terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Cordel de Varginha

Fábio Ricardo
11/12/07


Assassinhora, hômi de Deus
Qu’eu vô te falá uma cousa
Dum trem que não tem lá na cidade
Nem o ‘fessor escrinhevi na lousa
É um troço gozado que avoa no céu
E quando se cansa, na terra ele pousa

Ele é redondo e avoa no alto
Gira bem doido e tem luze piscano
Em cima de mim ele tava parado
Eu vi c’os meus óio num tava sonhano
Se vosmicê acha que não é pussíver
Pode acreditá qu’eu num tô te enganano

Eu tava sentado na minha varanda
Bebeno folgado a minha branquinha
Quando vi lá no alto aquilo avoando
Sobre o céu da noite da minha Varginha
Fiquei assustado com aquela fumaça
Que saía da nave, paricia farinha

O disco pousô, ali mais um pouco
E abriu uma porta bem na minha frente
Assustô os bicho que vive na mata
Que fugiro tudo, tal qual repelente
Mas diferente deles, eu sô cabra hômi
Num tenho medo de lobisôme, fantasma ou serpente

De dentro da nave saiu um dimonho
De cabeça grande e óio esbugaiado
Caminhô divagar, parecia um bêbudo
E parou bem pertinho, aqui do meu lado
Ele era nojento, todo brilhoso
E fedia que nem queijo estragado

Ele alevantô a mão e disse uma cousa
Eu que num sô bobo, dei-lhe um murro na testa
Pois bicho assim feio num quero que avenha
Pr'essas banda que senão vira festa
E eu sô cabra macho, já te falei
E defendê minha terra é o que me resta

Mas voltano pro causo qu’eu tô a falá
O bicho caído se pôs a corrê
Entrou assustado na nave redonda
Meio perdido, sem sabê o que fazê
E a nave avoou e foi-se embora
Má que bicho medroso, vá entendê

Depois desse dia, aqui na Varginha
ET num apariceu nunca mais não
Pode ponhá nessa tua entrevista
Que aqui eles agora arrumaro vilão
É um nordestino que se mudô pr’essas terra
Meu nome é Dejair, neto de Lampião

2 comentários:

Thiago Floriano disse...

engraçado que eu tava lendo e no meio começou a ficar uma leitura com um ritmo estranho... como se o personagem tivesse com pressa de me contar a história... HAHAHA

Rodrigo Oliveira disse...

uai e oxente, pão de queijo com buchada... mistura interessante. mais no texto q na mesa (argh!)