Por Marina Melz
16/12/2007
De: Nave 31598 – Missão Terra
Para: Comando Geral de Missões Espaciais
Assunto: Diário de bordo
Caro comando,
Quando chegamos, tudo parecia exatamente como nos informaram nossos superiores. Mesmo de longe, víamos um grande território verde e muitas valas, que iam de norte a sul da imensa extensão de terra. Depois do deslumbramento há cinco mil quilômetros, estacionamos e começamos a planejar a missão que nos traria o maior dos prêmios jamais concedidos a qualquer nível de estudiosos: desvendar alguns mistérios daquele lugar desconhecido através de uma tentativa de comunicação com algum dos seres que povoavam aquele planeta.
Muito já havia sido descoberto sobre a longínqua Terra. Tudo graças a tentativas frustradas dos seres pouco dotados de envergadura intelectual que invadiram o nosso território achando que seria impossível qualquer forma de vida no que eles chamaram de Planeta Vermelho. Além da imensa tosquiçe pela suposta descoberta, eles não conseguiram encontrar meios de aproximarem-se, por serem extremamente dependentes da temperatura ambiente para sobreviver.
Depois de algum tempo de pesquisa e estudos grandiosos, resolvemos por bem desenvolver uma estratégia simples. Iríamos escolher qualquer um que passasse por nós. Ele seria levado até o nosso espaço, mostraríamos algumas figuras pra ele, estudaríamos sua reação e o devolveríamos ao lugar onde foi encontrado – com sua memória parcialmente pagada, é claro.
Nos aproximamos com cuidado para que os outros não nos vissem e a nossa tarefa de apagar a memória recente não fosse estendida a uma grande massa. Capturamos a tal figura numa espécie de prisão aberta, que depois descobrimos que eles lá na Terra chamam de rua sem saída. O terráquio era quase uma criança, tinha apenas 68 anos de vida e trazia inseparavelmente com ele uma garrafa de alguma coisa que eu não soube explicar o que era a princípio.
Ele emitia uma série de sons estranhos, enrolava a língua ao falar e gargalhava extremamente alto enquanto entrava no nosso disco. Já sentado, começou a entoar cânticos que imaginamos serem de satisfação pela cara e pelos risos que interrompiam a desafinava voz. Mostramos a ele a primeira da série de imagens preparadas: um mapa de um tal de Brasil.
Ao ver a cena, o terráquio levantou-se, colocou a mão no peito e iniciou uma nova cantoria, com palavras que ele nem mesmo sabia do que se tratava – já que não soube nos explicar. Quando pedimos a ele o que aquilo representava, pegou um dos milhares de globos terrestres que estavam sobre uma bancada, colocou no chão e com o pé deu um empurrão na bola, acertando exatamente o meio das duas pernas que seguravam a mesa. Olhamo-nos assustados enquanto ele gritava algo que parecia uma comemoração.
Depois de aguardarmos ele colocar na boca um pouco do líquido que trazia consigo, colocamos uma segunda imagem: uma terráquia quase nua, muito diferente das roupas esquisitas e furadas que ele usava. Imediatamente ao ver a imagem, o terráquio aproximou-se da bancada cheia de monitores e telas de vídeo e começou a dar leves batidas ritmadas. Depois que descobriu um bom compasso para o som produzido, começou a tranças as pernas e quase encontrou o chão diversas vezes com seu jeito desajeitado. Simpático, começou a nos convidar a tentarmos realizar os mesmos movimentos e a tomarmos um pouco daquele líquido.
Não sabemos exatamente o que aconteceu conosco. Fomos tomados por uma alegria incomensurável e imediatamente aprendemos a fazer os mesmos movimentos que ele apresentava. Esses tal de brasileiros devem ter uma fórmula extremamente eficaz contra uma série de problemas, já que essa certamente é só uma delas.
Nosso convidado está aqui ao lado, emite alguns sons que lembram o ronco da nossa Nave quando está em alta velocidade e está com os olhos fechados.
Acreditamos que ainda temos muito a descobrir sobre esse lugar e, por isso, resolvemos estender por mais um ano a missão. Espero que tenhamos apoio de todo o alto comando.
Equipe Nave 31598
OBS: Já conversamos com o terráquio para levarmos amostras da fórmula para aí. Ele nos disse que um tal de Seu Zé do Boteco poderá nos ajudar. Nos encontraremos com ele amanhã.
domingo, 16 de dezembro de 2007
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2 comentários:
Engraça(ic)díssimo... (ic!)
Isso aí. Ao menos alguma coisa nós temos que poder ensinar aos seres "superiores".
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