quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Votação: Conto erótico

Está aberta (ui!) a votação para o tema mais... profundo (ui, ui!) do Duelo de Escritores.

Você tem até o dia 30 de agosto para deixar seu voto. Ele pode decidir quem escolhe o próximo tema.

Vota! Vota! Vota! Vota!

Joe, o Cara

02/10/06

Anne tinha a fama de ser a melhor chupada do estúdio. Depois de catar entre conversas de banheiro uns comentários sobre o assunto, decidi tirar a limpo.

Diziam que ela não era tão fácil assim. Mas eu não me preocupei. Afinal, eu sou Joe. E não me autodenomino Joe Balanoglossus à toa. Para os que nunca se preocuparam em procurar uma alcunha digna do seu cacete, o Balanoglossus é um verme gigante de um metro que vive enterrado na areia.

Procurei Anne numa tarde de trabalho normal. Ela era secretária de um dos figurões da empresa, que já devia ter comido ela de todos os jeitos. O cara não estava, então entrei na sala.

Ela me olhou com cara de surpresa. Não era gostosa como as atrizes top de linha, mas tinha aquela cara que você olha de longe e fala: "é boqueteira".

Cheguei do lado dela, ainda sentada na cadeira, e abri meu zíper. Botei Big Joe para fora. Ela arregalou os olhos, depois arreganhou os lábios. E caiu de boca, sofregamente, como se meu pau fosse um delicioso picolé com recheio de leite condensado.

Não era bem leite condensado, mas veio logo, tamanha foi a força que ela aplicava. Gozei na boca dela, sem avisar. Ela engoliu, parecendo adorar, e buscou até a última gota com a língua. Fechei a calça e saí fora.

Mais tarde, no apartamento, tomando minhas doses triplas de toda noite, fiquei relembrando a cena. Tinha um pedaço de papel com uma caneta sobre a mesa, que a empregada usava para anotar recados. Peguei-o e comecei a escrever.

"Com a boca se abrindo
Chupou-me como louca
E com o cacete reluzindo
Lambeu-lhe toda porra"

Fiquei encantado com minha capacidade poética. Decidi ligar para Rachel e lhe dizer que queria lançar um livro de poesias. Ela não gostou de ser acordada, odiou quando soube que era eu, e ficou profundamente enojada quando declamei-lhe minha obra. Disse que, se eu queria comê-la, não seria daquele jeito que chegaria lá.

Demorei um pouco para convencê-la de que era sério, e passou de profundamente enojada a completamente horrorizada. Perguntou enraivecida se eu queira jogar minha imagem e carreira fora desse jeito estúpido. Respondi que sim e desliguei. Em cinco segundos o telefone tocou e era ela, dizendo que não ia deixar todo seu trabalho ir por água abaixo porque eu era um idiota. Perguntei então se ela toparia trepar comigo para não perder sua maior fonte de renda, e ela se despediu me mandando tomar no cu e dizendo que "louca" e "porra" era uma rima péssima.

Acabei de entornar minhas doses, relendo as linhas e pensando no meu livro, Como o usual, dormi bêbado no sofá. Quando acordei no outro dia, reli o papel, amassei e joguei fora. Realmente, a rima não era tão boa assim.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Lábios

Riam sem parar. As maçãs do rosto já doíam, o abdômen contraído também reclamava. O efeito do álcool já tinha chegado há muito à cabeça. Entre risadas e olhares, as mãos se encontraram sem querer. Depois das mãos, foram os lábios. E como numa seqüência óbvia de fatos, os corpos logo se procuraram.

Primeiro as mãos trêmulas desabotoaram a blusa, deixando os seios fartos à mostra. A peça de roupa foi jogada ao chão, assim como a lingerie delicada abaixo dela. As outras mãos logo fizeram o mesmo, deixando os dois corpos a se observar.

Bruna inclinou-se para frente e, com a ponta da língua para fora da boca, passou a lamber o mamilo rosado em movimentos circulares. Um gemido preso no fundo da garganta escapou baixinho, quando Sofia mordia os lábios e puxava os próprios cabelos junto à nuca. O tesão tomou a menina, que de santa, já não guardava nenhum pudor. Agora era ela que avançava sobre a mais experiente, tentando, desajeitada, dominar a situação.

Não sabia direito o que fazer, não conseguia decidir onde se demorar mais, que lugares buscar e até onde queria chegar. Frente ao nervosismo da amante novata, sua amiga uniu as pernas, esticou-se para trás e disse, com a voz mais melosa do mundo: “tira”.

As mãos assustadas percorreram as coxas bem torneadas subindo pelos quadris por baixo da mini-saia. Sentiram as tiras laterais da calcinha e a puxaram para baixo, suavemente. Bruna fechava os olhos, sentindo o prazer da liberdade. Quando a calcinha chegou aos joelhos, Sofia deixou que caíssem ao chão, enroladas junto aos tornozelos.

A reação foi automática e os joelhos afastaram-se, deixando à vista aquilo que Sofia nunca soube querer. Hesitou por alguns instantes, mas o olhar de Bruna a convidava para aventurar-se em sua carne. Sofia aproximou-se lentamente e começou a lamber a parte de dentro das coxas da colega de classe, enquanto esta se contorcia de prazer. O sofá logo estava molhado de suor, e deixava de ser confortável para as duas amigas que já não conheciam mais censura ou razão.

Bruna pegou a mão de Sofia e fez com que a seguisse até o quarto. Apagou a luz e caminharam juntas até a borda da cama. A mais tímida das duas sentou assustada na ponta do colchão, sem saber ao certo se escondia o corpo com os braços, enquanto a mais experiente acendia o abajur ao lado da cama. Sofia se deitou, ainda receosa, e repousou a cabeça no travesseiro verde desenhado de fadas. Bruna aproximou-se pelo pé da cama e sentou ao lado da amiga. Desabotoou lentamente a calça jeans e puxou com calma, para não assustar ainda mais Sofia, que respondeu com um sorriso tímido.

A língua quente de Bruna logo chegou à virilha de Sofia, que gemeu sem conseguir se conter. A saliva se espalhava pelas coxas, pela barriga e por cima da calcinha. Quando o corpo de Sofia relaxou, involuntariamente, Bruna puxou a calcinha para o lado e, sem tirá-la, lambeu com vontade o sexo úmido de sua parceira, que largou um suspiro fundo e sem vergonhas. A língua percorreu cada centímetro de seu sexo, oferecendo prazeres que ela nunca pensara ser possíveis de existirem.

Sofia sorriu, gemeu, suou. Entrou em um torpor que se apossou de cada um de seus músculos, um por um. Naquele instante, esqueceu do ex-namorado, dos pais conservadores, de seus medos e pudores. Naquele instante, gritou de prazer e foi feliz.

Emanuella e Leonardo

Era a segunda vez que ela entrava por aquela porta. No grande candelabro que pendia do teto, as luzes despertaram iluminando a sala. Emanuella pôde rever o lugar onde tudo começara. Os quadros na parede, o piso claro contrastando com os sofás negros estampados onde ela estivera sentada da última vez. Leonardo fechou a porta fazendo-lhe sinal para entrar. Ela sentou deixando de lado a bolsa, observando com o canto do olho ele se aproximar e parar na sua frente, de pé. Ela levantou a cabeça aparentemente meio tímida, mas com um sorriso maroto nos lábios, ajeitando o cabelo atrás da orelha. O rapaz a olhava sorridente e, tomando-a pela mão, fez com que levantasse.

— Não quer ficar na sala? Ela perguntou sorrindo nos olhos dele.

— A sala você já conhece, você não queria ver a minha biblioteca?

— Aquela que você disse que ficava na estante ao lado da cama? Falou piscando com malícia.

Ele apenas sorriu e, de mãos dadas com ela, saiu pela porta rumo ao corredor que levava ao interior da casa. Pelo corredor, cruzaram a cozinha e logo depois uma porta fechada. Vendo que o olhar de Emanuella se deteve ali, Leonardo antecipou-se:

— É o porão. Não tem nada demais. Nada que você vá gostar de ver, de qualquer forma. Só coisas sem valor e pouca luz. Ele disse, enquanto passavam por uma escada que levava ao sótão.

— Uh! Um sótão! Sou apaixonada por sótãos. Acho tão legal.

— Mesmo? — ele perguntou — Eu também! Mas agora ele tá um pouco bagunçado. Muita coisa velha. Tenho que tirar um tempo pra fazer uma boa faxina e abrir espaço pra móveis novos.

— Sei... E um dia você me mostra? Ela perguntou com os olhos brilhando.

— Só se você se comportar, Ema. Ele brincou em resposta.

Ela aproximou o rosto dele, desafiante, e perguntou: — E se eu não me comportar, Leon...

Antes que ela terminasse a frase, ele a tomou pela cintura e cingiu-lhe os lábios com um beijo ofegante, intenso. Quando os lábios se afastaram ela aproximou a boca do ouvido do rapaz e sussurrou: — Você não ia me mostrar a sua biblioteca?
Ao atravessar a porta no final do corredor, ela conheceu o quarto. Um armário simples em uma parede; no centro uma grande cama de casal, guarnecida por apenas um criado mudo e, na outra parede, ao lado da cama, uma estante de madeira branca bem acabada, destacando o colorido das capas de livros. Ela aproximou-se devagar da estante, sentindo as mãos de Leonardo tocarem-lhe o vestido sobre os quadris, e seu respirar logo atrás de si, arrepiando-lhe a nuca delicada.

Ela percorreu com o dedo, de cima a baixo, a lombada do Madame Bovary, lembrando das piadas daquele primeiro encontro e sentindo o zíper escorregar-lhe pelas costas, da nuca até a cintura, mimentizando o movimento que fazia no livro. Sentiu na orelha o hálito quente, ouvindo baixinho a respiração de Leonardo, enquanto o vestido escorria-lhe pelo corpo, pousando no chão. A pele arrepiou-se sentindo o homem às suas costas e todos aqueles tantos, na estante, a sua frente. Desvendando-lhe a nudez da lingerie que despencava do corpo indo unir-se ao vestido aos pés da estante. Ela com as mãos passando pelos livros, descobrindo-lhes as capas, enquanto ele, também com as mãos, percorria-lhe o corpo, descobrindo-lhe os segredos. Ela, que estava diante de tantas histórias, sentia-se cada vez mais envolvida pela sua. Sentiu o jeans roçar-lhe a coxa enquanto descia, e sentiu-o passar pelas panturrilhas a caminho dos tornozelos de Leonardo. Pousou as mãos da estante, em suspense, tocando com os dedos o Marquês deslumbrado por seus Crimes de Amor. Passaria ele cento e vinte dias assistindo aquele corpo arrepiado, de seios eriçados nus oferecendo-se a ele. Emanuella sentiu o rijo contato com um arrepio, inclinando os seios de menina quase a tocar o rosto de Nabokov, provocando o russo, entregando-se ao brasileiro. Leonardo lhe cingiu as ancas com as mãos enquanto ela lhe cingiu o falo com o sexo quente. Entregaram-se um ao outro, ritmados, envoltos por tantas histórias; ela sendo possuída por todas. Uma das mãos lançadas atrás, agarrada à coxa do consorte, enquanto a outra já apertava Sade com força crescente, que se deleitava sob as unhas da espanhola. No pescoço, sentia os dentes de Leonardo em contraste com os lábios macios, e o roçar de uma barba de três dias. Do alto, invejoso, Stoker empoleirava-se gótico, qual gárgula sedento. Olhando por sobre o ombro, Emanuella matou a própria sede dos lábios de Leonardo. Lábios nos lábios, línguas nas línguas, sexos nos sexos. Ela pressionada entre o brasileiro e todos aqueles na estante, num ritmo cada vez mais intenso. Os dois ofegantes, provocando todas aquelas histórias com a sua, muito vívida, mais quente, mais úmida. Com mão lançada para trás tocou o abdome do rapaz afastando-o. Apenas espaço e tempo suficientes para virar-se de frente para ele e puxá-lo de volta de encontro aos seus seios. Os corações batendo-se um contra o outro, precisos, velozes. Os sexos, separados, se reencontraram num beijo úmido, as línguas se abraçaram nas bocas quentes. E pernas espanholas envolvendo a cintura que retornava para ela. As mãos dele agarrando lhe as coxas enquanto suspendia o corpo pressionado à estante. Às nádegas ofertadas a um velho safado que se divertia com as crônicas daquele amor louco, enquanto, ao seu lado, três meninas perdidas saiam dos quadros de Moore para acrescentar mais aquela história as suas.

A estante tremia com os amantes, todos num mesmo ritmo. Cada vez mais intenso, cada vez mais acelerado, com um balançar frenético que expeliu os livros. Emanuella com braços e pernas envolvendo Leonardo sentia escorrer os livros ao chão, a estante aliviada, as capas abertas, ouvindo apenas o arfar satisfeito da realização dos amantes. Ela no colo dele, ele envolvido por ela. Ambos cercados por uma história que não caberia em nenhuma estante. Não caberia em nenhum livro. Não caberia naquela noite. Nem em mil e uma outras.

Aniversário

26/agosto/2008


Chegou em casa, cansada, após um dia inteiro de trabalho. Colocou a chave na porta e abriu. No outro lado, ele aguardava ansiosamente para saber a reação dela ao ver aquele arranjo todo. Ela já estava preparada para desabar em lágrimas ou voar no pescoço dele assim que aparecesse, mas pelo visto, ele não estava em casa. As luzes todas apagadas, silêncio absoluto, e ele escondido no quarto a esperar o momento mais oportuno.


Aniversário de casamento. Ela não entendia como ele pôde esquecer aquela data tão especial para os dois. Não mandara flores, não servira café na cama, sequer um abraço apertado seguido de parabéns. Nem mesmo uma carta, como costumava mandar nos aniversários de namoro. Nem uma música, nem um poema. Nada. Sim, ela estava prestes a desabar. Só se ouvia o som de seus suspiros, cada vez mais profundos. Não tinha forças para ligar a televisão ou caminhar até a cozinha para comer alguma coisa. Seu estado era de torpor. Um esquecimento desses era brutal pra uma mulher romântica, acostumada com tantos mimos. Começava a pensar o que tinha feito de errado, se ele ainda a amava. Será que estava sendo traída? Passava de tudo por aquela cabeça aflita.


No quarto, ele já estava cansado de esperar, mas não desistia de sua idéia inicial. Cada minuto parecia levar séculos para passar e nada dela aparecia à porta. Não conseguia ver nem sua sombra, afinal, não existiam luzes fora do quarto. A porta entreaberta não deixava escapar a luz das velas postadas sobre mesa. O champanhe estava bem gelado, mas a comida estava esfriando. Se ela não entrasse logo, ele precisaria mudar os planos.


Ele contava com a sorte. Começava a ouvir passos lentos e, atento, preparava os detalhes finais que precisavam ser finalizados na hora. Quando viu a mão dela sobre a maçaneta, apertou o botão que dava início a uma sessão nostálgica de músicas românticas. Olhando as estrelas... nada no espaço... fica parado... no lugar...



Sem conseguir respirar direito, assustada com o som que surgira de repente, parou diante da porta levando alguns segundos (eternos) para avançar porta adentro. Foi quando viu seu quarto decorado, os pequenos detalhes da mesa cujo castiçal imponente servia a luz das velas à refeição meticulosamente planejada, as cortinas novas, que davam um clima todo especial para o ambiente, e sentiu as lágrimas que corriam sobre seu rosto. Sentia como se cada lágrima percorresse todo seu corpo deixando as pernas trêmulas. Tinha borboletas no estômago.


Como num passe de mágica, ele apareceu e a tocou suavemente, segurando sua cintura e aproximando a boca de seu pescoço gentilmente despido. Aquele era o aroma do amor, que contagiava o quarto e acendia a paixão entre homem e mulher. As curvas do corpo dela, acariciadas com todo o carinho e toda volúpia que se pode imaginar, saltavam em forma de sombra nas paredes (parece que até elas, as paredes, queriam participar desse momento mágico).


Colocando uma das mãos atrás da cabeça dele, fazia com que se aproximasse ainda mais de seu semblante, marcado pela emoção. Ele percorria a pele dela, cobrindo-a de beijos e carícias até o instante em que ela não resistiu. Virou-se com vigor e beijaram-se como se fossem amantes de primeira viagem, lançando-se um ao outro com o ímpeto que só a paixão proporciona. Um fogo, vindo do corpo, complementando o outro que está na alma.


Nenhum deles conseguia lembrar da comida esfriando ou do champanhe esquentando. Caíram em seu próprio leito com a delicadeza de quem dança a mais formosa das danças. Olharam-se nos olhos e viram um no outro o céu estrelado de seu primeiro encontro. Mergulharam intensamente nos seus próprios sabores e se permitiram levar, voluptuosos, ao mundo já conhecido de seus prazeres, no qual sempre encontram recantos incógnitos para explorar.

Fissura

Era como todas as noites. Ele chegava cansado, ela já estava na cama. A tevê ligada mostrava os sinais de uma rotina. Ele deitou com cuidado para não acordá-la. Assim que levantou as cobertas, ela virou-se. Vestia uma lingerie preta e estrategicamente escolhida para que a meia luz da tevê mostrasse apenas o essencial. Levantou-se, encarou o então imóvel namorado. “Muito cansado pra mim?”.

Começou pelos pés. Sabia que ele sentia arrepios neles e mesmo que aquela fosse a parte que mais detestava em todas as pessoas, o pé dele era lindo. Fez alguns carinhos, aproximou-se e deixou que o pé dele percorresse seu corpo enquanto as mãos chegavam à barriga. Quando passou, sentiu o olhar de clemência. Ela sabia que ele queria que ela parasse ali.

Olhares diziam mais do que qualquer palavra ousasse representar. O silêncio era cheio de sensações e calores. Ela insinuava-se, enquanto ele se mantinha imóvel. Fez com que cada pedaço da pele dele se arrepiasse. Não deixou que ele tocasse nela. Arrancou suas roupas mínimas com suas próprias mãos, deixando a nudez simples e a meia luz fazer com que ele perdesse ainda mais o pouco de controle que ainda tinha.

Deitou-se nele. Encarou-o nos olhos. Deixou que seus lábios tocassem os dele, sem sequer insinuar um beijo. Ele tentou segura-la pela cintura. Ela juntou as duas mãos em cima da cabeça dele. Fuzilou seus olhos e ele entendeu. Largou calmamente, sentindo vir do corpo dele um calor que fazia com que ambos suassem.

Devagar, beijou-lhe suavemente a nuca sem pressa. Colocou a mão embaixo da cama sem que ele percebesse. Deslizou sobre a pele dele com as mãos geladas e em meio a expressões de susto e o arrepio da pele dele, repentinamente parou. Dois segundos de cumplicidade e ele toma o controle da situação.

- Gostou da surpresa, amor?
- Lógico. Boa noite, baby – virou para o lado.

Sofia fez uma nota mental de nunca mais tentar agradar aos homens com roupas, carinhos e sensações especiais. Depois apagou. Afinal de contas, os homens nunca entendiam que elas faziam tudo aquilo pelo seu próprio prazer.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Novo Tema

Isso aqui está muito comportado ultimamente.
Tá na hora de voltar a deixar as coisas mais apimentadas.
Tema da vez: Conto Erótico.
Todos têm até o dia 26 pra postar seus textos. Inspirem-se e boas escritas.

sábado, 16 de agosto de 2008

Votação: Histórias de Olimpíada

Está aberta a votação para o tema Histórias de Olimpíadas.

Você pode votar até o dia 20 de agosto e escolher seu texto favorito.

Seu voto pode decidir quem será o campeão da rodada. Vote!

Escasso e excesso (Informação e Olimpíada)

Falta água, telefone, esgoto.
Sobra futebol, ginástica, basquete.
Falta roubo, crime, invasão.
Sobra treinamento, garra, suor.
Falta emprego, saúde, habitação.
Sobra estratégia, dor, técnica.
Falta diversão, segurança, investimento.
Sobra narração, emoção, torcida.
Falta Brasília, Rocinha, Brasil.
Sobra Beijin, Vila Olímpica, China.
Falta o dia-a-dia, a realidade, o que é de todos.
Sobra o raro, o sonho, o que é de poucos.
Falta a verdade, a medalha.
Sobra a Olimpíada, a decepção.

Brasil, o país do...

16/agosto/2008

Maikel Felpes da Rosa Filho, brasileiro, solteiro, natural de Blumenau/SC, sempre quis entender porque o Brasil é conhecido como país do futebol. Ele já comemorava seu décimo aniversário e nunca tinha comemorado sequer um título de seu país nesse esporte. Acompanhara bem de perto as copas de 2038 e 2042, além das Olimpíadas de 2040, e não lembrava de algum grande feito do futebol brasileiro. Tinha lá um time razoável no masculino e um bom time no feminino, mas nada que pudesse incomodar as grandes potências africanas.

Seu pai lhe ensinara desde cedo que deveria seguir o exemplo de determinação daquele que deu origem a seu nome, o maior ídolo do esporte olímpico de todos os tempos: Michael Phelps, o nadador que conquistara 21 ouros olímpicos ao longo de sua brilhante carreira, entre 2004 e 2016. Sendo assim, incentivou o pequeno Maikel Felpes Filho a praticar esportes desde muito novo e decepcionou-se ao saber que o pequeno seria jogador de vôlei. “Mas por que vôlei?”, indagava desesperado.

Aos poucos, o pequeno Felpes ia mostrando que não seria mais um em quadra. Destacava-se a cada ano que passava. Conhecia os antigos ídolos da modalidade que mais trazia títulos à terra tupiniquim. Lembrava do saque “jornada nas estrelas”, característico de Bernard nos anos oitentas e reutilizado por Tande nos noventas. Citava estrelas como Giba e Nalbert, que marcaram época no início do novo milênio, entre tantos outros astros do voleibol brasileiro.

Mailkel Felpes, o pai, queria que o filho jogasse futebol, afinal, o Brasil é o país do futebol. Lembrava dos tempos gloriosos contados por seu avô, que vibrava a cada gol de romário em 1994 e não cansava de contar sobre o gol de falta do Branco contra a Holanda. Mas tudo parecia muito longe da realidade. O pequeno Felpes nunca vira um espetáculo de futebol internacional de alto nível ser vencido pela seleção brasileira.

Nos seus sonhos de cada noite ele sabia que queria uma medalha de ouro em uma olimpíadas, e tinha convicção que pra chegar lá, o caminho mais fácil era ser um bom líbero no esporte que mais deu alegrias ao seu país nas últimas quatro décadas. Treinava, treinava, treinava a cada dia para ser esse campeão. Mas seu desafio mais duro era convencer seu pai de que, na verdade, o Brasil é o país do voleibol.

Prova da madrugada

Todos a postos. Homens fortes, peles suadas, todos enfileirados, cada qual em sua raia. A pipoca, a coberta, o colchão jogado no chão da sala. Phelps bate o recorde mundial. João Paulo ronca pela terceira vez na noite. Jade cai na prova de solo. Joiciane cai no sono. O vôlei de praia ganha no sufoco. A pequena Ana Paula é a única que continua acordada, madrugada adentro. A dupla se classifica. João Paulo vai acordar com torcicolo. César Cielo Filho bate o recorde olímpico. Joiciane vai perder o horário agendado no salão. O Brasil ganha sua primeira medalha de ouro. Jefferson goza, vira pro lado e dorme. O quadro de medalhas é atualizado, o Brasil continua no final. Nicolle vai dormir mais uma noite se sentindo usada.

Jogos olímpicos

16/08/08

"A maior celebração da paz mundial segue hoje com novas competições e atletas em busca do primeiro lugar. Teremos uma grande rodada e esportes coletivos com a...".

Os homens se preparavam na concentração. A fala era pouca, a voz mais atuante era a do narrador televisivo.

"... grupos de homens e mulheres se enfrentarão num embate sem guerra, onde apenas um emergirá com o ouro, mas todos serão vencedores..."

O clima era tenso, mas todos no aposento tinham a mente tranquila. Era para aquilo que estavam ali. Era seu foco. Seu objetivo. Sua vida.

"... o espírito olímpico permeia a todos, atletas e público, como se pode ver no emocionado abraço das vencedoras da competição de ontem no pódio e a ovação da platéia local para..."

Em breve, os homens confrontariam outros onze. E não poderiam errar. Pequenos deslizes e anos de preparação poderiam ir por água abaixo. Era hoje. Ou nunca.

" pois o esporte apaga as diferenças e une os homens. Um enfrentamento pacífico onde corre apenas suor e não sangue, e onde o prêmio é a glória e não a morte..."

Fecharam os zíperes das malas, pegaram as máscaras e checaram por uma última vez as balas. Uma nuvem cobriu o sol que banhava Munique. Aquele setembro seria realmente negro.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Os Irmãos van Loon (ou A Mulher de Prata)

O verão belga era agradável. O sol esquentava sem tornar-se demasiadamente quente. O clima de euforia e as cores e festejos e esperanças e sonhos transbordavam. E o mundo, que deixava as marcas tristes e monocromáticas de uma guerra, hasteava uma bandeira branca, com cinco anéis coloridos. Uma bandeira jamais vista, em nação alguma. Uma bandeira para todos. Sob ela, nove homens, um sonho, um objetivo. Dourado como o sol do verão belga. Como os cabelos da bela moça que, da arquibancada próxima, assistia as disputas mais acirradas. O olhar percorrendo os corpos de músculos suados expostos. Homem a homem. Ela conferiu cada um dos competidores, uns atrás dos outros de um lado. Uns atrás dos outros do outro. Entre eles, apenas a corda estendida, tensionada, disputada pelos dois times. Os últimos homens da delegação dos Países Baixos eram os van Loon. Envergando juntos o azul, branco e vermelho, eram a âncora que suportava a equipe, enquanto os outros se encarregavam de puxar para si a corda e, com ela, os adversários. Eles sabiam que, se quisessem se sagrar campeões, teriam de confrontar-se com as suas próprias cores, a favorita Grã-Bretanha, finalista das últimas olimpíadas. Mas eles tinham a âncora holandesa. Os irmãos van Loon. Willem e Antonius.

Mas quiseram os deuses olímpicos que o sol brilhasse nos cabelos louros daquela moça. E que seu olhar se detivesse sobre os van Loon. E entre os jogos, ela se encontrava secretamente com Willem e com Antonius, sem que um soubesse do outro. E quiseram os deuses que, inspirado pelos anéis estampados na bandeira branca, Willem lhe propusesse também um anel. Casar-se-iam, conforme os planos do van Loon mais velho, após os jogos, e ela retornaria com ele para os Países Baixos. Mas a moça, confusa e ofuscada pelo esplendor dos atletas, apaixonada por ambos, prometia-se também ao mais moço dos irmãos. Propusera-lhe Antonius que ficassem juntos após os jogos. Ele ficaria na Bélgica com ela, para muitos outros verões, deixando que a delegação retornasse sem ele à terra natal. E foi o fio louro de cabelo que acabou com a âncora holandesa. A maior esperança do cabo-de-guerra dos Países Baixos perdeu-se na disputa, não pela vulgar corda olímpica, mas pelo delicado fio sedoso dos cabelos de uma belga.

A moça não conseguia decidir-se entre apenas um dos irmãos. Eles, apaixonados e cegos pelos radiantes cabelos ensolarados, cravam-se como âncora no solo e angariavam vitórias no torneio, junto com seus companheiros. Finalmente a grande final se pintou toda de azul, vermelho e branco. De um lado, a equipe britânica, do outro, os Países Baixos. Entre eles, uma corda. E uma mulher. A moça de cabelos cor de ouro sentou-se na primeira fila para torcer por seus amantes. Sorrindo-lhes e acenando, ambos tomavam para si os gestos. Mas quiseram os olímpicos que a moça de cabelos de ouro, tornasse-se a mulher de prata. E foi, ironicamente, o anel de ouro na mão da moça, que tirou o ouro da mão dos van Loon. Com o sol batendo-lhe nas madeixas louras, ela levantou a mão e, sorrindo, fez com a cabeça um sinal afirmativo que abriu um sorriso imediato no rosto de Willem, cuja alegria lhe rendeu forças para cravar-se ainda mais profundo no solo, selando qualquer chance dos britânicos moverem-no. Com isso o time dos Países Baixos retomou a ofensiva, puxando os adversários e arrastando-os com a corda. Mas o sorriso de um van Loon, foi a desilusão do outro. Ao perceber sua derrota para o irmão mais velho, ao perceber que perdera sua amada, Antonius perdeu também as forças. Partiu-se então a âncora holandesa, e afundou o sonho dourado. A mulher de prata assustou-se ao ver os britânicos arrancarem os seus desafiantes do chão e, com corda e adversários puxados para o seu lado do campo, sagrarem-se campeões do cabo-de-guerra das Olimpíadas de 1920. Mais assustada, ficou a moça ao ver seu futuro marido aturdido sob os punhos e insultos do irmão mais novo. Assustou-se ainda mais quando a violência generalizou-se na arena, entre o próprio time. Amargurou-se quando Willem, sabendo de tudo, desistira do casamento.

A lembrança do ouro perdido dos van Loon restou cintilante no dedo da mulher de prata. Desde então, nunca mais houve outro campeão de cabo-de-guerra nos jogos olímpicos.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Tema

Rodrigo pediu que eu postasse o tema para ele, então lá vai.

O tema escolhido por ele para essa rodada é: Histórias de Olimpíadas.

Todos têm até o dia 16 de agosto, sábado, para escrever e postar.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Votação

Está aberta a votação do tema "Duplicação da BR-470" até o dia 10/08/08.

Para ajudar a decidir quem será o vencedor basta comentar neste post indicando qual foi o melhor texto da rodada.

Abraços!

Game over!!!

06/ago/2008

Fechou a porta do carro e a chave foi direto para a ignição. Vrumm. Vrumm. Ele não sabia dirigir, mas isso não seria problema. Pra quem usa as tecnologias de um computador um carro não pode ser tão complicado assim. Vrumm, vrumm. Ele tentava se acostumar com os pedais, um pouco menos sensíveis do que aqueles que costumava pisar no videogame e nos fliperamas. VRuummm. Engatou a primeira já esticando os giros do motor. O carro berrava, chorava, e aumentava de velocidade. Prestes a fundir o motor, sentiu o alívio da segunda marcha, mas o pé do garoto continuava no fundo e, logo, a segunda também seria pouco. Seguiram assim até atravessar a ponte entre Itajaí e Navegantes na BR 101 e logo entraram no trevo que dá acesso à 470. Irritado por encontrar um caminhão à frente, o garoto resolve duplicar a rodovia. Vira o volante para a direita, entra no acostamento como se fosse uma segunda pista. Com a visão obstruída pelo caminhão, não vira o que o esperava na “outra pista”. Encontrou a velocidade e a emoção que queria, mas também aquilo que imaginava só acontecer com os outros. Só deu tempo de ouvir dois gritos desesperados e o som das ferragens de uma moto se retorcendo por baixo do carro. Ele ainda não tinha aprendido que nem todos os jogos permitem reinício.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Infinita BR

06/08/08

Você me faz correr demais

Os riscos desta highway

Yeah, man... Riscos é o que não falta aqui... Maldita estrada tosca. Não vejo quase nada. Se alguma vaca resolver passear à meia noite, que Deus tenha piedade dela. E de mim.

Você me faz correr atrás
Do horizonte desta highway

Antes fosse, meu velho. Infelizmente o que me faz correr não é ela. Por sinal, ela está exatamente na direção oposta... Cara, preciso de outro cigarro...

Ninguém por perto
O silêncio no deserto
Deserta Highway...

Não tanto quanto deveria. Eu querendo voar baixo a essa altura da minha vida, e tenho que ficar me preocupando com as tartarugas que dirigem morrendo de medo na noite. Se os caras não se enrolassem tanto com essa baboseira de duplicação pra lá, para cá, blábláblá... Ei, velhote, se quer dirigir assim devia ter saído de patinete! E ainda acha ruim... Droga, eu poderia estar mais sozinho. Ou não tão sozinho... Só o cigarro e o uísque. Nada dela...

Estamos sós
E nenhum de nós
Sabe exatamente
Onde vai parar

Obrigado, Gessinger. Era o apoio que eu estava precisando.
Oh, diabos, para onde estou indo? Preciso mesmo ir? Quero mesmo ir? Por que... Ok, cale a boca! Não precisa repetir pela milhonésima vez as mesmas perguntas. Sofrer de novo as mesmas dúvidas. Você tomou uma decisão e agora assuma ela como um homem. E pare de perguntar '..e se?", sua cabeça estúpida! Não me peça para repetir revoltas banais das quais eu já me esqueci.
Não, essa música só vai vir depois. Assim como o esquecimento...

Estamos vivos e isto é tudo
É sobretudo, a lei
Da Infinita Highway...

Ha, ha, ha! Que presunção chamar a nossa BR esburacada de highway, hein, seu Humberto? Aqui não tem lei. Quero dizer, tem sim, algumas. E estou quebrando pelo menos umas três no momento.
Sim, eu tinha medo, muito medo desta estrada. Olhe só, veja você. Eu viva e morria na cidade? Certamente não tinha tudo ao meu redor. Por sinal, eu não tinha nada. Nada além de olhos claros e um belo par de peitos. Um pedaço de carne. E não podia ficar limitado a isso, não é? Afinal, tudo o que eu sentia era que algo me faltava. Isso mesmo, meu caro arquiteto. Vivemos por nós mesmos, não podemos nos acorrentar aos outros e nos limitarmos por isso, não é?

Sem motivos, nem objetivos
Estamos vivos e é só

Obrigado novamente. Tais fazendo um belo papel levantando minha moral. Eu tenho objetivos, ok? Eu tenho! E é isso que está me levando agora por essa merda de highway... BR... que seja... Ah, mais um trago, por favor. Esse é o bom e velho companheiro uísque... Aquele que eu costumava tomar, sempre... Sempre em companhia... Sempre em companhia d... CARALHO! VAI DIRIGIR ASSIM NO INFERNO, RETARDADO! Eu que bebo e os outros que fazem cagada! Porra, foi por pouco...

Tudo bem, garota não adianta mesmo ser livre
Se tanta gente vive, sem ter como viver

Mas ser livre não é viver, cara? Maldições, por que eu não estou aliviado como deveria? Me decidi, nada tenho a perder, o que mais eu poderia querer?

Estamos vivos, sem motivos
Que motivos temos para estar?

...
Filho da puta.
Palavras escondidas e entrelinhas... Ela quis dizer algo nas entrelinhas? Sim, nem por um instante deu para acreditar no seu "tudo bem". Não, não estava bem. Não estava bem para ela. Mas se estava para mim, tudo bem não? Estava para mim? Olhos claros, marejados... Aquela lágrima disfarçada... Merda, aquela maldita lágrima disfarçada...

Eu vejo o horizonte trêmulo

Será o uísque?

Eu tenho os olhos úmidos

Porra, a quem quero enganar?

Eu posso estar completamente enganado

A mim mesmo?

Eu posso estar correndo para o lado errado

Qual o lado em que ela está, mesmo?

Mas a dúvida é o preço da pureza

Não estou me sentindo tão puro...

E é inútil ter certeza

...

Eu vejo as placas dizendo "não corra"...

... nem a pau!

..."não morra"...

Óbvio...

..."não fume"

... será?

Eu vejo as placas cortando o horizonte

E o meu coração... elas parecem...

... facas de dois gumes

Aaahhh... Obrigado pelo solo, Licks. Se eu continuasse ouvindo aquele desgraçado falando... Por que bebi? Agora pareço um viado tendo que enxugar a cara, além da garrafa...

...

Merda, não pensei que eu poderia ficar assim. Não pensei que fosse chegar a esse ponto. Que ela chegasse a dizer tudo aquilo, mas não falasse outro tanto. Que se eu virasse as costas, era para não mais voltar. Por que a vida tem que ser tão confusa? América Central é fichinha, cara. Que vontade de ouvir a voz dela... Não, ela iria desligar. Abstrato não, mas bêbado sim. Mas eu tinha que dizer para ela... Eu não estava à toa do teu lado... Merda, eu sou um merda... Merda... Pisa fundo nessa merda... Merda!!! MEEEERRRDAAAA!!!!

Cento e dez...

DUZENTOS E DEZ, seu caipira dos anos oitenta!!!!

Cento e vinte....

SAI DA FRENTE SEU BOSTA!!!!!

Cento e sessenta...

VAMOS VER...

Só pra ver...

... ATÉ ONDE...

... até onde...

... ESSA PORRA DE CORAÇÃO...

... o motor...

... AGUENTA!!!!!!!..............

* * *

O carro destroçado na curva perigosa saiu na capa dos jornais do outro dia. Uns disseram que isso mostrava como a lei seca de nada adiantava. Outros colocaram mais um acidente nos seus argumentos a favor da aceleração da duplicação. A maioria reagiu como os computadores do departamento de trânsito, adicionando mais uma unidade a uma série de planilhas esquecidas no fundo de um disco rígido orgânico. "Quarenta e três no ano" foi em que se tornou uma boca que, sem beijos nem chicletes de menta, deixou uma sombra num rosto que não mais sorria, nos confins da infinita highway.

Mais um

- Aí Jandir, mais um. Aqui no 66.
- Porra cara, de novo? A gente mal chegou aqui.
- Eu sei, mas não posso fazer nada. Manda o pessoal aqui logo, que tá espalhando na pista e isso aqui vai ficar liso pacas.
- Beleza Serginho. ‘Tamo indo aí. Segura as pontas.

Jandir desliga o telefone, soa o alarme e veste a parte de cima do macacão, que estava pendurada pela cintura. Toma um gole do café, já frio, e segue caminho até o quilômetro 66 da BR 470, em direção ao litoral. Sexta-feira, trânsito intenso, uma ultrapassagem mal-sucedida e dois carros se chocam com brutalidade. O mesmo cenário, a mesma situação, a mesma correria para salvar vidas perdidas da forma mais tola e insignificante possível.

- Essa foi feia mesmo. Sobrou alguém?
- Nada. Nada de nada.
- Merda. Documento, alguma coisa?
- Já repassei tudo. Família indo pra praia, caminhoneiro com carga acima do limite, não dá tempo de frear, a ondulação na pista esconde o outro vindo do outro lado. A mesma história de sempre.
- Merda. Dá de perder a conta.
- Não, não dá. Fica marcado na cabeça. Esse aqui foi o 18º de hoje. Tem noção disso? É muita coisa.
- É... e no final do mês, 18 é quase nada...
- Nem fala. Deixa eu ir ali arrumar a papelada.

Papelada. Duas famílias se transformam, com a velocidade de uma colisão, em números. Estatísticas de um mundo violento. Estatísticas da burocracia que atrasa e apaga vidas. Números que se esquecem, que perdem o significado, que se amarelam junto com as folhas envelhecidas do jornal. Número que não significam nada. Vidas que passam a significar ainda menos.

Ao planário e a quem interessar,

Como não me deixam pegar a caneta para escrever, estou ditando cada uma dessas palavras. Tenho ela em mente desde aquele dia, não sei se há horas ou meses atrás, quando eu vi o dia pela última vez. As cores e as imagens me soam perfeitas. Lembro, em relances, de algumas cenas da minha infância em que, no cinema, víamos pessoas viajando com seus óculos escuros e cantarolando em família canções que soavam um pouco do que sentiam. Mesmo que desafinados, nós vivíamos aquele momento.

Eu tenho duas filhas, sabe. São lindas. A última cena que eu quero ver são seus olhares felizes e não da forma como me olham agora. Paradas em minha frente, seus semblantes forçam um otimismo que já não me convence. Mas eu entendo, elas estão vendo seu pai morrer.

Agora, decidiram por me deixar acordar o corpo também e eu já não via a hora. Porque na minha mente eu não tenho descansado. Vejo e re-vejo cada uma das cenas da minha vida. Das últimas, trágicas, às primeiras, extremamente felizes. Nessas horas, aprisionado na própria cabeça, a gente percebe o quanto se era feliz na intolerância e no sacrifício.

Eu provavelmente entrarei nas próximas horas para as estatísticas lutos em decorrência dos acidentes na rodovia da morte. E eu não poderia deixar de expressar a minha dor. Não, não sinto remorso, raiva e muito menos ódio de todos vocês, seus carcamanos insosos de vida e de sentimentos. Eu só sinto dor, uma dor aguda em saber que não sou o primeiro que se vai no auge da vida e que eu não vou estar aqui pra poder fazer nada pra alterar esse quadro.

Não deixo a vocês ovadas, cuspidas e uma mão (que embora tenha cinco dedos, mostraria apenas um, o do meio). Deixo a vocês um pouco da dor que eu sinto, que não é física. É a sensação de ir embora e deixar que a falta de um pedaço de asfalto se transforme na falta de um ser humano. Deixo vocês com as lágrimas da minha família, que agora chora e com rios já chorados por tantas outras esposas, irmãs, filhas.

Osmar

PS: Aos meus familiares, o meu amor, de onde quer que eu esteja.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

O último beijo

Ele não estava pronto para conhecê-la.
Estava deixando alguém para trás, procurando um novo caminho.
Mas o encontro foi arrebatador.
Tudo de repente iluminou-se.
Ele viu a luz nos olhos arregalados dela.
Ela viu o rosto dele iluminar-se.
Foram um ao encontro do outro.
Música romântica no rádio,
o abraço dos motores,
o metal entrelaçando-se,
os faróis apagando-se e deixando-os à meia-luz.
O vidro partido, janela aberta para o encontro.
Os rostos colados, unidos, sem início ou fim.
Perdendo-se, um no outro,
num último beijo.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Tema da rodada

Vamos ver como nos saímos com um tema que está aí, bombando na nossa frente, na nossa mídia?

O tema da rodada é: DUPLICAÇÃO DA BR 470

Os textos devem ser postados até o dia 6 de agosto.

Boa sorte a todos!