sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Tema para as férias

Isso mesmo, o Duelo de Escritores entra em férias essa semana, mas não deixa de criar por causa disso. A rodada será extendida, e ao invés de terminar no dia 30, irá terminar apenas no dia 10 de janeiro, juntando duas rodadas em uma só.

Mais tempo para os duelistas escreverem, mais tempo para os leitores votarem!

Assim, os duelistas deverão postar seus textos com o prazo máximo do dia 6 de janeiro.

E como férias é tempo de voltar a ser criança, aí vai o tema desta rodada:

"Fábula infantil".

Divirtam-se!

domingo, 16 de dezembro de 2007

Votação "Discos Voadores"

Está aberta a temporada de votação para o tema: "Discos Voadores"

O prazo máximo é dia 20/dez/2007.

No dia 21, conheceremos o novo tema, que será nosso tema de férias.

Abraços e bons votos! (fazendo um trocadilho com votos de feliz natal e ano novo!)

Diário de bordo - Nave 31598

Por Marina Melz
16/12/2007


De: Nave 31598 – Missão Terra
Para: Comando Geral de Missões Espaciais
Assunto: Diário de bordo

Caro comando,

Quando chegamos, tudo parecia exatamente como nos informaram nossos superiores. Mesmo de longe, víamos um grande território verde e muitas valas, que iam de norte a sul da imensa extensão de terra. Depois do deslumbramento há cinco mil quilômetros, estacionamos e começamos a planejar a missão que nos traria o maior dos prêmios jamais concedidos a qualquer nível de estudiosos: desvendar alguns mistérios daquele lugar desconhecido através de uma tentativa de comunicação com algum dos seres que povoavam aquele planeta.

Muito já havia sido descoberto sobre a longínqua Terra. Tudo graças a tentativas frustradas dos seres pouco dotados de envergadura intelectual que invadiram o nosso território achando que seria impossível qualquer forma de vida no que eles chamaram de Planeta Vermelho. Além da imensa tosquiçe pela suposta descoberta, eles não conseguiram encontrar meios de aproximarem-se, por serem extremamente dependentes da temperatura ambiente para sobreviver.

Depois de algum tempo de pesquisa e estudos grandiosos, resolvemos por bem desenvolver uma estratégia simples. Iríamos escolher qualquer um que passasse por nós. Ele seria levado até o nosso espaço, mostraríamos algumas figuras pra ele, estudaríamos sua reação e o devolveríamos ao lugar onde foi encontrado – com sua memória parcialmente pagada, é claro.

Nos aproximamos com cuidado para que os outros não nos vissem e a nossa tarefa de apagar a memória recente não fosse estendida a uma grande massa. Capturamos a tal figura numa espécie de prisão aberta, que depois descobrimos que eles lá na Terra chamam de rua sem saída. O terráquio era quase uma criança, tinha apenas 68 anos de vida e trazia inseparavelmente com ele uma garrafa de alguma coisa que eu não soube explicar o que era a princípio.

Ele emitia uma série de sons estranhos, enrolava a língua ao falar e gargalhava extremamente alto enquanto entrava no nosso disco. Já sentado, começou a entoar cânticos que imaginamos serem de satisfação pela cara e pelos risos que interrompiam a desafinava voz. Mostramos a ele a primeira da série de imagens preparadas: um mapa de um tal de Brasil.

Ao ver a cena, o terráquio levantou-se, colocou a mão no peito e iniciou uma nova cantoria, com palavras que ele nem mesmo sabia do que se tratava – já que não soube nos explicar. Quando pedimos a ele o que aquilo representava, pegou um dos milhares de globos terrestres que estavam sobre uma bancada, colocou no chão e com o pé deu um empurrão na bola, acertando exatamente o meio das duas pernas que seguravam a mesa. Olhamo-nos assustados enquanto ele gritava algo que parecia uma comemoração.

Depois de aguardarmos ele colocar na boca um pouco do líquido que trazia consigo, colocamos uma segunda imagem: uma terráquia quase nua, muito diferente das roupas esquisitas e furadas que ele usava. Imediatamente ao ver a imagem, o terráquio aproximou-se da bancada cheia de monitores e telas de vídeo e começou a dar leves batidas ritmadas. Depois que descobriu um bom compasso para o som produzido, começou a tranças as pernas e quase encontrou o chão diversas vezes com seu jeito desajeitado. Simpático, começou a nos convidar a tentarmos realizar os mesmos movimentos e a tomarmos um pouco daquele líquido.

Não sabemos exatamente o que aconteceu conosco. Fomos tomados por uma alegria incomensurável e imediatamente aprendemos a fazer os mesmos movimentos que ele apresentava. Esses tal de brasileiros devem ter uma fórmula extremamente eficaz contra uma série de problemas, já que essa certamente é só uma delas.

Nosso convidado está aqui ao lado, emite alguns sons que lembram o ronco da nossa Nave quando está em alta velocidade e está com os olhos fechados.

Acreditamos que ainda temos muito a descobrir sobre esse lugar e, por isso, resolvemos estender por mais um ano a missão. Espero que tenhamos apoio de todo o alto comando.

Equipe Nave 31598

OBS: Já conversamos com o terráquio para levarmos amostras da fórmula para aí. Ele nos disse que um tal de Seu Zé do Boteco poderá nos ajudar. Nos encontraremos com ele amanhã.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Eram os arquitetos astronautas?

Seguiram o objeto por toda a noite. Por mais de uma hora ele sobrevoou a Pedra do Leme. Quando partiu voando em direção ao Pão de Açúcar a equipe de terra sabia que não poderia mais acompanha-lo. Uma equipe anfíbia aguardava de prontidão próximo à Fortaleza de São João e seguiu o objeto quando ele partiu em direção nordeste. Cruzaram o Forte da Boa Viagem esperando que os radares do Santos Dumont não captassem nenhuma atividade. O objeto pairava agora, silencioso, sobre uma pequena península do outro lado da baía. Sem as luzes cintilantes, era quase incógnito a olhos nus. Mas os olhos que o seguiam estavam bem vestidos. Os binóculos de visão noturna denunciavam o objeto mesmo na noite sem lua e os radares de mão captavam as ondas de baixa freqüência que emitia. Nos relatórios constaria um treinamento qualquer em Niterói, mas não seria o capitão que cuidaria da papelada.

Já na praia pedregosa na base da península, ajeitou o uniforme camuflado, e deu ordem aos homens para seguir. O objeto pousaria em breve. Escalaram o pequeno trecho por entre a mata e logo se posicionaram, cercando o objeto que pousava no escuro. A tropa de assalto se aproximou oculta pela mata e pela noite, enquanto os atiradores de elite regulavam as miras telescópicas, procurando por um alvo. Quando já se encontrava próximo à linha das árvores o objeto acendeu algumas luzes auxiliares, que vagavam pelo chão a procura de um lugar adequado. Apesar de débil, a iluminação foi suficiente para divisar os contornos da espaçonave. O disco era fabricado por algum material sem emendas, branco, que brilhava esverdeado através das lentes do binóculo. A circunferência da base era consideravelmente menor que a circunferência da parte superior, forçando as laterais a se erguerem projetadas para fora. Era magnífico! Correndo ao redor de toda a lateral, uma grande faixa de material translúcido permitia que os tripulantes observassem o exterior. Era dali que provinham as luzes que iluminavam o solo agora próximo. O enorme disco pairou bem baixo por alguns minutos, fazendo o capitão se perguntar se haviam sido percebidos. Mas logo, de baixo do disco voador, uma abertura circular surgiu com um chiado lembrando um freio a ar. Um grande cilindro, do mesmo material branco que era composta a nave, baixou de vagar, como um trem de pouso, e tocou o solo. O zunido baixo dos supostos motores cessaram. O OVNI havia pousado. Um comando no rádio pôs os homens a postos. Uma porta se abriu no cilindro que tocava o solo. A equipe de assalto já estava bem perto. Saíram cinco seres de aspecto humanóide da nave. Vestiam uma grossa roupa acolchoada e um capacete que lembrava o formato da nave, com a mesma lateral transparente que permitia a visão. Os homens nem tiveram tempo de apreciar os visitantes. A uma ordem do capitão os rifles silenciosos dos atiradores de elite puseram ao chão, instantaneamente, as cinco criaturas. Todos os homens correram em direção ao disco enquanto a tropa de assalto invadia com fuzis não tão silenciosos. Do lado de fora se ouvia o som abafado das granadas de luz e fumaça e os estampidos secos das armas. Quando o capitão entrou, a nave havia sido tomada.

Por dentro do disco, um vão central hexagonal desnudava quatro pavimentos, de onde, pelas laterais transparentes, tinha-se uma visão de 360º do exterior. Ao sul uma pequenina ilha no mar; ao norte, depois das árvores, a cidade adormecida; e de cada lado, como asas, uma baía que se estendia com uma praia. Do extremo da praia a oeste, o Forte da Boa Viagem observava o novo vizinho com olhos despreocupados. A nave havia sido tomada, a tripulação morta e apagada de registros, os espólios e a tecnologia seriam recolhidos. Todas as provas seriam facilmente destruídas. Mas aquele disco não haveria como esconder. Tanto faz. O transformariam numa igreja ou museu, e diriam que é mais uma maravilha arquitetônica. Se o povo acreditaria? Com os cuidados certos e as devidas alterações, sim. Eles já acreditaram antes. Sim, claro que precisariam de alguém a quem creditar a “autoria”. Mas não teria problema, já tinham um nome em mente. Como tinham certeza que ele não se negaria? Ele não se negou da outra vez, em Brasília.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Vênus ataca!

Thiago Floriano
14 de dezembro de 2007

- Ô, seu venusiano, como o senhor se chama mesmo?
- E.T.. Meu pai era fã de Spielberg.
- Certo. E esse OVNI aí parado no meu quintal, é do senhor?
- Olha, moço. O disco voador é meu sim, mas não é OVNI, eu garanto. Aliás, tenho até os documentos de identificação dele por aqui. Estão em algum lugar...
- Perfeito. Então vamos ao que interessa. O que o senhor quer?
- Bem. Na verdade pousei pra ver se você teria uns pães ou um pacote de arroz pra me ajudar. Meus dois filhos estão no disco e precisam comer. Sabe como é, né?
- Ah, não! Acabei de mandar embora um outro sujeito que me pediu um copo d’água.
- Mas o senhor não tinha água para dar ao pobre homem?
- Ter, tinha. Mas aqui na Terra o negócio não é assim não. Não é só porque o cidadão tem fome ou sede que alguém vai dar alguma coisa pra ele “assim na maior”.
- Ah, entendi. E se eu apontasse esta arma de laser para a sua cabeça?
- SOCORRO! ESTAMOS SENDO ATACADOS POR ALIENÍGENAS ENFURECIDOS! CORRAM! CORRAM!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Escalafobécia

Félix B. Rosumek
11/12/07

Poucos carros passavam pela ampla avenida, como em todos os preguiçosos trânsitos do meio da tarde. Nas mesas da calçada, o garçom atendia aos clientes que se sentavam tranqüilos para momentos descontraídos, no intervalo do trabalho ou no passeio de férias. Alguns pássaros cantavam nas árvores que ornavam a bela e sossegada avenida, como fazem em todo início de estação reprodutiva. As pessoas tomavam café, como fazem todas as pessoas tomadoras de café, desde que as pessoas tomam café.

Um jovem nu correu em meio à avenida, gritando e agitando um cartaz onde se lia "eu acredito NELES" e se via o desenho de um ornitorrinco de fraldas. Assustou o rinoceronte trajado com um belo smoking que saía de seu carro, mas foi esmagado pelo pouso do disco voador multicolorido, juntamente com algumas árvores e uns pássaros azarados que procuravam desesperadamente por uma fêmea. A porta se abriu e os alienígenas saíram, anunciando sua vinda em paz para a Terra. O Capitão Elvis chacoalhou os quadris e começou o show, enquanto Jesus tocava seu baixo alucinadamente. Uma multidão de formigas neoliberais entrou em êxtase e aplaudia com vigor até ser esmagada pelo mosh enlouquecido do guitarrista. As sobreviventes se dispersaram em pânico e foram aspiradas por um tamanduá comunista. Elvis agradeceu a todos e declarou que tinham vindo para levar seus irmãos de volta para casa. Os ornitorrincos, que a tudo assistiam escondidos em um Fusca azul-calcinha, correram felizes para a rampa, acompanhados de Mick Jagger e Marilyn Manson. A nave levantou vôo e uma chipanzé em trajes de bailarina chorou pela morte de seu primo distante, nada mais que uma pasta avermelhada pontilhada por dentes brancos. O rinoceronte consolou-a, e a troca de olhares indicou um tórrido romance por vir. Entraram no carro e saíram cantando pneus, espalhando pasta avermelhada e dentes em um casal de sabiás que, empolgados, copulavam sob os destroços. Limparam-se e a sabiá perguntou para o sabiá se ele ainda sabia assobiar. Ambos riram e prepararam-se para outra rodada de sexo ornitológico.

Na calçada, o garçom, que tudo tinha visto, deu os ombros e ajeitou suas asas. Voltou a servir seus clientes, que pediam uma nova rodada. As pessoas continuaram tomando café, como fazem todas as pessoas tomadoras de café, desde que as pessoas tomam café.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Cordel de Varginha

Fábio Ricardo
11/12/07


Assassinhora, hômi de Deus
Qu’eu vô te falá uma cousa
Dum trem que não tem lá na cidade
Nem o ‘fessor escrinhevi na lousa
É um troço gozado que avoa no céu
E quando se cansa, na terra ele pousa

Ele é redondo e avoa no alto
Gira bem doido e tem luze piscano
Em cima de mim ele tava parado
Eu vi c’os meus óio num tava sonhano
Se vosmicê acha que não é pussíver
Pode acreditá qu’eu num tô te enganano

Eu tava sentado na minha varanda
Bebeno folgado a minha branquinha
Quando vi lá no alto aquilo avoando
Sobre o céu da noite da minha Varginha
Fiquei assustado com aquela fumaça
Que saía da nave, paricia farinha

O disco pousô, ali mais um pouco
E abriu uma porta bem na minha frente
Assustô os bicho que vive na mata
Que fugiro tudo, tal qual repelente
Mas diferente deles, eu sô cabra hômi
Num tenho medo de lobisôme, fantasma ou serpente

De dentro da nave saiu um dimonho
De cabeça grande e óio esbugaiado
Caminhô divagar, parecia um bêbudo
E parou bem pertinho, aqui do meu lado
Ele era nojento, todo brilhoso
E fedia que nem queijo estragado

Ele alevantô a mão e disse uma cousa
Eu que num sô bobo, dei-lhe um murro na testa
Pois bicho assim feio num quero que avenha
Pr'essas banda que senão vira festa
E eu sô cabra macho, já te falei
E defendê minha terra é o que me resta

Mas voltano pro causo qu’eu tô a falá
O bicho caído se pôs a corrê
Entrou assustado na nave redonda
Meio perdido, sem sabê o que fazê
E a nave avoou e foi-se embora
Má que bicho medroso, vá entendê

Depois desse dia, aqui na Varginha
ET num apariceu nunca mais não
Pode ponhá nessa tua entrevista
Que aqui eles agora arrumaro vilão
É um nordestino que se mudô pr’essas terra
Meu nome é Dejair, neto de Lampião

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Tema da rodada

O tema desta rodada é: "discos voadores".

Os textos serão postados até dia 16.

Vamos exercitar a criatividade, galera!

Abraços!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Votação. Tema: Duelo

Esta aberta a votação para os contos do tema "duelo".

E aí, qual o melhor em sua opinião?

Lembrando sempre que só serão válidos os votos assinados, e apenas um conto pode ser eleito por pessoa.

Boa sorte, escritores!

Nòvus Proverbìum

Thiago Floriano
05 de Dezembro de 2007

Àquele que cai na arena
só resta rabiscar na areia

Duelo silencioso

Marina Melz
06/12/2007

- Levantar, hunf... tão difícil.
- Difícil, nada! Olha o sol lindo que faz lá fora.
- Sol? Hum. Talvez.
- Talvez? O que vais ficar fazendo num sábado, sozinha em casa, se não ir lá pra fora?
- Dormir?
- Acabasse de passar 10 horas dormindo.
- Mas essa semana foi tão cansativa...
- Cansativa, nada, mulher! Já passasse por bem piores e tivesse mais disposição.
- Mas, ah, final do ano, né? Todo mundo cansado, de saco cheio.
- Se o ano não tivesse sido muito bom essa até que poderia ser uma desculpa.
- Minhas costas doem, a preguiça me consome e eu quero um brigadeiro com um filme bobo e sem muito o que pensar.
- Já fizesse massagem nas costas, a preguiça te fez ter uma bunda gorda e cheia de celulites. Comesse brigadeiro ontem a noite e já visse todos os filmes idiotas da sessão de comédias românticas da locadora. Agora levanta, vai?!
- Ah, mas é que...
- É que você reclama de tudo, enche o saco de todo mundo e acha que sofre.
- Vai pensar nas crianças da África, também?
- Imagina, coitadinhas...
- Vá se catar. Tenho que manter o otimismo, manter a bunda dura, manter o sorriso na cara, trabalhar, estudar, ser filha, amiga e o caralho a quatro!
- Pára de se fazer, ô metida a Madre Teresa. Tens casa, comida, roupa lavadinha e passada e só o que tu é capaz de fazer é reclamar da vida. Tens é uma bela síndrome de inércia. Quanto mais reclama, mais quer reclamar.
- Tenho é síndrome de dupla personalidade constante. Enquanto você me torra a paciência eu só queria ficar na fossa um pouco.
- Faça me o fav...
- Pronto. Quis teimar e te tirei, ô máscara de pessoa legal. Cadê o leite condensado?

A Cidade de Bronze*

Fábio Ricardo
05/12/2007
*Livremente baseado em passagem do romance A Cidade de Bronze, de 1998, escrita por Fábio Ricardo, Félix Rosumek, Douglas de Amorim e Niclas Mund.


Até mesmo o mais temido dos guerreiros teria receio daquele combate. A visão dos dois minotauros, armados com enormes machados de batalha era assustadora. O maior chegava aos dois metros e meio, enquanto o outro tinha cerca de 20 centímetros a menos que ele, ambos com armas afiadas e músculos prontos para destruir o grupo de aventureiros.

Garth foi o primeiro a agir, posicionando-se em frente a sua equipe e liberando o poder mágico de sua armadura, fazendo espinhos surgirem na superfície da couraça metálica. O grupo tinha a sorte de contar com a superioridade numérica, mesmo que seus membros fossem fisicamente inócuos contra duas criaturas tão fortes. Darien, Vhati e Baris correram em direção aos monstros, enquanto os místicos Andreas e Avram entoavam suas canções evocando as forças da natureza, a uma distância mais segura.

O minotauro maior avançou na direção de Garth, que o aguardava vestido em sua magnífica armadura negra, dotada de grandes poderes. Apenas um golpe foi necessário para lançar o guerreiro contra a parede oposta, deixando-o temporariamente fora de combate. Sem dúvidas, os aventureiros não tinham noção do poder que estavam enfrentando naquele labirinto esquecido há tantos anos. O outro minotauro correu em direção de Darien, com os chifres tentando acertar seu tronco. Um movimento rápido salvou a vida do guerreiro, que desviou da investida e conseguiu ainda desferir um golpe na perna da besta.

Avram, em um movimento circular dos braços, fez alguns gestos com a mão direita, de onde surgem três pequenos dardos feitos de gelo, que são lançados em direção ao minotauro menor. Andreas aproveitou o ataque do companheiro para gritar um palavra em uma língua já morta, disparando um raio de energia que sai de suas mãos unidas diretamente contra o peito do minotauro que acabara de ser atingido. O minotauro perde o equilibrio, balança para trás e abre a guarda para o jovem Vhati, que salta na direção do monstro e desfere um golpe de espada que sangra a face da criatura.

No fundo da sala, Garth levanta-se, observa atentamente a localização de cada um dos monstros e desenrola as correntes que a armadura trazia unida a seus braços. Criando uma espécie de chicote, golpeia o grande minotauro por duas vezes, e consegue enrolar as mãos da besta com as duas correntes. Em resposta, o monstro começa a girar o corpo freneticamente, arremessando Garth do local onde estava para a parede oposta. A criatura, meio homem e meio touro, ruge para os céus e corre na direção do adversário.

Do outro lado da sala, o minotauro mais baixo atinge Vhati no braço, causando um grave ferimento, mas que não é o suficiente para tirar o jovem do combate. Andreas intercede antes que o minotauro atinja novamente Vhati, lançando contra ele um punhal, que crava profundamente no ombro direito da criatura. O monstro investe com fúria contra o mago, que tenta desviar, mas acaba atingido nas pernas, o que o derruba no canto da sala. Baris corre em seu socorro, cravando a sua espada nas costas da besta.

Das mãos de Avram, mais três dardos de gelo são lançados contra os monstros, que são atingidos mas continuam de pé. Darien tenta atingir o minotauro mais baixo em uma nova investida, mas o monstro bloqueia seu golpe com o machado, revidando em seguida. Quando o grande machado estava próximo de atingir a cabeça de Darien, Garth, ainda no chão, lança as correntes de sua armadura, que se enrolam nas pernas do monstro o fazendo cair. Um novo ataque com as correntes faz com que uma prenda as pernas e a outra se enrole no pescoço do minotauro, sufocando a fera.

Andreas, que assistia tudo a certa distância, conjura novamente suas energias místicas e dispara um raio de energia contra o monstro caído no chão. Baris vê o monstro caído e pula com os dois pés sobre o peito da fera, vira a ponta de sua espada para baixo e crava a lâmina afiada no peito do monstro. Um urro de dor ecoa pelas paredes, quando o monstro entrega suas últimas energias.

Enquanto isso, o minotauro maior investe em alta velocidade contra o mago Avram. Garth vê a cena e tenta impedir, mas com as correntes presas no corpo do outro monstro, não pode fazer nada. O machado zumbe no ar e atinge o lado direito do crânio do místico, que com sua frágil resistência física, padece sobre o solo. Garth levanta-se com um grito, largando o corpo já sem vida da besta que havia derrotado. Com uma ordem mental, enrola as duas correntes formando um cabo de metal retorcido, e golpeia o monstro pelas costas. O golpe acerta o minotauro na cabeça, e este cai de joelhos, sem ação.

Baris corre na direção do monstro, do outro lado da sala, e Vhati golpeia a criatura na altura da nuca. Ainda resistindo, a besta se levanta a tempo de defender os golpes de Darien, que atacava em seguida. Andreas corre em socorro ao amigo místico, que não tinha conseguido resistir. Já era tarde para o corpo daquele que, por tantos anos, defendeu a vida dos outros integrantes de sua equipe.

Garth utiliza as correntes para atingir novamente o minotauro, que não consegue se defender do poderoso golpe. A força das correntes desequilibra novamente o monstro, que balança o corpo para trás, deixando sua arma cair. Baris o atinge de raspão, e a fera revida com socos e chutes. O minotauro segura o guerreiro com as duas mãos e o ergue sobre a cabeça, antes de jogá-lo do outro lado da sala. Garth aproveita o momento de distração do minotauro e enrosca seu corpo com as duas correntes. A besta tenta se livrar de sua prisão, mas não obtém sucesso. Andreas concentra todo o seu poder nas palavras místicas aprendidas com seu mestre quando jovem e grita de dor quando sente a energia partindo de seu corpo na direção do monstro. A bola de fogo que se formou atravessa a sala em uma questão de segundos, e explode em chamas contra o monstro aprisionado. Vhati se agacha e atinge com um só golpe os dois tornozelos da fera, que cai no chão.

Baris sobe sobre o corpo de mais uma besta e desfere um golpe de espada que trespassa o pescoço do minotauro, fazendo com que a cabeça da fera caia para trás. O sangue do monstro se espalha pelo chão enquanto os heróis desabam em sua dor. Vhati arranca a manga da camisa e vê a gravidade do corte. Seu braço deverá ser colocado em uma tipóia pelas próximas semanas. Garth senta-se no chão, exausto. Andreas percebe que toda sua força se esvaiu quando lançou sua mais poderosa magia. Agora podia notar o sangue escorrendo por suas orelhas e narinas. Baris e Darien correm na direção do amigo morto, que não conseguiu resistir a um combate tão intenso. Baris iniciou uma oração aos deuses, enquanto Darien embainhava a espada, sabendo que já deveriam partir antes de amanhecer, pois mais criaturas destas poderiam aparecer a qualquer instante...

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Deserto morto

02/12/07

Eu já estivera naquele lugar infinitas vezes. E sempre era a mesma coisa. Nada nos cercava, apenas a vastidão vazia. Uma terra desolada, um céu sem cores. A alguns metros de distância, ele me encarava, Despidos de tudo, nos confrontávamos. O deserto morto era nossa arena. Nossas armas, nossas palavras. Nossos escudos, nossa força de vontade. A falta desta, nossa mais exposta vulnerabilidade.
- Você vai voltar – ele disse.
- Como você tem tanta certeza? – repliquei friamente.
Ele abriu mais o sorriso cínico com o qual me observava. Eu sentia seus olhos penetrando fundo na minha alma, como se ela estivesse tão nua quanto meu corpo. E ele sabia disso.
- Eu posso ver, meu caro. Este é seu mais profundo desejo. Está enraizado no seu espírito.
- O que é meu eu posso mudar – minhas respostas eram rápidas, curtas. Ele tentava me atingir com sua retórica, eu defletia seus golpes com minha secura.
- Sem dúvida você pode! Tudo o que é seu você pode mudar. Afinal, não há nada nem ninguém, nenhuma ordem universal, que lhe diga o que fazer e sobreponha sua vontade!
- Exato. Nem você.
- Mas a chave é exatamente essa: vontade. Você pode pensar em mudar, mas você quer mudar?
- Minhas escolhas são minhas, e só eu sei se quero ou não tomá-las!
- ERRADO! – ele gritou. Aproximou-se e me rodeou enquanto sibilava.
- Você não tem segredos para mim e sabe disso. A qual tolo está tentando iludir? A mim? Desista! A algum observador? Não vejo platéia alguma aqui para você enganar com sua falsa determinação. Se estiver tentando enganar alguém, só se for a si mesmo!
Não consegui reagir rápido desta vez. Ele aproveitou o instante de silêncio para renovar o ataque.
- Você vai voltar, e eu sei disso. Por quê? É simples: porque é lá que tudo lhe espera.
Não, não podia ser assim... Eu tinha que reagir, mas ele não parava.
- Porque aqui... Aqui você não tem nada!
- Agora é você que está errado! – exclamei com força renovada. Mas o sorriso não abandonou seu rosto.
- Estou, é?
- Sim! Aqui eu tenho alguma coisa.
Ele apenas me fitou ironicamente.
- Aqui eu tenho ELA!
Ficou um tempo quieto. Achei que o tinha atingido, finalmente. Mas logo ele explodiu numa gargalhada.
- Ela? Ela??? Sim, aqui você a tem! Mas é só o que tem! E me diga uma coisa: ela, apenas ela, vale não ter mais nada???
Diante de seu grito, desviei os olhos. Pela primeira vez, minha voz saiu gaguejada, hesitante.
- E-eu... não sei...
- Há, há, há! Eu sei que você não sabe, pobre miserável! Em momento algum você pôde me enganar! Talvez você não saiba quem é, e o que deseja, mas EU SEI! E vejo suas dúvidas, suas mais profundas e estúpidas fragilidades, com a clareza do mais puro dos cristais! Você não pode me ludibriar, meu caro. Nosso embate chegou ao fim...
Minha cabeça estava baixa. Nada pude falar por um longo tempo. Ele deu as costas e caminhava triunfalmente para o horizonte. Não... Aquilo não podia acabar assim. Por mim, e por ela, eu tinha que lutar!
- Não acabou ainda! Você não vai vencer tão facilmente!
Ele parou e voltou-se lentamente. Seus olhos brilhavam e sua boca ainda carregava aquele sorriso, ah!, aquele maldito esgar de crueldade e cinismo, com o qual rasgava minhas defesas e perscrutava meus pensamentos! Sua expressão não negava: ele não tinha a menor dúvida de que, após tudo, iria me derrotar, e que meus esforços nada mais eram que o estrebuchar morto-vivo de um inseto esmagado em suas mãos...
A batalha prosseguiu por eras, éons, tempos e universos inteiros nascendo e colapsando diante de nossos desafios. A minha decisão final, se me mantive forte ou se cedi ao seu vil palavreado, não interessa, no fim das contas. Declarei-a com um sorriso e uma expressão segura, manto perfeito que recobria os despojos do confronto. Afinal, não existem vencedores ou perdedores numa batalha, quando se enfrenta o mais temido dos inimigos e se duela consigo mesmo.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Duelo de Escritores

A grama reclamava com estalidos gélidos sob a cristalina capa que abraçava as folhas ainda adormecidas naquela manhã fria. Do nevoeiro baixo que cobria o solo, se erguia uma figura sombria, protegida do frio pelo sobretudo escuro. O respirar lançava nuvens por sob o bigode meticulosamente aparado. E sob as sobrancelhas escuras, dois olhos soturnos perscrutavam a neblina. Aguardava paciente, segurando a maleta pendente em uma mão enluvada enquanto a outra procurava abrigo no interior do bolso. Aguardava o tempo passar aquecendo a memória com a lembrança de um barril de Amontillado. Às exatas seis horas um novo vulto divisou-se além da neblina. Cada passo estraçalhava a grama fria e quebradiça. Mais uns passos e fez-se visível a figura esguia. Uma testa proeminente e alta encimava-lhe a fronte, donde pendiam para trás as já não tão vastas madeixas, em longas ondas até a altura do maxilar. Um bigode desenhava-se sobre o lábio superior enquanto um tufo de barba pendurava-se do inferior. As duas figuras olharam-se e, com um movimento de cabeça, cumprimentaram-se.

— Bons dias, Mestre William — disse o homem que aguardava com a maleta.

— Se bons fossem os dias, estaríamos nós a ensaiar uma comédia e não a atuar uma tragédia, Edgar.

— A tragédia fostes vós que escrevestes. A mim cabe apenas dirigi-la e assisti-la.

— Pois prepara a platéia que ora chega mais um ator. Quem vem lá, que singra o nevoeiro qual espectro assombrado?

Silenciosa, a figura surgiu da neblina como quem vem de outro mundo. No alto da cabeça um chapéu marcava-lhe a silhueta, no pescoço uma gravata borboleta fechava-lhe o colarinho engomado. Por trás do par de óculos tremeluziam olhos serenos, mas que continham uma miríade de olhares, como uma represa que sustenta calmamente águas revoltas, mas que pode romper-se a qualquer momento.

— Acalma-te, bardo, que não é espectro que se aproxima. Já não há tanto entre o céu e a terra. Não é fantasma régio que chega, é teu algoz que se apresenta em Pessoa — provocou o recém-chegado.

— Pois vem, biltre, que se hoje és Montecchio, sou Capuleto.

— Chama-me como quiseres, que nomes não me faltam.

Os dois acercaram-se, os olhares trocando insultos. O homem da maleta aproximou-se, abriu a valise e entregou a cada um dos oponentes uma longa adaga. Os dois combatentes guardaram distância enquanto o portador da maleta se afastava com ela vazia. Em algum lugar um corvo crocitava um malfadado epílogo. Ao fim do dia apenas um dos antagonistas retornaria para casa. O outro, nunca mais.

— Pronto, inglês, cá estou de pena em punho. Empresta-me o pergaminho do teu couro, que tenho poemas a escrever.

— Medida por medida, português. Se queres domar o papel, é preciso aprender a usar a caneta. Em ti, a vida já é apenas uma sombra ambulante, cheia de fúria e muito barulho, mas que nada significa.

— Teus versos são profundos, mas os escritos de tua lâmina são rasos. Vê, sou ainda página em branco.

— Cão vil, mordes o polegar para mim? Quem és para confrontar-me com tal desonra? Acaso escrevestes sob o égide da Rainha Virgem? Acaso escrevestes para reis?

— Se é Reis que queres, Mestre William, Reis terás. Vem, Ricardo, que Shakespeare te espera!

Por trás dos óculos fulgurou um brilho intenso e o nevoeiro ao redor do poeta dançou. De trás de sua imagem surgiu, como vindo de um mundo de sombras, outro homem. Lado a lado, mal podia-se dizer quem era quem. Não fosse pela ausência dos óculos, os dois homens seriam iguais.

— Traz reforço, poeta? Pois bem! Se tu trais-me com novo combatente, traio-te com um conterrâneo. É agora, José!

Um estampido soou seco na manhã e Ricardo Reis pôs-se ao chão, com o sangue quente derretendo o orvalho sobre o solo. Da neblina, mais uma silhueta se aproximava. Os cabelos ralos e prateados se misturavam à neblina branca, e os óculos de lentes grandes protegiam os olhos tristes. Na mão magra uma velha pistola espanhola cuspia a fumaça acinzentada.

— Traição! — gritou o poeta português — E pelas mãos de um conterrâneo! Matastes Ricardo Reis.

— Se o matei foi para que outro Pessoa não morresse. Cessem, nobres senhores, essa lúgubre peleja. Pouco importam as ofensas passadas, se no fim Todos os Nomes se reúnirão como iguais. Cessem a tragédia, cessem este ensaio. Acaso a cegueira cercou-lhes os sentidos?

O americano que a tudo assistia, se aproximou sombrio. Abriu a maleta e estendeu-a aos duelistas:

— Senhores, abandonai a máscara rubra da morte. Estas cercanias da rua Morgue já têm crimes suficientes.

Os quatro trocaram olhares. Os olhos sombrios de Poe, os tristes de Saramago, os serenos de Pessoa e os inquietos de Shakespeare.

— Chega de mortes, que o Pastor já se ri — insistiu Saramago, deixando cair a pistola.

— Pois bem. Nem tudo vale a pena — declamou Pessoa, depositando a adaga afiada na maleta que Poe oferecia.

— Vamos, Shakespeare. Abandona a Tempestade e deixa à alma uma noite de verão — reforçou Poe.

— Todas as noites de verão são sonhos — retrucou o bardo. E com um movimento rápido, lavou-se da culpa de Macbeth e cravou a lâmina fria no abdome de Pessoa. Todos os olhos eram agora de surpresa. Inclusive os de Shakespeare, ao ver o poeta com a adaga cravada no corpo, mas ainda de pé. A morte parecia ter tido a sua intermitência. Sem respostas e sem palavras, os quatros deram as costas uns aos outros e se perderam de novo no nevoeiro.se ri — insistiu Saramago deixando cair ao chos serenos de Pessoa e os inquietos de Shakespeare.

sábado, 1 de dezembro de 2007

TEMA DA RODADA

O NOVO TEMA É:

DUELO!

PARTICIPANTES TÊM ATÉ O DIA 06/12/2007 PARA POSTAR SEUS TEMAS.

ABRAÇOS!!

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

VOTAÇÃO DA 3ª RODADA

Está aberta a votação para a terceira rodada do Duelo de Escritores.

Todos os participantes têm até o dia 30 de novembro (sexta-feira) para votarem aqui nos comentários em seu conto preferido.

Lembrete: agora os leitores também podem votar aqui mesmo pelos comentários desse post. Os votos de todos os leitores somados equivalem ao voto de um dos participantes, com vantagens em caso de empate.

Votem, opinem, e boa sorte a todos!

Primeira vez

24/11/07

Deitada ao seu lado na cama, ela o observava demoradamente. Seu corpo forte e definido lembrava-lhe aquele dia na praia. Ela havia se mudado do interior, fascinada com a areia, as rochas e o mar. Não pôde resistir a colocar os pés na água. A batida das ondas e a espuma salgada a encantaram de tal modo que ela só percebeu onde estava quando os pés já não encontravam apoio e os braços se agitavam em pânico. Então, apenas lembrava de estar deitada na areia, com lábios quentes tocando os seus. Quando abriu os olhos, o rosto preocupado que a olhava quase a fez perder a respiração novamente. Ergueu-se, sem jeito, e pediu tímidas desculpas pelo seu descuido. Afinal, era a primeira vez que ela tinha nadado.

Dali em diante, os capítulos da história se desenrolaram em rápida sucessão. Daquela primeira conversa sob o guarda-sol, adveio a troca de telefones. Do primeiro telefonema, o primeiro encontro, junto a alguns amigos. No segundo encontro, a dois, um beijo suave no fim da noite. Em pouco tempo, a entrega total, o compromisso firmado, a mudança e a compra da cama de casal onde agora repousavam. Ela vivia cada dia como se fosse único, respirava aquele relacionamento a todo instante, e nada podia tirar-lhe o sorriso quando estava com ele. Afinal, era a primeira vez que ela tinha amado.

Uma lágrima desceu do seu rosto quando ela lembrou daquele outro dia, quando visitou-o de surpresa no trabalho. Jamais saiu de sua memória aquela cena, quando, paralisada, olhava os dois agarrados sobre a mesa, ele tentando balbuciar alguma desculpa ininteligível para sua mente entorpecida. Ela saiu às pressas, caminhando para lugar nenhum, chorando as lágrimas que não havia derramando em todos aqueles tempos de felicidade. Mais tarde se encontraram, e ele implorou para que ela voltasse. Disse ser um idiota. Falou que a amava. Abraçou-a com força e desabou em fragilidade, ao pedir seu perdão e jurar que jamais faria ela chorar novamente. Falou que sua vida a dois valia mais que um erro isolado, por mais idiota que fosse. Afinal, era a primeira vez que ele tinha errado.

A pesada lágrima logo secou, pois foi a única. Ela balançou a cabeça e repetiu para si mesma que não valia mais a pena resgatar tais lembranças. Acariciou seu robusto ombro, com um leve sorriso. Levantou-se da cama, indo para o banheiro. Lavou as mãos demoradamente e pôs-se a pensar no que fazer em seguida. Havia diversas formas de se livrar dele, mas muitos problemas poderiam surgir, portanto ela tinha que calcular cautelosamente os seus passos para não cometer um erro. Afinal, era a primeira vez que ela tinha matado...

25 de Setembro de 2006

Marina Melz
25 de Setembro de 2006

Cinco segundos. Esse foi o tempo da minha primeira experiência como pessoa, como ser humano, e talvez, a minha primeira experiência como jornalista que observa os fatos sem poder fazer nada para interferir na sua ocorrência. Saí do jornal para o Hospital onde eu deveria chegar à UTI e conversar com o coordenador daquele setor sobre as melhorias que haviam acontecido. Hospitais já são um tanto quanto complicados pra mim, mas resolvi encarar o desafio, afinal, nem todo medo pode ser levado por uma vida.

Chego lá, reconheço o médico (já o havia entrevistado anteriormente), vou até ele. Cumprimentos feitos, seguimos para a sala de espera para podermos conversar. Ele me explica a respeito das UTIs e do que tem sido feito para a melhoria do atendimento a pacientes em estado grave. Como na primeira entrevista que fiz com o médico, de tempos em tempos éramos interrompidos por um pedido de ajuda, de exames ou de informações sobre pacientes. Normal, a profissão que ele exerce exige esse tipo de atenção. Da sala onde estávamos tínhamos a vista completa dos seis leitos da nova UTI. Enquanto ele me explicava a respeito dos aparelhos utilizados nos procedimentos, observamos a queda do ritmo cardíaco de um paciente.

Num ato de completo instinto, o médico levantou-se, sacou o aparelho que deveria fazer com que o coração do tal sujeito voltasse a bater. Todos ali estavam tensos, eu lutava contra a minha curiosidade queria sentar-me e não ver aquela cena, mas não pude. O risco verde com o fundo preto da tela parou de apresentar qualquer oscilação. O tal sujeito acabara de falecer. Não pude conter as lágrimas que caiam dos meus olhos sem que eu tivesse qualquer tipo de controle. Senti as pernas bambas. Vi filmes, cenas, vidas passando a minha frente em alguns segundos. Parece brincadeira, e talvez a minha reação tenha sido exagerada mesmo. Mas eu não contive, não conseguiria. Foi a primeira vez que eu vi um falecimento tão de perto.

Como se num ritual lento e mórbido, todos os funcionários da UTI se uniram em torno do corpo do homem, deram as mãos. Chamada pelo médico, participei da oração que seguiu. "Trabalhamos com vidas, sabemos que tentamos de qualquer forma o salvar. Não conseguimos. Ele está com Deus. Descansa. Temos certeza que esse dia ficará marcado na história de muita gente como um dia triste. Vamos lembrar dia como um dia de mudança, daquelas que todos temos que passar".

Senti meu corpo amolecer. Sentei-me. O médico que eu até então julgava como alguém completamente racional sentou-se ao meu lado, pediu licença e me abraçou. "Você não é a primeira que tem esse tipo de reação. A vida é assim. Lidar com a vida é assim". Me acalmei e ele fez questão de me trazer à redação. No caminho, ele me explicava que independente de credo ou religião, a vida acaba do mesmo jeito pra todos. "E, por mais que a gente tente, lidar com a vida não é algo fácil". Os olhos lacrimejantes do médico não me deram dúvidas disso.

domingo, 25 de novembro de 2007

Prazeres

Fábio Ricardo
25/11/2007


Raffael estacionou o carro na rua escura, desligou o motor e puxou o freio de mão. Ao seu lado, Mari transparecia nervosismo, enquanto dava um sorriso sapeca. Raffael virou-se e a beijou um beijo molhado, quente e acelerado. Mari agarrou o cabelo em sua nuca e brincou com sua língua, ao mesmo tempo em que Felipe apagava as luzes do quarto. Larissa já o aguardava, deitada na cama apenas de camisola rosa, braços abertos e a ansiedade que trazia desde que vestiu a peça íntima. Felipe checou cada uma das velas acesas, apertou o “play” na trilha de Ben Harper e tirou a camisa enquanto caminhava na direção da cama. Reginaldo não chegou a tirar a camiseta, apenas abriu o cinto e baixou as calças até a metade das coxas. Zilá sentia vontade de gritar, não de prazer nem de tesão, e sim de dor, ao sentir o membro invasor penetrando seu corpo sem pedir licença. As mãos ligeiras soltaram o sutiã de Mari, que já estava em cima de Raffael, no banco deitado do carro de seu pai. Beijaram-se e abraçaram seus corpos seminus, enquanto Larissa suspirava e gemia no ouvido do namorado, na primeira noite de amor que o casal tinha. Felipe havia pensado em tudo, da champanhe até a trilha sonora e as velas espalhadas pelo quarto. Aquele era um momento especial, era a primeira vez de sua namorada, uma noite inesquecível, quase tão inesquecível quanto a noite de Zilá, que passaria os próximos anos de sua vida culpando a si mesma por ter deixado aquele homem rude arrancar sua virgindade sem fazer nada. É verdade que ela abrira a porta de casa apenas por se tratar de um amigo de seu pai, que estava viajando, e não suspeitara de nada, com seus apenas 14 anos. Zilá derramou uma lágrima e virou para o lado segurando o choro, quando Reginaldo foi embora. Raffael também virou para o lado após gozar, para sentar-se novamente no banco do motorista e deixar Mari se vestir no banco do carona. Felipe e Larissa viraram cada um para o seu lado, depois daquele momento tão íntimo quanto seria possível. Nenhum deles jamais esqueceu aquele 25 de novembro.

sábado, 24 de novembro de 2007

O Gosto da Fruta

Se já teve alguma história engraçada? Teve, teve sim. Sempre tem alguma coisa diferente. Tem cada tipo que aparece! As melhores sempre são as de algum endinheirado que fecha a casa só pra ele e pros amigos, ou aqueles de trazem alguém pra inaugurar. É, inaugurar. A primeira vez, sabe? Porque virgem nunca vem sozinho, né? Sempre é alguém que traz. Se teve alguma vez em especial? Não sei. Tem uma juntou um pouco dos dois, eu acho. Veio um coronel certa vez, de uma cercania aqui perto, pra inaugurar o filho. Isso faz uns cinco, seis anos, se não me engano. Não! Que é isso! Não posso dizer o nome, não. Sabe como é, normas da casa. E também por respeito aos clientes, né? Mas veio aquela vez, então, aquele coronel que eu não vou dizer nome, trazendo o guri mais velho dele. Ele não fechou a casa, mas pegou um elevado só pra ele. Veio com os amigos, gente de dinheiro, de fazenda, sabe? E o guri. E coronel era cliente bom, tinha que atender bem. Pagava bem e tratava bem. Era um homem bom. Por isso a gente também tratava ele bem. E o rapazote veio então pela primeira vez. Devia ter uns quinze, no máximo dezessete. Era meio franzininho mas era de se jogar fora, não. Tímido, o coitado. Nem sabia direito o que fazer. A Dona Keka viu que coronel tinha chegado e mandou eu e as meninas ir lá fazer sala pra eles. Eu sempre atendia o coronel, então foi bem tranqüilo. Já era da casa, nunca deu problema. Eu fui lá com as meninas e o coronel apresentou o filho. Claro, que também não posso falar o nome dele, mas ele, mesmo meio nervoso, foi bem educado com as meninas. A gente serviu os clientes com a garrafa reservada pro coronel, e até o filho deu uns golinhos. Acho que também foi a primeira vez que provou, pela cara que fez. Mas aí que o coronel queria inaugurar o garoto, e queria que fosse bem feito. Falou que já tava na hora de virar homem, que filho alegre não se cria. E pra prevenir, achou melhor trazer o rapaz aqui. E fez questão que eu também atendesse o garoto. Por mim tava tudo bem, até fiquei feliz com o reconhecimento do coronel. Depois de deixar o garoto mais à vontade e um pouco menos nervoso, levei ele lá pra cima. E os amigos do coronel faziam a festa, tinha até padrinho chorando de emoção.

No começo, tudo normal. Ele tava um pouco nervoso, mas todo mundo fica assim na primeira vez. Já cansei de pegar homem feito tremendo feito bambu no vento. Então comecei a conversar com ele, aquelas preliminares de sempre, pra não assustar. Perguntei se era mesmo a primeira vez dele (como se eu não soubesse!) só pra dar mais confiança. Ele disse que era. Ao menos com uma mulher. Na hora me deu um branco. Será o filho do coronel era fruta? Mas daí, logo lembrei que não podia ser. Logo o filho do coronel! Perguntei se era porque ele já tinha treinado sozinho. Ele riu nervoso e disse que sim. Quando tava pra começar o garoto, pra tranqüilizar, eu falei que era parecido com o que ele já tinha feito, e essas coisas que a gente sempre diz pra soltar mais o cliente. Mas só então eu vi ele não tava conseguindo. Devia estar nervoso, o coitadinho. Ele explicou que não era parecido com o que ele já tinha feito, que lá na fazenda os meninos aprendiam diferente. Eu já tinha iniciado muito filho que agricultor e sabia bem como era na fazenda. Molecada vivia no curral! E não era ordenha que eles faziam nas vacas, não! É verdade, aqui na cidade tem gente que não acredita, mas esse pessoal da fazenda aprendia assim até uns anos atrás. Você ri porque sempre morou por aqui. Mas enfim, eu tava perdendo o meu tempo e queria logo resolver aquilo. Então eu virei as costas pro garoto, bem na beirada da cama, e pedi pra ele vir. Falei que ia ser quase como ele já tinha feito antes. Enfim o coronelzinho conseguiu marcar presença e achei que ia se resolver logo. Mas aquilo tava demorando um pouco demais. Perguntei se estava tudo bem, e ele disse que aquilo não era bem como ele já tinha feito antes. Pôxa, aquilo era o mais próximo que eu podia chegar! Só faltava ele pedir pra eu mugir! Só então ele me explicou, bem sem jeito. Ele não freqüentava muito o curral, não. Ele costuma era ir lá pra plantação de melancia do coronel. Se tinha alguma menina que ele encontrava lá? Não, não. Se ele já tivesse conhecido menina eu não tinha passado tanto trabalho e tanta humilhação! Ele tava era atrás das melancias mesmo. Literalmente. Fazia um furinho com a faca e depois emprenhava a fruta. Que fim dava na melancia depois, eu não sei. Só sei que nunca mais comprei melancia que veio da fazenda do coronel. E não é que o moleque me pediu pra ficar que nem melancia? Que abuso! E lá fiquei eu, que já tinha mandado minha dignidade pro ralo, toda encolhida, abraçando os joelhos contra o peito esperando o garoto terminar. Pior é que de raiva e de vergonha devo mesmo ter ficado vermelha que nem melancia. Só sei que o moleque acabou não acabando. É, não deu certo, eu já tava irritada, e o coronel que me desculpe, mas aquele piá tem algum problema. Levei o coronelzinho de volta pro pai. Ele foi meio cabisbaixo mas eu pus o sorriso mais falso que tinha na cara e disse pro coronel: Coronel, seu menino não volta mais. Agora eu trouxe pro senhor um homem! E o padrinho chorão voltar a chorar, o velho acendeu um charuto e enfiou na boca do moleque e eu encerrei o expediente por ali mesmo. O que aconteceu com ele? Não sei bem. O coronel nunca mais apareceu. Nem o filho. Dizem que o moleque virou padre. E a Ritinha disse que viu ele com um outro garoto fazendo o que não fez aqui. Ela disse que o coronelzinho não gosta da fruta não. Mas, da fruta, ah, disso eu sei que ele gosta.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Dama de preto

Thiago Floriano
22 de novembro de 2007

Ela veio para cima de mim sem o mínimo pudor. Admito que estava assustado, afinal, era minha primeira vez. As vestes pretas davam a ela um ar imponente e isso me intimidava muito, não era toda hora que uma situação dessas acontecia com um garoto tímido de 17 anos.

Terminado o pesadelo da aproximação inicial, começou a me envolver com sua nítida experiência. Fui ficando tranqüilo, aos poucos. Era uma sensação incrível. Sentia como se meu corpo não pertencesse a mim. Como se meus sentidos se confundissem. Como se mergulhasse num sonho.

Desde pequeno tentara imaginar como seria essa hora marcante, esse momento que, de tão esperado, parecia infinitamente distante. Ouvi alguns breves gemidos, que julgava ter eu mesmo emitido. Foi aí que o líquido mais precioso começou a jorrar de meu corpo. Ela parecia satisfeita. Era como se tivesse vencido uma guerra particular.

Dali em diante, lembro de pouca coisa. Devo ter perdido, de fato, os sentidos. Até que vi ao meu redor algumas flores, uma foto e, se não me falha a memória, alguns pares de olhos enrubescidos e lacrimejantes.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Tema: Primeira Vez

Está aberta a terceira rodada do Duelo de Escritores.

O tema é Primeira Vez e a data final para a postagem dos textos é 26 de novembro, segunda-feira.

Lembrando que as regras mudaram e agora o público tem ainda mais voz no nosso Duelo!

Boa sorte a todos!

Marina Melz

Caro leitor,

O Duelo de Escritores está acirrado. Para tornar a disputa ainda mais emocionante, algumas regras mudaram. A partir de agora os votos do público serão computados e terão caráter decisivo no resultado de cada batalha. O funcionamento é simples: sempre que um tópico de votação for aberto, basta atirar um tomate ou uma rosa na arena e comentar sobre qual é seu texto predileto. É importante! Apenas os votos postados nos tópicos de votação serão considerados no resultado final.

Ao final da votação serão seis votos. Os cinco duelistas e o campeão do público, que somará um voto a contagem total. Mas não é só isso. Em caso de empate, o voto do público é considerado de minerva – um critério de desempate.

Vale lembrar que os comentários estão abertos em todos os textos, e a opinião de quem lê é muito importante para que as batalhas fiquem cada vez mais disputadas.

Não perca as datas de votação e participe. Agora você ajuda a decidir quem ganhará flores ao final de cada batalha!

Ao lado, criamos um link para o nosso regulamento, para que você tenha acesso às regras do jogo.

Muito obrigada,

Duelistas na arena
Fábio, Marina, Thiago, Rodrigo e Félix

sábado, 17 de novembro de 2007

VOTAÇÃO

Senhoras e senhores, está aberta a votação desta rodada!

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

O desvio

Thiago Floriano
16 de novembro de 2007

Tem vezes que acho que estou no emprego mais chato do mundo. Cá estou eu, mais um dia, encostado em um pilar de concreto, com a obrigação de observar todo mundo que passa. Se pelo menos tivesse algo bonito pra olhar, mas geralmente precisava observar os homens em atitude suspeita. O problema todo é que passam muitas mulheres por aqui. Correndo para consumir as vitrines em olhares quase doentios ou simplesmente desfilando, elas passam por mim sem notar que existo. Coberto com esse traje preto, pareço mais um personagem do Men in Black.

Esse ainda não é o ponto mais triste da história. O difícil mesmo é desviar os olhos das curvas voluptuosas evidenciadas por uma pequena ausência de tecido entre os seios. Isso sim me incomoda. Ver e não tocar. Tocar e não lamber. Lamber e não... Não. Não. Não. Não viaja, ô! Nem sequer chegar perto eu posso, que dirá tocar.

Nessas horas fica difícil prestar atenção nos marmanjos que passam, sedentos por uma vitrine ou por ver o desfile dessas mulheres, ou ainda pra entrar numa loja qualquer com uma touca que cobre o rosto. Cá estou, recostado a um pedaço de concreto e olhando para um perfeito par de seios. Pelo visto, a dona dos ditos cujos usa um vestido roxo, mas como só consigo ver a parte que cobre um terço dos seios, não sei distinguir muito bem. Também não preciso fazer muitas conjecturas a respeito. São belos e ponto final. De que interessa a embalagem?

Eis que ouço aqueles seios falarem. Meu Deus! Acho que estou ficando louco! Sim, os seios me falam algo que não consigo identificar de primeira. A tal mulher vem em minha direção e, pasme, pára na minha frente. Não consigo desviar o olhar, até pelo fato de que os seios falam comigo. Falam e gesticulam! Essa é boa. Como pode? Aquelas duas maravilhas da natureza ficam de mamilos eriçados como se apontassem alguma coisa. E lá se vai mais um rapaz correndo com uma sacola de jóias nas mãos.

Uma piada de noite

Marina Melz
16 de novembro de 2007

João Alberto era um cara totalmente high society. Solteiro há três anos, um divórcio digno da capa de Caras, 300 milhas mais pobre por causa da ex-mulher – aquela que já não dava a ele um prazer digno há anos por achar que sexo sujava seu corpo totalmente coberto de cremes dos mais variados tipos. Se preparava para mais uma insuportável festa com tapete vermelho. Olhou-se pela última vez no espelho. O smoking estava impecável. Ensaiou um sorriso falso.

Regada a champagne, caviar e um blues insuportavelmente alto a festa estava um saco. Conversando sobre os negócios da multinacional que dirigia com um bando de homens velhos e totalmente gagás. Resolve dar uma volta para livrar-se daquele papo sem nexo e do cheiro de charuto cubano.

Em sua direção, um par de peitos cobertos por um vestido vermelho. Não, não. Não podia ser verdade. Eles vinham mesmo em sua direção. A mulher, cujo rosto pouco importava, usava um longo que acentuava a silhueta perfeitamente curvilínea chegou como um furação e ele teve que disfarçar uma quase ereção. “Segura aí, parceiro”.

- Boa noite, jovem senhor.

- Uma belíssima noite, caríssima – respondeu João Alberto, com as pernas bambas e a certeza que aquela noite certamente prometia.

Depois de beijá-la na mão, João Alberto – que já havia perdido a conta de há quantos anos não era chamado de jovem – convidou-a a para um wisky. Conversaram durante a noite, embora ele não lembre de absolutamente nada do que ela tinha falado. Vagamente, passava por sua memória algumas palavras. Aquele delicioso vão entre seus peitos era um convite muito mais apetitoso do que qualquer assunto.

Resolveram estender a noite por uma proposta dela porque ele, ah, quem disse que ele conseguia pensar em alguma coisa? Embarcaram no carro importado dele, ela abaixou a cabeça temendo que alguns dos insuportáveis jornalistas sociais conseguisse os flagrar juntos.

Na portaria do motel, ele quase não conseguia controlar sua excitação. Escolheu o quarto. Exigia que aquele desjejum tivesse direito a cama redonda, espelho no teto e tudo mais. Sentia-se com 18 anos. Ela pegou uma das mãos que estava no volante, colocou sobre o peito direito. Ele quase bateu o carro. Riram um riso nervoso.

Subiram a escada do quarto amassando-se como se essa fosse a última noite de suas vidas. Ele jogou-a a cama. Já totalmente ereto, dispensou demais preliminares já temendo que uma ejaculação acontecesse antes mesmo de invadir o corpo dela.

Ao tirar a parte de cima do vestido, mal podia esperar para ver aqueles peitos nus. Teve a primeira surpresa. Uma espécie de sutiã colado ao corpo dava um aspecto estranho aos tão esperados. Ela riu, sem jeito. “Sabe como é, né? Alguma coisa tem que segurar”. Mal podia acreditar. Esforçou-se para se manter concentrado. Teve medo de puxar aquilo e ouvir um grito de dor. Ele percebeu e tirou o tal sutiã especial, que mais parecia uma gelatina nojenta.

Os tais peitos perderam totalmente o sentido, mas agora era tarde. Resolveu tirar o resto do vestido esperando encontrar o belo par de pernas que estava amostra apenas até o joelho. “Calma aí, amigão, teremos surpresas aqui”. Realmente. E não das melhores. Ao invés de uma sexy lingerie vermelha – ah, como ele adorava esses caprichos femininos – uma espécie de bermuda, que apertava sua pele e definia suas curvas.

Ele respirou fundo, foi até o final. Foram 15 minutos afinal de contas. “Chegamos ao ponto chato de não ter que pagar por isso, paciência”. Era batata. Elas sempre deitavam-se no seu peito esperando por um afago. Antes que ela pudesse sentir um real carinho, ele pegou no sono.

Pela primeira vez na vida, João Alberto sentiu-se um cara normal. Havia sonhado com os tais peitos empinados, com sua quase ejaculação antes mesmo de comer aquela mulher. Acordou, olhou para a fronha totalmente pintada ao lado. Pensou ter dormido com o Bozo. Gargalhou sozinho. Pelo menos não pagou pra descobrir o que havia embaixo do decote vermelho.

Conhecedora de homens

Fábio Ricardo
15/11/2007

Saiu do banho e vestiu vagarosamente a recém comprada calcinha de renda preta. Ela conhecia muito bem os homens, e sabia que a lingerie certa podia enlouquecer qualquer um. Passou um perfume suave, pois sabia que os homens não gostavam de perfumes muito doces, e vestiu seu melhor vestido. Era preto, justo, curtíssimo e o mais decotado que tinha. Ela conhecia muito bem os homens e sabia que um decote provocante podia garantir a atenção e os olhares durante toda a noite.

Arrumou os seios sob o decote provocante, maquiou-se e desceu as escadas que levavam até a rua. Pegou um táxi a caminho da festa, pois conhecia bem os homens e sabia que conseguiria uma carona de volta para casa.

Chegando na festa, pediu um drink e ficou de olho em tudo ao seu redor. Flertou com alguns rapazes, escolhidos a dedo, pois ela entendia de homens e sabia quais eram os melhores partidos. E como entendia bem, decidiu ir para a pista de dança. Ela sabia que homem algum resistia a um belo decote dançando sozinho no meio do salão.

Logo foi abordada por alguns rapazes. Ignorou os errados e abriu-se em sorrisos para o melhor partido da festa. Ele a convidou para dançar e ela derreteu-se em rebolados junto ao seu corpo. Ela conhecia bem os homens e sabia perfeitamente como excitá-los.

Dançaram por um longo tempo, rindo e se divertindo, até que suas respirações já se misturavam, suas bocas procuravam-se e suas mãos percorriam seus corpos. Ela conhecia bem os homens, e por isso puxou-o para fora da pista de dança, levando-o pela mão até a varanda na área externa da danceteria.

O som da música perdia-se à distância, enquanto os dois se agarravam sob as estrelas. Ela sabia do que os homens gostavam, então arranhava as costas do rapaz sob a camisa, enquanto gemia no seu ouvido. Esfregava suavemente seu corpo no dele, então pegou sua mão e levou até o decote. Ele, enlouquecido, apertava seus seios, sedento por carne. Ela sabia do que os homens gostavam, então deixou que ele os devorasse com os lábios, longe dos olhares de qualquer um. Ele se empolgava cada vez mais, e deslizando sua mão pelo corpo dela, procurou abrigo entre suas pernas.

Ela conhecia muito bem os homens, e sabia que não podia deixar que ele chegasse a seu objetivo logo na primeira noite. Atiçou o rapaz ao máximo, mas impediu que sua mão continuasse desbravando seu corpo. Pediu que ele a levasse para casa, mas ele negou. Ela conhecia bem os homens, então escreveu seu número na mão dele, e levou-a novamente ao seu insaciável decote, prometendo muito mais da próxima vez.

Quando ela a deixou em casa, ela lhe deu um beijo de despedida e riu por dentro, confirmando que ainda sabia tudo sobre a mente masculina. Tirou a maquiagem já borrada e desarrumou os cabelos, tirou os sapatos de salto alto, que ela sabia serem os preferidos dos homens, e foi até o banheiro. Escovou os dentes e lavou o rosto.

Foi até a frente da privada, abaixou a calcinha e levantou o vestido. Colocou o pênis para fora e urinou. Depois de tantos anos sendo um deles, ela conhecia os homens como ninguém.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Decote-se

Decote-se, denote-se
'que teu decote é carnaval.
Peito aberto, orbes ao vento,
da vida, manancial.

Decote-se, denote-se, morena,
vem!
Que teu decote é meu enredo,
é meu credo, é meu bem.

No teu decote que me perco,
que m'encontro, me aconchego.
No teu decote um abrigo zen.

Nos teu orbes de desejo
te desejo,
sem decoro,
sem decote, vem, morena, vem.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Fascínio

Félix B. Rosumek
13/11/07

O café está vazio por conta do horário avançado. Os garçons não agüentam a hora de poder enxotar os últimos clientes e ir para casa. Eu sou um destes clientes, e em pouco tempo uma nova companhia aparece. Ela entra e toma uma mesa para si, para desagrado das garçonetes e alegria dos garçons. Pois não deve ser toda noite que uma mulher daquelas aparece no lugar. O copo de cerveja, que fazia sua jornada rumo à minha boca, pára no ar quando a vejo. Observo-a sentar-se, cruzar as pernas e espiar o cardápio. Seu rosto é maravilhoso, mas meus olhos se pregam em seu decote esplendoroso. Fascinado, não consigo tirar os olhos da pele que se revela por entre a generosa abertura de seu vestido. Os vincos no tecido denunciam que a roupa está estufada pelo seu generoso conteúdo, quase pedindo para pular fora. Perto dos ombros posso ver uma pequena centelha do sutiã preto, fazendo um contraste enlouquecedor com a veste vermelha. E, ah!, aquela bendita curva dos seios que se revela no decote, que fascina qualquer homem em qualquer época ou lugar! Sigo lentamente com o olhar seu delineamento perfeito, quase como se pudesse acariciá-la com os olhos...
De repente, percebo que ela me encara. Com uma expressão contrariada, larga o cardápio e sai do café. Fico sem ação por um segundo, mas logo me levanto também, soltando algumas notas sobre a mesa. Ela caminha apressadamente na rua escura, um pouco à frente. Preciso pedir-lhe desculpas, afinal, não queria deixá-la raivosa. Apenas estava apreciando a sua beleza, sem intenção alguma de envergonhá-la. Chamo-a, mas ela mal olha para trás e acelera o passo. Aumento o ritmo para alcançá-la. Calma, moça, não é nada do que você está pensando. Mas ela começa a correr, e tenho que seguir atrás. Eu apenas quero parar, dizer-lhe o quanto ela é bela e pedir perdão pela minha indiscrição, explicar-lhe que não sou um pervertido qualquer. Mas ela foge e, quando a alcanço, ela começa a gritar. Meu Deus, moça, acalme-se! Por que ela reage deste modo? Apenas quero lhe falar uma coisa! Ela se debate e tenho que puxá-la para um canto, antes que alguém apareça e entenda a situação de um modo errado...
Dos dois que entram naquela ruela lateral, apenas um sai. Estou exausto, contrariado e triste. Por que diabos ela teve que dificultar tudo, e fazer as coisas chegarem àquele ponto? Tudo porque achei-a belíssima, fiquei fascinado pelos seus dotes. E, afinal, se ela usava aquele fascinante decote, era por que queria chamar a atenção, não? Raios, não consigo entender as mulheres. Agora tenho que voltar a pé para casa, para que ninguém desconfie da minha roupa rasgada e meu rosto ferido, cruzar com alguém que não consiga compreender a minha situação. Talvez eu pudesse pegar um ônibus naquele ponto... Não, melhor não arriscar. Mas veja... Tem alguém ali, esperando. Meu Deus, que criatura magnífica! O que faz na rua sozinha, tão tarde? E veja a saia que ela usa! Não consigo mais tirar os olhos das linhas perfeitas de suas pernas, meus olhos vão subindo junto com minha imaginação, até chegar na linha reta da saia, aquele limite para a visão que enlouquece qualquer homem, em qualquer época ou lugar...

sábado, 10 de novembro de 2007

TEMA: DECOTE

Está aberta a 2ª rodada de novembro do Duelo de Escritores!

Tema: Decote.

Publiquem seus textos até o dia 16 de novembro, sexta-feira.

Boa sorte a todos!

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

VOTAÇÃO

ESTÁ INICIADA A VOTAÇÃO

TEMA: BÍBLIA

PRAZO FINAL: 10/11/2007

terça-feira, 6 de novembro de 2007

.

Ok, vocês vão me odiar, mas a idéia cresceu mais que o esperado... Mil perdões e prometo na próxima fazer algo menor...

O Santuário
05/11/07


Com o sol ainda por se levantar, Flávio Galério acordou de um sono inquieto. Sem demora, levantou-se e caminhou para certa distância do acampamento, onde seus guardas e servos ainda dormiam. Da borda de um profundo penhasco, pôde observar a vastidão montanhosa que se estendia pela Anatólia. Tão longe estava de sua casa, na reluzente Roma de tantas glórias... Mas agora os tempos eram outros. Há gerações os romanos não podiam gozar de um longo período de paz e prosperidade como os de outrora. Se um fiapo de esperança surgia com a ascensão de homens poderosos, era apenas para se romper com sua morte, lançando novamente a vastidão imperial em desordem e revolta. Eram tempos de turbulência, tanto material como espiritual. Pois a inconstância das convenções e as rápidas mudanças deixavam as almas irriquietas, titubeantes quanto à firmeza de suas convicções. Almas que por vezes se lançavam para o mundo em busca de respostas, como a de Galério.

Não fazia muito tempo que deixara a capital do Leste, a ancestral Bizâncio, rebatizada Constantinopla em homenagem ao seu reformador. Mais de século já se passara desde que o governo do império fora dividido, e povos bárbaros não cessavam de penetrar em seu território, tornando longas viagens extremamente perigosas. Mas o romano não se intimidava diante dos perigos. Cruzara o Bósforo em um barco e agora transitava por uma terra que fora de muitos reis ao longo dos séculos. Seguia uma estrada tão antiga que suas pedras veriam Roma apenas como uma criança. Lendas diziam que levava à capital de um império de tempos primevos, que guerreava com povos grandiosos muito antes da época em que Tróia fora devastada. Galério seguia esse tortuoso caminho como resultado de suas inquietações e pesquisas. Inquietações ante perguntas capitais sobre o homem e o universo. E pesquisas que indicavam ser aquela a direção de suas respostas.

Voltou para junto de seus seis companheiros, que levantavam e arrumavam as coisas para a partida. Com o sol raiando, as duas pequenas carruagens colocaram-se em movimento. Não podiam estar muito longe do lugar procurado, se este de fato existisse. E bastou apenas mais um dia e meio para que avistassem o pitoresco templo escavado na rocha, cuja visão pareceu aos olhos de Galério mais espetacular que o grandioso Teatro de Jogos de Roma. Se suas pesquisas estivessem certas, aquele era o remanescente de uma antiga ordem de sábios gregos, cujo conhecimento único e enigmático de certos assuntos não encontrava paralelo nem mesmo nos tempos áureos de Atenas.

Galério ordenou que os outros permanecessem do lado de fora, dirigindo-se para o templo apenas acompanhado dos dois servos para auxiliá-lo no transporte de um pesado baú. Deteve-se por um instante à porta da construção. Nada mais era que uma fronte grega esculpida na rocha, ligando o exterior a aposentos interioranos escavados a desconhecidas profundidades. Com seu conhecimento de grego arcaico, conseguiu decifrar parte das gastas inscrições decorativas, mas o estranho e misterioso nome do deus para o qual o santuário era consagrado lhe era inteiramente desconhecido. Nada indicava que o lugar era habitado, mas as duas pesadas portas de madeira ainda mantinham-se de pé. Galério anunciou sua chegada e, não obtendo resposta, bateu nas portas fechadas com força.

Um longo tempo se passou antes que ouvisse uma resposta do outro lado. A pergunta veio em um dialeto latino do leste, facilmente entendível para o erudito romano. Respondeu quem era e quais suas intenções, ao que a porta foi aberta por um surpreso jovem de aparência anatólia. Galério e os carregadores entraram no escuro corredor que se estendia diante deles.

Passando por alguns aposentos e salões, Galério notou a ausência de referências ao panteão grego de deuses. Na verdade, todo o interior parecia acentuadamente austero, com raras pinturas e esculturas. Passaram por poucos objetos e nenhuma pessoa, dando a impressão de um lugar que outrora fora mais habitado. Por fim foram apresentados a um homem de meia idade e fisionomia egípcia, que os olhou de um modo desconfiado quando o jovem fez seu relato. Com poucas palavras, o egípcio passou a conduzi-los em direção a um portal maior, por detrás de onde se abria um grande salão.

Ao aproximar-se da entrada, percebeu que o salão parecia uma mistura de biblioteca com dormitório. Ali sim havia alguma coisa, enfim: vasos para depósito de pergaminhos e suprimentos, além de alguns móveis de madeira e um amontoado de palha e peles num canto. No centro do aposento, uma mesa com algumas cadeiras. Ocupando uma delas, um ancião de aparência tão antiga quanto o pergaminho que lia. O egípcio trocou algumas frases em uma forma de grego arcaico sobre o qual Galério pouco mais pôde fazer além de identificar como tal. Em um tom neutro, o velho convidou-lhe a sentar. O egípcio saiu, assim como os servos, após depositarem o baú ao lado da mesa.

Galério fez a reverência formal que os antigos gregos faziam para os velhos e sábios, antes de tomar seu lugar e falar as primeiras palavras com o homem.

- Saudações, ó sábio das montanhas! Meu nome é Flávio Galério, cidadão de Roma. Viajei de muito longe em busca deste misterioso templo, cujas raras citações ainda existentes indicam como um lugar de profunda e exótica sabedoria.

O ancião respondeu num latim carregado de estranho sotaque, mas perfeitamente entendível para qualquer romano contemporâneo.

- Sou Antígono de Éfeso, o mais velho e líder dos poucos que habitam este local. Há muito ninguém percorre a estrada para Hattusa até chegar neste santuário, viajante. Nossa ordem é antiga, reduzida, e não passamos de uma lembrança nebulosa enterrada nos pergaminhos mais esquecidos das bibliotecas. Muito me admira que alguns ainda consigam unir pequenos cacos de informação e chegar até nós, pois, é claro, não és o primeiro que vejo bater à nossa porta durante minha vida. Entretanto, ninguém faz tal empresa por nada. Então me diga a que vens, e te direi se podemos ou queremos ajudar com nosso conhecimento.

- Procuro por uma resposta, sábio. Muitos poderiam fornecê-la, devido ao caráter da pergunta. Mas seriam respostas vazias e cegas. Procuro por uma resposta de verdade a uma dúvida fundamental, e acredito que só aqui obterei-as - respirou fundo e concluiu, em tom solene - Pois o que se diz nas obscuras referências à sua ordem é que vocês possuem o conhecimento mais profundo da natureza do deus. Ou dos deuses.

O ancião ergueu uma sobrancelha.

- Deuses? Diga-me que tipo de pergunta você tem sobre os deuses, pois assunto que desperta mais dúvidas nos mortais não há.

- Exato, sábio! E minha dúvida é a mais primeva e basal de todas: quem é o verdadeiro, ou os verdadeiros deuses?

Abriu seu baú, revelando uma profusão de pergaminhos de idades variadas, nos quais remexia enquanto falava.

- Desde nossos mais remotos registros, nós, romanos, adorávamos a um panteão divino que compartilhávamos com os gregos. Tal universalidade de culto entre nossas verdadeiras civilizações bastava para mostrar sua veracidade. Tivemos templos dedicados a cada deus, crônicas tecidas em torno de suas peripécias, rituais para que nos olhassem com bons olhos, fosse na colheita, no amor ou na guerra. Por séculos assim foi, de Rômulo a Dioclesiano, passando por reis, cônsules, césares e augustos.

- Porém, uma nova seita nasce, cresce, e um imperador, conhecido por sua força e sabedoria em outros campos, eleva-a a crença única e oficial de nosso império. De um momento para o outro, Roma renega seus deuses e toma para si um deus único, absoluto, que a tudo criou e que tudo governa. Os antigos templos são desmantelados, os altares são removidos dos salões imperiais e o povo gradualmente muda suas crenças, do mesmo modo que mudaria os calçados.

O ancião apenas escutava em silêncio, com olhos frios.

- E há ainda mais, sábio! Na nova religião, mesmo tendo apenas um deus, nasce a discórdia quanto à sua natureza. Alguns chegam a falar que o um na verdade são três, e outros respondem que na verdade os três são um! Assim se passam as décadas, nas quais os sacerdotes se encontram, discutem, concordam e discordam. E agora, sábio, o que ocorre?

Galério retirou uma volumosa pilha de pergaminhos do baú, despejando-os na mesa.

- Os sacerdotes se reúnem e escolhem quais de suas escrituras são verdadeiras, e quais não são. Não é mais qualquer texto que diz a verdade sobre o deus, tampouco os escritos de todos que foram discípulos do seu enviado na terra. São estes, e apenas estes livros, que agora os sacerdotes consideram como verdadeiros. Apenas algumas dezenas, dentre centenas. Não é o que foi escrito que é divino, mas o que foi escolhido!

Parou por um instante, no qual Antígono apenas olhou de soslaio para os documentos sobre a mesa. Então, o romano prosseguiu.

- Me responda, sábio, você que é versado na sabedoria divina: se o que já foi sagrado agora é herético, e se o que já foi verdadeiro pode se tornar falso, como podem os sacerdotes de agora ter tanta certeza de que estes livros que agora têm em mãos não serão renegados no futuro? E como podem ter certeza de que o deus que povoa estes escritos é o verdadeiro? Diga-me, sábio, se tens estas respostas: quem é o verdadeiro deus?

Um longo momento estendeu-se enquanto a pergunta de Galério, tão pesada quanto a própria montanha que os cobria, reverberava pelas galerias de pedra. Não era difícil imaginar que, fossem quais fossem os deuses do mundo, poderiam vir em pessoa responder. Mas a voz grave que soou na sala vinha não de um ente divino, mas do próprio Antígono.

- Muito estudastes sobre aquilo que os homens preferem não pensar, romano. Por conta disto, fazes as perguntas que poucos se atrevem a fazer. Perguntas que são a gênese e o cerne de nossa ordem, desde antes do meu povo sequer pisar nestas terras ancestrais. Por isso vens até nós, pois tens a mesma dúvida que o nosso fundador. E te digo que, em quase mil anos de indagações, nós obtivemos a resposta. E posso fornecê-la.

O coração de Galério acelerou-se. Suas extensas pesquisas e sua longa viagem haviam de, finalmente, ter chegado ao fim, nas palavras de Antígono.

Este se inclinou sobre a mesa, com a lamparina lançando sombras dançantes em sua face enrugada.

- E a resposta é: nenhum.

Silêncio. Durante vários segundos, Galério permaneceu de olhos vidrados, fitando o ancião, como se esperasse por mais alguma coisa. Por fim, piscou e balançou a cabeça, desnorteado.

- Nenhum?..

- Nenhum, viajante. Nenhum destes deuses dos quais me falaste são verdadeiros.

- Mas... então... onde estão os verdadeiros deuses?...

- Não percebes, viajante? A resposta que tenho é que nem estes, nem quaisquer outros, são os verdadeiros deuses, simplesmente por que não existem deuses. Não há nada neste mundo maior do que a substância do qual eu, você, estes pergaminhos, esta montanha, são feitos. As coisas são apenas do modo como elas são, segundo rumos e objetivos que, se existem, são inteiramente desvinculados das nossas impressões. Quando você olha para o oceano, para as florestas, para os céus, não vê nada além do oceano, das florestas, dos céus. Quando uma guerra explode ou uma paixão se consuma, nada mais ocorre além de uma guerra encarniçada ou uma paixão aventurosa.

- Mas, sábio... E por que então este conhecimento está restrito a estas cavernas?? Como podem todas aquelas pessoas lá fora ver fantasmas nos oceanos e florestas, enquanto vocês vêem árvores e águas??

- Os homens não estão preparados para tal conhecimento, romano. Precisam olhar para as coisas e sentir que há algum propósito em tudo. Não foram os deuses, em seus desejos e paixões mundanas ou sobre-humanas, que criaram os homens. Foram os homens, em sua tentativa de dar algum sentido humano ao que lhes cerca, que criaram os deuses. Talvez em algum momento no futuro, possam desprender-se de suas fantasias, assim como uma criança aprende que não existem monstros sob seu leito. Mas, até lá, seguirão louvando seus ídolos, sejam de pedra, ouro - apontou para os pergaminhos - ou papel.

Nada mais foi dito, enquanto Galério assimilava aquilo que o ancião lhe falara. Depois de alguns minutos, pegou seus pergaminhos e colocou de volta no baú. Sem trocar mais palavras, saiu lentamente da sala, enquanto seus servos se apressavam para pegar o baú. Caminhou para fora do templo e observou a entrada, agora compreendendo o que aquele nome dizia. Com o sol alto no céu, voltou a vista para os arredores, e se perguntou se o que via era realmente apenas o sol, o céu e as montanhas. Não era a resposta que ele esperava. Tampouco uma pelo qual ansiava. Sem saber se sentia-se aliviado, insatisfeito ou vazio, abandonou o Santuário de Atheos e iniciou a penosa jornada de volta a Roma.

* * *

NOTA HISTÓRICA: esta história se passa entre o primeiro Concílio de Cartago (397 d.C.) e o saque de Roma pelos bárbaros visigodos (410 d.C.). Nos Concílios de Cartago e Higona (393 d.C.) ocorreram as primeiras padronizações de livros sagrados da religião cristã; pode-se dizer que a Bíblia foi "criada" neles. A Anatólia corresponde à região da atual Turquia asiática. Hattusa foi a capital do império Hitita, que ocupou a região entre 2000 - 1200 a.C.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

A riqueza da fé

Marina Melz
05/11/2007

Eram poucas as cenas de sua infância que ele lembrava-se tão bem. O avô, um velho ranzinza e muito doente, com os pulsos tremendo olha pra ela pela primeira vez na vida com um pouco de amor, estica os braços já enrugados e flácidos e entrega-lhe aquela que seria sua companheira para o resto de uma vida. “Como prometi há 64 anos, no dia da minha Crisma, criei meus filhos seguindo a palavra do Senhor e te entrego agora o símbolo máximo da minha fé”, disse, com a voz rouca. Pensou ter visto o velho piscar.

Quando conseguiu formular uma pergunta simples – que se resumiria em “o que é isso?” -, olhou para o velho e ele dormia. O menino foi tirado da cama e, sem entender ao certo o que se passara, viu que várias pessoas choravam. Agarrou-se ao objeto que tinha acabado de ganhar, chorou também.

Durante vários anos aquele monte de papéis ficou assentado ao lado de sua cama. Lembrava-se do avô, e acariciava aquilo, emocionando-se ao pensar em como seu avô ficaria orgulhoso em vê-lo naquela cena. Abrir capa e ver o que estava ali não tinha a menor importância, afinal de contas, se era importante para seu avô era importante pra ele também.

Somaram-se mais alguns anos – todos os de uma vida. O menino virou homem. Volta e meia leva o calhamaço para passear. Nunca se importou em abri-lo pra ler. É como se fosse um animal inanimado. Seu avô está ali. A fé dele está ali. E, estar perto de sua mais preciosa herança é terceirizar sua fé.

No leito de sua morte, o então menino, repetiu o gesto de seu avô. Deu a seu netinho aquele monte de papéis já amarelados pelo tempo e disse-lhe que era a herança de família mais importante que existia. Assim que fechou os olhos para descansar – aquele tal de descanso eterno -, seu neto abriu o tal monte de papéis.

No meio das folhas, várias notas antigas e um buraco. Meticulosamente o garoto colocou o dedo indicador e retirou lá de dentro uma peça em ouro e, pelo que os adultos em volta puderam perceber, várias pedras preciosas. Por fim, o neto entendeu de que riqueza da fé que o velho avô falou a vida inteira.

sábado, 3 de novembro de 2007

A Criação

Fábio Ricardo
03/11/07

- Maria, o livro vai ser um sucesso, vamos ficar ricos!
- Que bom, Pedro! Mas... você tem certeza? Essas histórias de ficção que você escreve... não fazem muito sucesso, né?
- Que nada Maria, tive uma ótima idéia, você vai ver. Vou contar tudo como se fosse realidade, como se tivesse mesmo acontecido, em um lugar longínquo, anos atrás. Assim as pessoas não vão saber que é ficção!
- Hum... mas como assim? Sobre o que fala o livro?
- Sobre a criação do mundo!
- Mas um livro de ciências? O que você entende de ciências, homem?
- Ciências não, Maria, vou falar de fé! De crenças, de um homem que salva toda a humanidade, um herói!
- Hum... explica isso direito, homem! Como vai ser esse negócio de criação do mundo? Contar a história do Big Bang, é isso?
- Claro que não, Maria! No livro, a criação do mundo foi feita por um homem, um ser superior, e ele criou tudo e todos! Forte, não?
- Mas e como ele criou tudo?
- Eu tava pensando nisso. Ele vai criar o mundo em uma semana! Cada dia ele cria uma coisa diferente: as montanhas, o mar, os animais.
- Uma semana, homem? Tu bebeu, foi? E dá pra criar o mundo todo em uma semana?
- Claro que dá, Maria! Tô te falando que esse homem é bom, Maria. Ele podia ter criado até em menos tempo, se quisesse. Se ele quisesse, podia ter ficado é descansando no último dia. Isso, Maria, que idéia que tu me desse! Ele vai criar o mundo em sete dias, mas vai descansar no último! Pra mostrar como ele era todo-poderoso, entendeu?
- Ai Pedro, isso não vai dar certo.
- Claro que vai, Maria! Claro que vai! Os homens vão até se emocionar quando lerem! Afinal de contas, o livro vai contar a história da criação do homem também, né.
- Ix... e como foi que o homem foi criado, Pedro?
- Eu bolei uma super frase pra esse capítulo, olha só. “Deus...”, er, Deus é o nome desse meu personagem, tá?... Deus!
- Mas Deus, Pedro?
- É, Maria, Deus! Agora deixa eu continuar. A frase é assim, ó: “Deus então criou o homem à sua imagem e semelhança”.
- Mas como é a imagem de Deus?
- Igual a nossa, Maria, ele é todo poderoso, mas ama tanto sua criação que resolveu criar os homens a sua imagem e semelhança!
- Mas criou como, homem?
- Como assim?
- Como ele criou, ué. Tinha forma? Foi magia? Como foi isso?
- E-eu... e-eu não tinha pensado nisso...
- Ai Pedro... Tu e esses teus livros de ficção... Vamos dormir, homem...
- Não, não, já sei. Ele criou o homem do barro!
- Do barro?
- É, do barro, Maria! Ele pegou o barro, moldou o homem, assoprou e pronto: o homem ganhou vida!
- Assoprou?
- É, Maria, assoprou! O sopro da vida! Olha que lindo... O sopro da vida!
- Tá bom, tá bom... e tem mais alguém nesse livro, ou só esse Zeus?
- Deus, Maria, é Deus!
- Tá, Deus. E tem mais ninguém, não?
- Tem sim, Maria. Como Deus gosta muito de sua criação, ele cria uma mulher pro homem, para ele não ficar sozinho.
- E ela é de barro também?
- Não, Maria, ninguém é de barro não, é tudo de carne e osso!
- Mas você falou...
- Esquece o que eu falei, Maria, aquilo era uma metáfora!
- Ah... e como surgiu a mulher, então?
- Ah, Deus criou a mulher de uma parte do homem.
- Do homem, mas arrancou, assim?
- Não, Maria. Ele fez a mulher do homem, entendeu? Pegou o homem e multiplicou ele pra criar a mulher.
- Mas... tipo um braço? Deus pega o homem e diz: “ô tu, agora tu perde um braço, mas ganha uma mulher”? É isso?
- Claro que não, mulher. Deus pega e faz a mulher da... da... da costela! Isso, da costela dele.
- Tá bom, tá bom, Pedro, e o que mais? Eles vivem aonde, se não tem mais ninguém no mundo, só os dois?
- Ah, eles vivem num lugar lindo, cheio de plantas, frutas e animais. E eles não tem pecado nenhum na alma, eles vivem felizes e tudo é perfeito lá.
- E Deus, não aparece em lugar nenhum?
- Aparece sim! Tem uma hora que Deus pega e expulsa eles daquele lugar! Manda eles viverem na terra, cheia de desgraças.
- Mas por que, homem? Credo, que horrível!
- Não, Maria, Deus é bom. Mas é que o homem fez uma coisa errada, muito errada, e teve que ser castigado.
- Errada como, Pedro? Se lá só tinha animais e frutas?
- Ah, ele comeu uma fruta que não podia. Isso, uma fruta proibida! Uma maçã... é, uma maçã que ele não podia comer.
- E por que ele comeu, se ele era tão puro, que nem você falou?
- Porra, mulher, que saco, não? Foi a mulher, é, foi culpa da mulher. A mulher foi lá, roubou uma maçã da árvore proibida e deu pra ele comer.
- Hum... sei...
- É e tem mais, depois, num capítulo mais pra frente, entram outros personagens, um monte de gente santa e cheia de poderes.
- Sei não, Pedro.
- Sim, sim, tem um que cura os leprosos. E ele chega pro deficiente e diz: levanta-te e anda! E o doente levanta e anda! E ele transforma água em vinho, faz os pães se multiplicarem, faz chover sapos...
- Chover sapos? Éca...
- Hum... tá bom, chover sapos talvez não... Mas tem um outro que até faz o mar se abrir. Ele bate o cajado no chão e o mar se abre.
- Pedro, vamos dormir, vamos?
- Mas Maria, esse livro vai mudar o mundo, entendes, Maria? Vai ser o livro mais vendido do mundo, todos terão em casa, vão acreditar nele. O filho de Deus, Maria, todo mundo vai amar o filho de Deus, e o filho de Deus vai amar a todos!
- Sei não, Pedro. Mas ninguém vai morrer nesse livro não?
- Morrer?
- É Pedro, tu sabe que livro sem morte ninguém compra, homem. Essa tua mania de só fazer história de ficção e toda bonitinha...
- Mas quem eu vou matar na história, Maria?
- Mata Deus, ué.
- Deus? Mas Deus não morre Maria, Deus não morre, não.
- Mata o filho dele, então.
- O filho?
- É homem, mata o filho.
- Mas e daí vai terminar assim, uma história triste? O filho de Deus vai salvar a humanidade, Maria, não posso matar ele.
- Ah Pedro, faz assim então. O moleque tem poderes, não tem?
- Tem sim.
- Então mata e depois traz de volta, ué.
- Trazer de volta?
- É, Pedro. Mata ele, daí todo mundo vai se empolgar com o livro, e ele vai vender um monte. Depois, mais perto do final, tu traz ele de volta. Diz que ele ressuscitou. Se ele pode transformar água em vinho, pode ressuscitar, ué.
- Hum... é uma boa.
- É Pedro, mas faz uma morte boa, né Pedro. Nada de doença do coração não. O povo gosta de ler sobre dor e sofrimento. Faz ele apanhar. Isso, faz ele apanhar um monte, daí pendura ele assim numa cruz, de braços abertos, sangrando um monte!
- Credo, Maria.
- Mas é verdade, ué. Coloca um monte de gente pra açoitar ele, põe ele pra carregar a própria cruz até um cima de um morro, e prega ele lá, O povo gosta de ver sofrimento, Pedro.
- Hum... será que vai funcionar?

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Macunaã

Lá estavam eles novamente. Na campina roçada, sentados em frente àquelas duas toras amarradas. Macunaã não entendia aquela gente. Cantavam com uma tristeza doída. Não como seu povo, que cantava alegre e dançante. Era um canto grave, solene, lamurioso. Um canto triste que choramingava para o homem de chapéu pontiagudo que segurava alto aquele artefato retangular que eles curiosamente veneravam.

— É a Palavra — diziam. Mas Macunaã não entedia. Como se pega a palavra? E porque ela deixava aqueles homens tão tristes?

— É na Palavra que mora Deus — explicavam. Mas Macunaã ainda não entendia. Porque aquele deus deixava os homens tão tristes?

Os deuses de seu povo o deixavam alegre. Com a chuva, com o vento, com comida em abundância. E seu os veneravam felizes, com danças, festas, músicas. Seus deuses não vivam em artefatos tão pequenos. Viviam nas grandes árvores, nos rios, no céu e entre animais. Eram deuses livres. E então Macunaã compreendeu. Ele também ficaria triste se seu deus ficasse preso para sempre. Deuses devem ser livres.

À noite, esgueirou-se silencioso entre as tendas dos homens-de-longe e tomou o pequeno cárcere onde aquele deus triste estava preso. Foi para a campina, onde os estrangeiros oravam pelo seu deus-refém, determinado a libertá-lo para alegria dos visitantes.

Colocou no chão o objeto que se assemelhava a um pequeno caixote, em cuja tampa escura cintilavam dourados ornamentos. Mas não era de madeira ou de barro, nem osso ou pedra. Era macia, como um punhado de folhas retangulares sobrepostas. Só aquela tampa ornamentada era um pouco mais grossa que as demais. Arrancou-a com força esperando ver aquele deus encarcerado lançar-se ao ar; mas nada aconteceu. Notou, no volume que restou, intrincadas pinturas diminutas. Mas na escuridão da campina sem luar era impossível distinguir qualquer sinal. Acendeu uma fogueira e aproximou aquele incomum artefato das chamas. Então pôde ver que as pinturas se repetiam. Mas onde estaria aquele

— Deus! Ele vai queimá-la! — O grito do batedor alertou os jesuítas e capitães-do-mato, que viram chocados o selvagem que destruía as Sagradas Escrituras.

O estrondo do mosquete disparou ruidoso e o cheiro da pólvora tomou a noite na campina envolvendo os europeus. Aos pés das duas vigas cruzadas Macunaã jazia com a bíblia na mão. Não pôde libertar o deus dos visitantes, mas naquela noite, visitaria os seus.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Linha do tempo

Um dia fui pequena, quase desconhecida. O tempo passou e, com ele, fui crescendo. Chegou uma determinada hora que disseram ser eu completa. Puseram-me num pedestal. Acreditavam em tudo o que eu dizia, mesmo que fossem um pouco contraditórias minhas afirmações. Eu era incontestável. Copiaram-me incansavelmente, tornando minha presença obrigatória em milhões de lares. Passei de mão em mão e nem assim fui questionada. Foi aí que alguém teve uma idéia brilhante. Venderam-me!

TEMA: BÍBLIA

O tema desta rodada é: Bíblia

Lembrando sempre que todos os participantes têm como prazo máximo o dia 6 para postar seus contos/crônicas/poesias.

Boa sorte a todos!

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Duelos de Escritores

O Duelo de Escritores ocorre em rodadas de dez dias. A cada rodada, os cinco duelistas escrevem um texto relacionado a um tema proposto. Público e autores então decidem o vencedor, postando comentários no tópico de votação. Aquele que tiver mais votos então propõe o tema da rodada seguinte.

Leia abaixo o regulamento completo:

1) O Duelo de Escritores funciona de forma simples. A princípio, serão cinco os participantes: Fábio Ricardo, Marina Melz, Thiago Floriano, Rodrigo Oliveira e Félix Rosumek. Com o tempo, novos participantes poderão ser aceitos sob aceitação do grupo, sempre de dois em dois, para a quantidade se manter ímpar.

2) O projeto objetiva estimular a criação de obras literárias, assim como o desenvolvimento da criatividade.

3 a) Nos dias terminados com 1 (dias 1, 11 e 21), um dos participantes escolhe um tema. O tema pode ser formado por uma palavra ou conjunto de palavras, que define a linha que os participantes devem seguir. (exemplos: “morte”, “família”, “história de terror”, “o que me faz chorar”, “minhas férias”, “dia do livro”, ou qualquer coisa nesse estilo, atentando para não ser um tema muito “castrador”, como “história sobre a primeira guerra, pelo ponto de vista do soldado”).

3 b) Nos meses com 31 dias, o tema será postado no dia 31, em vez do dia 1.

4 a) Todos os participantes (inclusive o que definiu o tema) têm até os dias terminados com 6 (dias 6, 16 e 26) para escreverem um conto, crônica ou poesia a respeito do tema e postarem no blog (http://www.duelodeescritores.com/). O tamanho é livre, tendo como limite apenas o espaço que o blog aceitar para um único post. Todos os textos devem obrigatoriamente ter um título, além de data de criação e nome do autor.

4 b) São válidos textos de autoria do participante (caso tenha a participação de outro autor em parceria, isto deve ser alertado aos participantes, e pede-se que seja pedida permissão aos autores), inéditos ou não, desde que seja informada a data (pelo menos aproximada) em que o texto foi escrito, caso ele não tenha sido criado especificamente para a participação neste projeto.

4 c) Sugere-se que não se leia nenhum texto postado por outros participantes antes de escrever seu próprio texto para o tema da rodada, para que a leitura não influencie a sua criação.

5 ) Todos os participantes terão até os dias terminados em 0 (dias 10, 20 e 30) para ler todos os textos e votar no seu texto preferido. Não é permitido votar em um texto de sua própria autoria. Os leitores não participantes do Duelo também têm o mesmo prazo para votar no seu texto preferido.

6) O texto mais votado, no final do dia (dias 10, 20 e 30), vence a rodada.

7 ) Em caso de empate no número de votos, o desempate se dá pelos seguintes critérios, em ordem de importância:

1º - Texto que recebeu mais votos dos duelistas.

2º - Texto que foi postado primeiro.

8 ) Nos dias terminados com 1 (dias 1, 11 e 21), o autor do texto vencedor define novo tema para a próxima rodada.

qualquer dúvida: fabio_ro@hotmail.com