sorriso cínico com o qual me observava. Eu sentia seus olhos penetrando fundo na minha alma, como se ela estivesse tão nua quanto meu corpo. E ele sabia disso.
- Eu posso ver, meu caro. Este é seu mais profundo desejo. Está enraizado no seu espírito.
- O que é meu eu posso mudar – minhas respostas eram rápidas, curtas. Ele tentava me atingir com sua retórica, eu defletia seus golpes com minha secura.
- Sem dúvida você pode! Tudo o que é seu você pode mudar. Afinal, não há nada nem ninguém, nenhuma ordem universal, que lhe diga o que fazer e sobreponha sua vontade!
- Exato. Nem você.
- Mas a chave é exatamente essa: vontade. Você pode pensar em mudar, mas você quer mudar?
- Minhas escolhas são minhas, e só eu sei se quero ou não tomá-las!
- ERRADO! – ele gritou. Aproximou-se e me rodeou enquanto sibilava.
- Você não tem segredos para mim e sabe disso. A qual tolo está tentando iludir? A mim? Desista! A algum observador? Não vejo platéia alguma aqui para você enganar com sua falsa determinação. Se estiver tentando enganar alguém, só se for a si mesmo!
Não consegui reagir rápido desta vez. Ele aproveitou o instante de silêncio para renovar o ataque.
- Você vai voltar, e eu sei disso. Por quê? É simples: porque é lá que tudo lhe espera.
Não, não podia ser assim... Eu tinha que reagir, mas ele não parava.
- Porque aqui... Aqui você não tem nada!
- Agora é você que está errado! – exclamei com força renovada. Mas o sorriso não abandonou seu rosto.
- Estou, é?
- Sim! Aqui eu tenho alguma coisa.
Ele apenas me fitou ironicamente.
- Aqui eu tenho ELA!
Ficou um tempo quieto. Achei que o tinha atingido, finalmente. Mas logo ele explodiu numa gargalhada.
- Ela? Ela??? Sim, aqui você a tem! Mas é só o que tem! E me diga uma coisa: ela, apenas ela, vale não ter mais nada???
Diante de seu grito, desviei os olhos. Pela primeira vez, minha voz saiu gaguejada, hesitante.
- E-eu... não sei...
- Há, há, há! Eu sei que você não sabe, pobre miserável! Em momento algum você pôde me enganar! Talvez você não saiba quem é, e o que deseja, mas EU SEI! E vejo suas dúvidas, suas mais profundas e estúpidas fragilidades, com a clareza do mais puro dos cristais! Você não pode me ludibriar, meu caro. Nosso embate chegou ao fim...
Minha cabeça estava baixa. Nada pude falar por um longo tempo. Ele deu as costas e caminhava triunfalmente para o horizonte. Não... Aquilo não podia acabar assim. Por mim, e por ela, eu tinha que lutar!
- Não acabou ainda! Você não vai vencer tão facilmente!
Ele parou e voltou-se lentamente. Seus olhos brilhavam e sua boca ainda carregava aquele sorriso, ah!, aquele maldito esgar de crueldade e cinismo, com o qual rasgava minhas defesas e perscrutava meus pensamentos! Sua expressão não negava: ele não tinha a menor dúvida de que, após tudo, iria me derrotar, e que meus esforços nada mais eram que o estrebuchar morto-vivo de um inseto esmagado em suas mãos...
A batalha prosseguiu por eras, éons, tempos e universos inteiros nascendo e colapsando diante de nossos desafios. A minha decisão final, se me mantive forte ou se cedi ao seu vil palavreado, não interessa, no fim das contas. Declarei-a com um sorriso e uma expressão segura, manto perfeito que recobria os despojos do confronto. Afinal, não existem vencedores ou perdedores numa batalha, quando se enfrenta o mais temido dos inimigos e se duela consigo mesmo.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Duelo de Escritores

A grama reclamava com estalidos gélidos sob a cristalina capa que abraçava as folhas ainda adormecidas naquela manhã fria. Do nevoeiro baixo que cobria o solo, se erguia uma figura sombria, protegida do frio pelo sobretudo escuro. O respirar lançava nuvens por sob o bigode meticulosamente aparado. E sob as sobrancelhas escuras, dois olhos soturnos perscrutavam a neblina. Aguardava paciente, segurando a maleta pendente em uma mão enluvada enquanto a outra procurava abrigo no interior do bolso. Aguardava o tempo passar aquecendo a memória com a lembrança de um barril de Amontillado. Às exatas seis horas um novo vulto divisou-se além da neblina. Cada passo estraçalhava a grama fria e quebradiça. Mais uns passos e fez-se visível a figura esguia. Uma testa proeminente e alta encimava-lhe a fronte, donde pendiam para trás as já não tão vastas madeixas, em longas ondas até a altura do maxilar. Um bigode desenhava-se sobre o lábio superior enquanto um tufo de barba pendurava-se do inferior. As duas figuras olharam-se e, com um movimento de cabeça, cumprimentaram-se.

— Bons dias, Mestre William — disse o homem que aguardava com a maleta.

— Se bons fossem os dias, estaríamos nós a ensaiar uma comédia e não a atuar uma tragédia, Edgar.

— A tragédia fostes vós que escrevestes. A mim cabe apenas dirigi-la e assisti-la.

— Pois prepara a platéia que ora chega mais um ator. Quem vem lá, que singra o nevoeiro qual espectro assombrado?

Silenciosa, a figura surgiu da neblina como quem vem de outro mundo. No alto da cabeça um chapéu marcava-lhe a silhueta, no pescoço uma gravata borboleta fechava-lhe o colarinho engomado. Por trás do par de óculos tremeluziam olhos serenos, mas que continham uma miríade de olhares, como uma represa que sustenta calmamente águas revoltas, mas que pode romper-se a qualquer momento.

— Acalma-te, bardo, que não é espectro que se aproxima. Já não há tanto entre o céu e a terra. Não é fantasma régio que chega, é teu algoz que se apresenta em Pessoa — provocou o recém-chegado.

— Pois vem, biltre, que se hoje és Montecchio, sou Capuleto.

— Chama-me como quiseres, que nomes não me faltam.

Os dois acercaram-se, os olhares trocando insultos. O homem da maleta aproximou-se, abriu a valise e entregou a cada um dos oponentes uma longa adaga. Os dois combatentes guardaram distância enquanto o portador da maleta se afastava com ela vazia. Em algum lugar um corvo crocitava um malfadado epílogo. Ao fim do dia apenas um dos antagonistas retornaria para casa. O outro, nunca mais.

— Pronto, inglês, cá estou de pena em punho. Empresta-me o pergaminho do teu couro, que tenho poemas a escrever.

— Medida por medida, português. Se queres domar o papel, é preciso aprender a usar a caneta. Em ti, a vida já é apenas uma sombra ambulante, cheia de fúria e muito barulho, mas que nada significa.

— Teus versos são profundos, mas os escritos de tua lâmina são rasos. Vê, sou ainda página em branco.

— Cão vil, mordes o polegar para mim? Quem és para confrontar-me com tal desonra? Acaso escrevestes sob o égide da Rainha Virgem? Acaso escrevestes para reis?

— Se é Reis que queres, Mestre William, Reis terás. Vem, Ricardo, que Shakespeare te espera!

Por trás dos óculos fulgurou um brilho intenso e o nevoeiro ao redor do poeta dançou. De trás de sua imagem surgiu, como vindo de um mundo de sombras, outro homem. Lado a lado, mal podia-se dizer quem era quem. Não fosse pela ausência dos óculos, os dois homens seriam iguais.

— Traz reforço, poeta? Pois bem! Se tu trais-me com novo combatente, traio-te com um conterrâneo. É agora, José!

Um estampido soou seco na manhã e Ricardo Reis pôs-se ao chão, com o sangue quente derretendo o orvalho sobre o solo. Da neblina, mais uma silhueta se aproximava. Os cabelos ralos e prateados se misturavam à neblina branca, e os óculos de lentes grandes protegiam os olhos tristes. Na mão magra uma velha pistola espanhola cuspia a fumaça acinzentada.

— Traição! — gritou o poeta português — E pelas mãos de um conterrâneo! Matastes Ricardo Reis.

— Se o matei foi para que outro Pessoa não morresse. Cessem, nobres senhores, essa lúgubre peleja. Pouco importam as ofensas passadas, se no fim Todos os Nomes se reúnirão como iguais. Cessem a tragédia, cessem este ensaio. Acaso a cegueira cercou-lhes os sentidos?

O americano que a tudo assistia, se aproximou sombrio. Abriu a maleta e estendeu-a aos duelistas:

— Senhores, abandonai a máscara rubra da morte. Estas cercanias da rua Morgue já têm crimes suficientes.

Os quatro trocaram olhares. Os olhos sombrios de Poe, os tristes de Saramago, os serenos de Pessoa e os inquietos de Shakespeare.

— Chega de mortes, que o Pastor já se ri — insistiu Saramago, deixando cair a pistola.

— Pois bem. Nem tudo vale a pena — declamou Pessoa, depositando a adaga afiada na maleta que Poe oferecia.

— Vamos, Shakespeare. Abandona a Tempestade e deixa à alma uma noite de verão — reforçou Poe.

— Todas as noites de verão são sonhos — retrucou o bardo. E com um movimento rápido, lavou-se da culpa de Macbeth e cravou a lâmina fria no abdome de Pessoa. Todos os olhos eram agora de surpresa. Inclusive os de Shakespeare, ao ver o poeta com a adaga cravada no corpo, mas ainda de pé. A morte parecia ter tido a sua intermitência. Sem respostas e sem palavras, os quatros deram as costas uns aos outros e se perderam de novo no nevoeiro.se ri — insistiu Saramago deixando cair ao chos serenos de Pessoa e os inquietos de Shakespeare.

sábado, 1 de dezembro de 2007

TEMA DA RODADA

O NOVO TEMA É:

DUELO!

PARTICIPANTES TÊM ATÉ O DIA 06/12/2007 PARA POSTAR SEUS TEMAS.

ABRAÇOS!!