quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Tema da Rodada

A-há! Vamos para uma nova rodada de duelos...

E o novo tema é:

7 PECADOS

Duelistas têm até o dia 06/02 para postar seus textos e a votação fica entre os dias 07 e 10/02.
Gostaria de lembrar a todos que os votos do público são essenciais para o desenvolvimento do duelo. Leiam, votem, critiquem e, claro, divulguem!

www.duelodeescritores.com

Sim! Agora ponto com!!!

domingo, 27 de janeiro de 2008

Votos do público

Aviso aos novos leitores que o público também participa da votação do Duelo! Basta postar um comentário no tópico de votação, indicando seu escolhido.

Quem tiver mais votos do público, ganha um voto "oficial", equivalente ao voto de cada Duelista.

Sua contribuição é muito importante. Como o usual, a "escolha do público" muitas vezes difere da "escolha da crítica", o que só torna as coisas mais interessantes. E seus comentários também são mais que bem vindos, sejam elogios, críticas construtivas, ou destrutivas!

Participe!

Votação - Estalactite

Está aberta a temporada de votos do tema Estalactite.

Atire seu voto aqui até dia 30/jan/08.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Texto longo. Prazo curto. Estepe à vista. Ú, supercápsula.

Félix B. Rosumek
26/01/08

A montanha é um grande monte de rochas. Por isso o nome começa com "mont". Não, não deveria ser um monte de banha. É de rochas, pedras, sim. Como muitas coisas, a montanha tem vários buracos. Não, não como os seus. Os buracos da montanha se chamam cavernas. São buracos escuros e úmidos que se estendem muito fundo dentro da montanha. Não, não como aquele buraco. São frios, não quentes. Dentro do buraco, existem coisas. Não, não como aquelas dentro daquele buraco. As coisas de dentro da caverna se chamam estalactites, e estalagmites. Não, nada que estala. São formações rochosas. Não, elas não choram. São pedras, entendeu? Pedras coladas no teto e no chão. Dessas formações corre água. Não, não como aquela água, pedras não choram, já falei. São só gotinhas, sabe? A estalactite é aquela que fica em cima. Ela pinga água na de baixo, a estalagmite. Não, não é sacanagem. Não é essa água também, pedras não fazem isso. Junto com a água, vai um pouco de minerais, e são esses que formam as duas. Não, não é água mineral que pinga delas. Mas é água com minerais, entendeu? Não, sem gás. A água escorre pela estalactite e cai na estalagmite, e assim vai formando a segunda. Não, demora. Sim, mais de uma hora. Sim, mais de duas. Sim, mais de um dia. Sim, mais de uma semana, uma década, um século e o caralho a quatro. A de cima vai crescendo e pingando pela ponta na outra. Não, não como o caralho. Não, a outra não fica de quatro. São pontas, entendeu, duas pontas de pedra, nada mais. Não, elas não são gays. Sim, duas pontas, mas não são. A de baixo também cresce, porque vai acumulando os pingos e minerais da outra. Não, ela não toma a água. Nem os minerais. Nem vitamina. Não, não toma nada para crescer. Já é quase meia noite, estou cansado. Você pode tomar. Não, não a água. Nem os minerais. No buraco, por favor. Não, não no da montanha. No seu. Sim, o quente. Obrigado.

Estalactite

Ela sangra. A ponta da lança se projeta entre as costelas rochosas. Por fora a montanha imponente disfarça a ferida, mas por dentro a caverna sangra. Num gotejar constante, incessante, eterno. Uma chaga que nunca cicatriza, uma lança que nunca se vai. O gemido ecoa pelas entranhas há tanto tempo que ela nem se lembra de quanto. Nem desde quando a lança está lá. Que títere a sustenta?
O ferimento engana. Parece controlado àqueles que vêem de relance. Mas ela sabe que gota a gota, dia a dia, durante milênios, a lança se crava mais profunda, com a ponta atravessando a garganta que geme baixinho, inaudita, sob o aspecto imponente da montanha.

Quem nunca pensou nisso, que atire a primeira pedra

Marina Melz
26 de Janeiro de 2008

- Bom dia, pessoal. Vamos a nossa primeira aula de biologia deste bimestre.
- Ai, gurias, o professor tem cara de nerd, daqueles que vai encher a nossa vida de símbolos estranhos e de palavras que eu nunca vou lembrar.
- Nem me fala... Acho que eu realmente nunca vou entender nada de biologia.
- Nossa primeira aula será sobre as cavernas. Aqui, no primeiro slide, vocês podem ver a entrada de uma delas. As cavernas são formações...
- Alguém aí tem um lixa de unha?
- Ai, esqueci a minha em casa hoje.
- Dentre as formações dominantes nas cavernas são as estalactites.
- Pô, professor, como é que a gente vai lembrar de um nome esquisito desses?
- Só se eu chamar meu filho de escalactite, né? “Bom dia, Escalatitezinha da mãe”...
- Bom, meninas, não sei como vocês vão lembrar, mas a minha mãe adotou esse critério.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Estalactite

Thiago Floriano
23/jan/2008

- Juvêncio Linger da Silva. Por favor, me acompanhe. O doutor Damatta já vai lhe atender.
O pequeno homem caminha apreensivo até o consultório do velho amigo, o Dr. Damatta. Se não tivesse concentrado em sua própria enfermidade, certamente estaria a apreciar o visual daquela jovem secretária que caminhava à sua frente.
- Boa tarde, seu Juvêncio. O que o traz aqui desta vez? – Perguntou o médico em tom familiar.
Seu Juvêncio não sabia como descrever o que sentia. Sentou-se frente à mesa do médico e resolveu falar.
- Há alguns dias estou sentindo uma dor aguda perto da clavícula. É como se houvesse uma faca que me corta mais a cada minuto.
Dr. Damatta ouve atentamente e se põe a examinar o paciente.
- Não há dúvida. O senhor está com estalactite.
O homenzinho suou frio. Estalactite não parecia uma inflamação simples como otite, sinusite ou amigdalite. Era algo mais imponente, mais grave, sem dúvida.Talvez algo semelhante à meningite ou hepatite, quem sabe. A demora do doutor em esclarecer o que falara já o amedrontava. Será que esta inflamação do tal de “Estalacto” era reversível? Será que deixaria seqüelas?
- É apenas um pequeno pedaço, mas vou precisar retirar isso imediatamente – comenta o médico já segurando uma pinça esterilizada. – Fique calmo, respire fundo e diga 33.
- Trinta e AI!
- Pronto. Saiu. E na próxima vez que for a Botuverá, convide os amigos!

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

O esconderijo do Gato

Fábio Ricardo
22 de janeiro de 2008

A lenda conta que tudo aconteceu numa noite gelada de junho de 1954. Um ladrão de bancos, foragido dos Estados Unidos, chegou a Florianópolis com uma pequena bolsa contendo mais de 20 pequenos diamantes, frutos de um assalto a uma joalheria da Riviera Francesa. Avisada pelos órgãos internacionais, a polícia catarinense se colocou na pista do sujeito. Depois de poucos dias, descobriram que o ladrão, conhecido em seu país como O Gato, escondera-se em Blumenau.

A procura foi rápida, e se conta que em pouco tempo uma perseguição cinematográfica se deu pelas ruas da cidade. A lenda diz que o bandido roubou um carro no centro da cidade e fugiu em direção ao bairro Garcia. Seguindo a pista d’O Gato, a polícia conseguiu cercá-lo na entrada das Minas da Prata. O homem se escondeu sem qualquer lanterna nas galerias subterrâneas, e a busca durou toda a noite. Armado com um revólver, O Gato subjugou cada um dos policiais, deixando os corpos já sem vida escondidos em buracos das cavernas, que viraram suas tumbas.

Conta a história de que quando estava quase conseguindo sair, um policial consegui vê-lo. Dois tiros se ouviram. O d’O Gato atingiu em cheio o peito do policial. Isso fez com que o policial errasse o tiro, disparando contra o teto da caverna. A bala atingiu uma estalactite, que se rompeu, caindo diretamente sobre o ladrão de jóias.

O Gato ficou pregado ao chão, com a estalactite atravessada por seu estômago por horas a fio, enquanto os reforços policiais chegavam ao local. Ao revistar o ladrão, a polícia não encontrou qualquer pista dos diamantes. Diz-se que as últimas palavras d’O Gato antes de morrer foram ao ouvido de um dos policiais: “Vocês nunca os encontrarão”.

Até hoje, jovens se aventuram pelas cavernas escuras das Minas da Prata em busca dos diamantes perdidos, sem conseguir encontrar o esconderijo d’O Gato. Até hoje, também, é possível se ouvir, na calada da noite, os urros de dor que romperam o silêncio das galerias subterrâneas naquela gelada noite de junho de 1954.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Tema da Rodada

Aleatoriamente sugerido pelo Aurélio, o tema da próxima rodada será: Estalactite.
Os textos deverão ser postados até 26/01.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Votação - Poesia

Iniciada a votação...

Deposite seu voto nos comentários dessa postagem até dia 20/jan/2008...

Febre

Thiago Floriano
jan/2007

O calor não vem do fogo
Vem do corpo, vem do cromo

Vem do sangue que hora é fogo
Vem do corpo em febre, em chamas

Vem na hora em que me chamas
O calor que já é fogo

Nem me importa se sou louco
Ou se sou lobo
Desde que aceso o fogo

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peço desculpas pelo atraso na postagem, mas ontem à noite não consegui conectar a internet.
abraços

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Poematizar

Não é simples poematizar a vida. Ver em cada sorriso, um verso. Em cada rajada de vento, palavras que se combinam. Não é fácil conseguir buscar no fundo da alma palavras para explicar sentimentos. É ser demasiadamente humano e totalmente emoção.

Por mais belas que sejam as palavras de amor ouvidas numa canção, por mais detalhes contidos numa carta, por mais bela que seja a pintura. Poematizar um momento é torna-lo ainda mais ritmado, ainda mais rico, ainda mais visível.

Poematizar a vida é entrelaçar verbos sem que eles precisem ser escritos, é conseguir ver e rever momentos em câmera lenta e com ainda mais contraste, e com ainda mais brilho.

Poematizar é obter nos olhares das pessoas queridas os maiores holofotes do sucesso. É atingir o ápice ao atingir o alvo com subliminaridade. É sentir-se lisonjeado por ver, mesmo que em silêncio, o poema da vida.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Cansei de ser pedante

Escrito por volta de 2004

Cansei de ser pedante.
Vou ser tosco e desregrado.
Beber Bukowski e cheirar dos Anjos.
Rasgar o verbo na sarjeta literária.

Vou acordar no beco com o beijo dos cães.
Ter versos cantados pra putas de tetas caídas.
Vou vender o Kafka que me restou,
pra comprar um cigarro avulso e literatura de quinta.

O clássico ficou velho. Caduco.
Não me emociono mais com um mictório qualquer,
nem com um neólogodepalavrasgrudadas.

Com o verbo tosco que me resta,
serei pequeno e medíocre.
Vou mandar o mundo,
a arte,
à merda.

E andar fedido pelos becos até que um mendigo me deite veneno ao ouvido.


segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Negro Oceano

Félix B. Rosumek

11/01/04


Infinito oceano, derrama-se lânguido no horizonte

Lambe as costas arenosas onde vagam os amantes

Embalando-os aos suaves murmúrios incessantes

Intercalados pelos brados de ondas que explodem

Sob sua tutela amores nasceram e morreram

Às águas misturaram-se o sangue e as lágrimas

Fossem de alegria, fossem máculas amargas

Todas procuraram ali por suas vagas respostas

Quando? Será? Nunca? ‑ Ou por quê?

Resposta declarada em versos sussurrantes...


Hipnotiza aquele que se detém a fitá-lo

Para de antigas mágoas relembrá-lo

Imenso, assustador, sombrio, encantador

À luz da Lua e das estrelas, ele sente toda dor

Silencioso e impassível, ouve os pedidos

Blasfêmias e agradecimentos, desabafos, desatinos

Quantas foram as vezes em que serviu de consolo

A pobres almas com corações despedaçados?

Poderia alguém lembrar de todas as confissões?

Infernos e Édens, dúvidas e declarações...


(à planície de águas eles lançaram suas indagações

para no sibilar do vento imaginarem as soluções)


De dia emana alegria, na noite pura melancolia

Com espírito inumano contempla a nós, mortais

Com nossas perguntas e misérias, tolos vacilantes

Nosso futuro e objetivo, o destino em nossas mentes

Vivendo para o supra-sumo do êxtase e da dor

O maldito, corrosivo e divino fogo do amor

Buscando o prazer em loucuras apaixonadas

Encarando o Monstro que nos prende em suas garras

Alegria e sofrimento, amor e morte de mãos dadas

A beleza doentia das paixões amaldiçoadas



Tantas almas nos mares imortais do mundo

Encontraram seu destino, à tona ou no fundo

Importaria-se ele de fazer outro favor à raça

E tomar pela mão mais uma criatura em desgraça?

Com passos indecisos, avançaria à linha distante

Pois ali a inevitável paz chegaria finalmente

Cobriria o corpo e engoliria as torturas

E que o mundo o esquecesse sob as águas obscuras

O fim de mais um drama, só mais um humano

Tragado pela imensidão do silencioso oceano...

sábado, 12 de janeiro de 2008

O sorriso mais lindo do mundo

Fábio Ricardo
20/12/04

Nariz com nariz
Raspando de mansinho,
E o sorriso mais lindo do mundo em seus lábios

Cheiro gostoso
Bem de pertinho,
E o sorriso mais meigo do mundo em seus lábios

Olho no olho
Brilhando no escuro
E o sorriso mais cúmplice do mundo em seus lábios

Elogio estranho
Ri achando graça
E o sorriso mais alegre do mundo em seus lábios

Mão na nuca
Por baixo do cabelo
E o sorriso mais doce do mundo em seus lábios

Beijo na boca
Ou pode ser na testa
E o sorriso mais amável do mundo em seus lábios

Música de fundo
Feito serenata
E o sorriso mais gostoso do mundo em seus lábios

Noite virada
Sono escondido
E o sorriso mais feliz do mundo em seus lábios

Olhos fechados
Bochechas rosadas
E o sorriso mais divertido do mundo em seus lábios

Conversa sincera
Sem medo ou vergonha
E o sorriso mais verdadeiro do mundo em seus lábios

Se falando de longe
No dia seguinte
E a certeza do sorriso continuar em seus lábios

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Tema da Rodada

O tema desta rodada é: "Poesia".

Os textos deverão ser postados até dia 16.

Virem-se.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Votação: Fábula infantil

Aberta a votação até o dia 10/01/2008.

domingo, 6 de janeiro de 2008

A corrida

Thiago Floriano
06 de janeiro de 2008

Em um belo e ensolarado dia de verão, a lebre e a tartaruga resolveram disputar uma corrida. Todos os animais prepararam suas torcidas e a festa já estava pronta para esperar o vencedor. A lebre, com toda sua agilidade e velocidade, disparou na frente, enquanto a tartaruga movia-se vagarosamente em direção à linha de chegada. Um galho de árvore surpreendeu a lebre, que caiu e fraturou a asa. A tartaruga, que estava muito pra trás, esforçou-se de tal forma que distendeu os músculos da coxa. Os dois foram levados às pressas a um hospital, na direção oposta da linha de chegada e não completaram a corrida.

Moral da história: aprenda com Homer Simpson, se algo é muito difícil de fazer, então não vale a pena!

PS: A “asa” da lebre era pegadinha mesmo...

Sonho de menina

Marina Melz
06/01/2008

Sei que sonho. Vejo ao meu lado os olhos brilhantes do príncipe da Rapunzel, que com sua bravura encarou todos os monstros e males para estar com ela. Como não tenho um cabelo lá tão comprido e muito menos tão forte quanto o dela, podia ser um pano mesmo, uma corda de camping, até mesmo uma escadinha. Nem me importaria. Ele tem, também, os cabelos loiros da cor do ouro, que, suavemente, balançam a cada passo. Ah, os passos. Cada passo dele parece ter uma incrível capacidade de ser lento e suave, como aquele da história da Branca de Neve. A postura exaltada lembra aquele que dançou com a Cinderela. As roupas, ah, não são lá aquelas coisas. Pensando bem, sem mixaria. Um terno risca de giz, uma camisa salmão e uma gravata preta, talvez com detalhes na cor da camisa. Suspiro fundo, estico os braços. Ele vem vindo. Abro os olhos. Tenho certeza que sonhava.

A Pequena Flor

Fábio Ricardo
06/01/08

Era uma vez uma bela flor, que vivia em um jardim imenso, muito bonito e florido. Todos os dias, quando o sol nascia, ela era a primeira a se levantar, espreguiçar-se e mostrar suas lindas pétalas. Todas as flores do jardim se esticavam, balançavam suas pétalas ao vento, mas aquela era a flor mais bonita do jardim. Dia após dia, o sol nascia e sorria para ela.

Uma pequena flor assistia tudo a certa distância. Ela também fazia parte daquele lindo jardim, mas era tão pequenina, mirrada e magrinha que não conseguia ver o sol. Ela vivia entre os caules das outras flores, e não era tão bonita quanto o restante. Ela era apenas um botão. Um pequeno botão que nunca recebia os raios de sol, isolada entre caules, vendo as pétalas apenas de baixo para cima, no escuro criado pela barreira de flores.

Ela fazia força para crescer e ultrapassar a barreira de pétalas, sonhando em ver o sol e se tornar bela como as outras flores. Se esticava ao máximo, mas não conseguia chegar à altura do restante das flores. As outras flores riam das tentativas do pequeno e magro botão de flor.

Um dia, o inverno chegou. Chegou de repente, sem avisar. O frio atingiu as pétalas das flores, que queimavam aos poucos enquanto seu corpo secava a casa dia que se passava. A pequenina flor não entendia o que estava acontecendo. Estava lá, sozinha no escuro, em silêncio, sem ninguém lhe dizer o que fazer. Ela sentia frio, mas não tinha noção do que se passava. Isolada embaixo de todas as outras flores, que recebiam os primeiros flocos de neve, a pequena flor sentia apenas as gotas geladas da neve derretida, pingando sobre seu corpo frágil.

As semanas se passaram e a pequena flor adormeceu no frio inverno. Quando acordou, notou que mais nenhuma flor se movia. O chão estava úmido da neve que havia derretido e todas as flores ao seu redor mostravam seus caules secos, mortos. A pequena flor se sentiu sozinha, abandonada. Aonde todas as outras flores haviam ido, por que não a chamaram?

A pequena flor, solitária, esforçou-se ao máximo para conseguir enxergar por cima das pétalas das outras flores. Não era possível, elas estavam muito altas, ela não conseguia chegar até as outras. Esticou-se, forçou o próprio corpo em direção ao céu, e nada.

Todos os dias, lutava contra a escuridão na companhia dos caules secos, esforçando-se ao máximo para absorver toda aquela água gelada que molhava a terra, para se impulsionar ao topo. Forçava até ficar toda dolorida, sentindo o corpo se esticando cada vez mais. Ela continuava sua luta, triste por ter sido esquecida por todas.

Pensava que havia sido deixada para trás por ser muito feia, pequena e sem graça. Tantas flores lindas! E ela lá, encolhida entre seus caules. Este pensamento esteve em sua mente todos os dias, dando força para que lutasse para crescer.

Um dia, depois de muito esforço, sentiu que ultrapassara a barreira de pétalas formadas pelas outras flores, que já estavam secas e sem vida. Com muito custo, fez força e abriu-se, transformando-se de um botão em uma bela flor, com pétalas brilhantes e coloridas, sob o sol quente daquela manhã que se iniciava.

A flor, já não mais aquele pequenino e magro botão, espreguiçou-se e sorriu ao ver as belas pétalas. Olhou para os lados e viu que o inverno tinha acabado. Ao seu redor, centenas de outras belas flores, sorriam umas para as outras. Animada, a nova flor olhou para cima e alegrou-se: o sol estava lá, sorrindo diretamente para ela. Ela então percebeu: era a flor mais bonita do jardim.

Conto de Fadas. Sem Fadas.

Félix B. Rosumek

06/01/08


Era uma vez, o Lobo, Senhor da Floresta, Flagelo dos Homens. Perverso e inteligente, esperava na trilha pela próxima vítima. Logo ela apareceu, cantarolante, mechas loiras escapando pelo capuz vermelho. O Lobo esperou ela chegar perto e postou-se, imponente e assustador, diante da pequena. Começou a falar "Olá, menininha... Para onde v..." "TARADO!!!". No próximo momento estava no chão se contorcendo, com a pimenta ardendo nos olhos. A menina sumiu de vista.

Puto da vida, correu por atalhos que só ele conhecia até chegar no chalé. Entrou furtivamente e logo encontrou a doce velhinha fazendo crochê. Atacou-a com selvageria, mas a velhinha revidou. Gemendo de prazer, berrou que há muito esperava por aquilo. Arrancou o vestido, revelando uma lingerie preta caindo aos pedaços cobrindo o corpo octogenário. O Lobo arregalou os olhos e tentou fugir, mas a velha o agarrou com força renovada. Desesperado, o Lobo catou um vaso e estilhaçou na cabeça da velha. Tinha planejado um petisco antes do prato principal, mas só a visão da calcinha preta enterrada entre as nádegas da Vovó já lhe dava náuseas. Colocou o corpo desmaiado no armário, disfarçou-se e esperou pela jovem na cama. Quando ela chegou, mal ele teve tempo de dizer "Olá, minha netin..." para ouvir "TARADO!!! LADRÃO!!!" e estar tendo convulsões no chão, após a descarga do aparelho de choque. Chapeuzinho chutava o Lobo no chão, e a Vovó saiu do armário implorando para a netinha deixar o Lobo para ela. Foi salvo pela chegada do Guarda Florestal, indignado com o que estava acontecendo. Falou que aquele era um Canis lupus¸espécie protegida por lei na floresta, e que elas deveriam responder pelos seus atos na justiça. No berreiro que se seguiu, o Lobo se arrastou para longe da confusão.

Com olhos ardendo, corpo tremendo, coberto de contusões e ainda com fome, percebeu que estava perto das terras dos trigêmeos. Lambendo as feridas, chegou na primeira casa, de palha. Recuperou a pose e falou que se o dono não saísse, ele iria arrebentar tudo com as próprias mãos. Para sua surpresa, a porta se abriu. O Lobo imediatamente perdeu a fome diante da visão daquele porco decrépito. Este informou que sofria de Chagas, já que as paredes do casebre estavam cheias de barbeiros. Ofereceu-se para o Lobo, falando que ele até faria um favor o comendo, pois ele já não agüentava mais conviver com seu fecaloma. O Lobo correu para longe, estômago embrulhado.

Esperou passar as náuseas e foi para a outra casa, de madeira. Foi atendido por uma porca com sete porquinhos magricelas e com barrigas salientes. Ela informou que seu marido morrera de cólera há um ano, e que seria ótimo o Lobo levar alguns de seus filhotes por um preço módico, tendo assim menos bocas para alimentar. O Lobo recusou veementemente e rumou para a outra casa.

Logo deparou-se com uma mansão no topo da colina, cercada de altos muros e com um guarda na porta. Se aproximou do guarda que, Uzi na mão, cumprimentou o Sr. Lobo com um sorriso. O Lobo perguntou o que era tudo aquilo, e o guarda respondeu que o Sr. Prático havia ganhado muito dinheiro com uma nova invenção bélica e construíra aquela mansão. Ou melhor, tomara caipirinha na piscina enquanto os pedreiros construíam. Qual a invenção, o Lobo perguntou, curioso. Algo como um novo sistema de lançamento de mísseis, respondeu o guarda. Fora usado por João para devastar o castelo do Gigante. Sem esperanças de conseguir nada ali, o Lobo foi embora.

Frustrado e morto de fome, caminhou pelas Terras Encantadas, até um tiro estourar sua cabeça. O Lobo morreu na hora, e Pedro vangloriou-se pela sua caça. Quando ia pegar seu prêmio, o Guarda Florestal pegou-o em flagrante e deu a ordem de prisão. Sem se abalar, Pedro deu uma "cervejinha" para o Guarda e tudo ficou resolvido. Hoje o Lobo decora o chão da sala do velho Pedro, onde ele conta para os netos histórias dos tempos em que as lendárias florestas e lobos ainda existiam. Ou melhor, conta para o neto mais novo, pois o mais velho prefere jogar Need For Speed e Guitar Player no Playstation. E todos viveram felizes para sempre. Menos o Lobo, que morreu. E triste. Fim.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Era uma vez.

A torre está vazia. Não há mais princesa, o espelho não é mágico, não há fada madrinha. Sem princesa não há dragão, sem dragão sem ilusão, nem príncipe varão, nem corcel ou alazão. A torre está vazia.

Mas no Shabbath as bruxas dançam. O guerreiro se faz garboso, uma luz na torre acende, ascende o dragão. O menino acorda e o príncipe levanta. Monta o corcel e desafia a imensidão. Cruza terra e cruza o mar. Cascos fazendo onda, espada cortando vagas, cauda de espuma branca riscando o teto de Poseidon. Menino aspira o ar salgado, o príncipe de elmo emplumado, Quixote,Valente, sonhador. Cascos atravessam mares, à planície d’outro lado, e, sobre montanhas, lançam-se nos ares. O cavaleiro com um sopro apaga os vulcões, com um golpe derruba tufões, o trotar deita distâncias ao chão. No horizonte uma montanha, na montanha um castelo, no castelo o dragão. O príncipe apeia, escala a montanha, lá no alto a torre em luz. A capa ao vento rubra, em mais um movimento, a montanha já derruba, é chegado o momento. À frente a besta-fera, vomitando brasa e chama, escorrendo lume e escuridão. O bravo de escudo, com o punho já desnudo, arrebata o dragão. Mas a muralha intransponível não permite intromissão, na torre iluminada onde aguarda um coração. O menino assobia, da infância uma canção, e circundam o jovem príncipe, aves em profusão. Ao cantar do rouxinol, o pintassilgo se achegou. O voar da andorinha, a rolinha inspirou. Tomaram pelas patas o príncipe que a canção acompanhou. E o bater das asas, assaz ritmadas, à torre o levou; que com uma janela aberta o visitante regalou.

Entrando por ali, a beleza esplendorosa. Deitada sob o dossel a amada esperançosa. Inclinou-se sobre a bela, que aguardava um beijo seu. Mas cessou por um momento e o beijo arrefeceu. O menino já dormia para o homem acordar. Amanhã já é segunda, ele deve retornar. A torre está vazia.