quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O depois (ou O verdadeiro fim)

Sentia vontade de chorar, mas não conseguia. Os olhos estavam presos. Duros. Frios. Era como se estivesse oca por dentro. Não entendia como ainda conseguia pensar. Sentia um leve cheiro de plantas, que se misturavam com fogo e, de repente, estava rodeada de velas. Se concentrada, conseguia ver vultos. A pequena brecha dos olhos que permaneciam abertos atingia exatamente o ângulo das mãos. Era ali que as pessoas estavam.

Amparados, chegaram o pai e a mãe. Completamente sem norte. Jamais vira as criaturas mais incríveis do mundo naquele estado. Trêmulos, infelizes, incapazes de compreender. Sentia como se a frieza da faca ainda estive cravada no meu peito, e aquilo, sim, matou. Tentou, sem sucesso, abraçá-los. Só a mente funcionava. Quis dizer que os amava, pedir desculpas por aquilo, explicar que encontrariam uma carta embaixo dos seus travesseiros. Não pode. Nunca sentira uma dor tão aguda.

Alguém os tirou dali. Já sentia saudades. Precisava vê-los, mas não podia pedir nada. Queria que um ser superior qualquer que matasse também a mente. O corpo já tinha conseguido, mas jamais imaginou que teria que ver tudo aquilo acontecendo. Era castigo demais, dor demais, sofrimento demais. 

Os conhecidos chegaram primeiro. Amigos dos pais que pegavam a mão e faziam com a cabeça um sinal de negação. Depois vieram os desconhecidos e tinha vontade de mandar todos pras suas casas e deixarem olhar para os que realmente importavam.

De uma só vez, chegaram todos os amigos. Alguns se abraçavam e choravam, outros não se aproximavam. Suas expressões variavam entre descrença e medo, passava de saudade a monstro. Aqueles que nem falava mais, outros com quem convivia diariamente e alguns até que não fazia questão alguma que estivessem ali. Naqueles rostos estavam alguns sentimentos que jamais imaginou que existissem. Por um momento sentia leveza. Sempre disse aos que amava o quanto eles eram importantes. 

Aí ele veio. Pegou na mão e tudo o que queria era devolver aquele toque quente. Os olhos inchados não escondiam a tristeza que sentia. Se pudesse vê-lo, diria que amei e que não se sentisse culpado de nada. Sabia que em poucos dias o correio lhe entregaria a última das trilhas sonoras da mais bela história e, com ela, uma por uma das frases que escrevi nesses tempos. Quis sentir sua intensidade por alguns segundos e só aquela paixão que um dia fez viver poderia fazer sentir morta. Foi assim quando, em poucos segundos, ele se foi e nunca mais o viu. Morria mais um pouco. 

Uma faísca de vida ainda estava em mim. De relance, vi todos os que mais amava e, silenciosamente, pedi desculpas. Queria voltar atrás, eu juro que queria.... Estava escuro. Ouvi gritos e alguns cantos. Depois, o mais torturante dos silêncios. A saudade da vida me fez morrer de verdade, e em poucos segundos adormeci. Pra sempre. 

3 comentários:

Anônimo disse...

ficou meio confusa essa troca de narrador, às vezes em primeira pessoa, às vezes em terceira. Não consegui descobrir se foi proposital ou uma falha. mas soou estranho.

Félix disse...

achei a idéia bem interessante, mas também percebi o conflito de formas de narração. parece que começasse a escrever de um modo e depois continuou do outro. se era proposital, ficou meio esquisito.

Rodrigo Oliveira disse...

A idéia eu gostei mto. Mas tb me confundi. Lendo a segunda vez me localizei melhor. Acho q se der um tapa no foco narrativo e acertar isso, fica bem bacana.