Félix B. Rosumek
11/12/07
Poucos carros passavam pela ampla avenida, como em todos os preguiçosos trânsitos do meio da tarde. Nas mesas da calçada, o garçom atendia aos clientes que se sentavam tranqüilos para momentos descontraídos, no intervalo do trabalho ou no passeio de férias. Alguns pássaros cantavam nas árvores que ornavam a bela e sossegada avenida, como fazem em todo início de estação reprodutiva. As pessoas tomavam café, como fazem todas as pessoas tomadoras de café, desde que as pessoas tomam café.
Um jovem nu correu em meio à avenida, gritando e agitando um cartaz onde se lia "eu acredito NELES" e se via o desenho de um ornitorrinco de fraldas. Assustou o rinoceronte trajado com um belo smoking que saía de seu carro, mas foi esmagado pelo pouso do disco voador multicolorido, juntamente com algumas árvores e uns pássaros azarados que procuravam desesperadamente por uma fêmea. A porta se abriu e os alienígenas saíram, anunciando sua vinda em paz para a Terra. O Capitão Elvis chacoalhou os quadris e começou o show, enquanto Jesus tocava seu baixo alucinadamente. Uma multidão de formigas neoliberais entrou em êxtase e aplaudia com vigor até ser esmagada pelo mosh enlouquecido do guitarrista. As sobreviventes se dispersaram em pânico e foram aspiradas por um tamanduá comunista. Elvis agradeceu a todos e declarou que tinham vindo para levar seus irmãos de volta para casa. Os ornitorrincos, que a tudo assistiam escondidos em um Fusca azul-calcinha, correram felizes para a rampa, acompanhados de Mick Jagger e Marilyn Manson. A nave levantou vôo e uma chipanzé em trajes de bailarina chorou pela morte de seu primo distante, nada mais que uma pasta avermelhada pontilhada por dentes brancos. O rinoceronte consolou-a, e a troca de olhares indicou um tórrido romance por vir. Entraram no carro e saíram cantando pneus, espalhando pasta avermelhada e dentes em um casal de sabiás que, empolgados, copulavam sob os destroços. Limparam-se e a sabiá perguntou para o sabiá se ele ainda sabia assobiar. Ambos riram e prepararam-se para outra rodada de sexo ornitológico.
Na calçada, o garçom, que tudo tinha visto, deu os ombros e ajeitou suas asas. Voltou a servir seus clientes, que pediam uma nova rodada. As pessoas continuaram tomando café, como fazem todas as pessoas tomadoras de café, desde que as pessoas tomam café.
quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
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6 comentários:
Es-ca-la-o-quê?
Eu peço aos jurados do regulamento um anti-doping no Félix, nesta rodada.
hahahahaa! "escalafobético" é adjetivo para algo estranho, esquisito, difícil de definir... o título é um neologismo para tornar a palavra ainda mais... escalafobética!
Um ornitorrinco, que assustou um rinoceronte de smoking, e foi esmagado pelo disco voador, e..................... Ok, ok....
A coisa mais psicodélica que já surgiu na terra desde o primero album do Pink Floyd...
eu também voto por um anti-dopping... mas creio que pode ser apenas algum remédio contra a calvície... e o tempo leva o cabelo, mas não leva o elvis nunca!
O Félix vai ter q fazer xixi no potinho. O que tinha naquele café que os tomadores de café tomaram? Só faltou o mafagafo.
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