terça-feira, 16 de setembro de 2008

Procrastinado

16/09/08

Elas se unem, giram, se agarram e se retorcem. Abraçadas, deixam de ser várias para ser só uma. Começam uma dança magnífica, chamando para bailar as distintas companheiras que as cercam. Movimentos precisos, impecavelmente dentro do tempo. Mas logo se sentem sozinhas em meio às outras, que não seguem os seus passos com a mesma dedicação. Então chamam-nas para uma valsa diferente, corpos colados com nunca, uma intimidade indiscreta. E então uma são duas. A dança é bela, todas agora querem aprender. As pacientes professoras as ensinam. Em breve, tudo é um minueto harmônico em meio ao caos. Nuas e livres, sentem frio e medo, até que uma tem a idéia genial. E os salões de baile então se lotam de belas dançarinas, professores e aprendizes, mães e filhas. Uma mãe, no entanto, tem uma filha estranha. Sua dança é muito rápida, ninguém mais a acompanha. A mãe, assustada, rejeita a própria sucessora. Mas logo não há mais mães, apenas filhas. E netas. Netas que um dia serão as filhas, e filhas que seguirão o caminho das mães. De não-vivo a vivo em um rodopiar de valsa. Mas não há dança, não há alma, não há deus. Apenas o começo prosaico de uma longa caminhada.

3 comentários:

Marina Melz disse...

bonito, muito bonito.

Rodrigo Oliveira disse...

logo imaginei q vc faria um texto beeeeem antigo. talvez até pq eu tb tivesse pensado nisso. Mas vc conseguiu ir mais longe. E agora temos, em contraste, os dois extremos do período determinado. Princípio e fim. E a forma como foi desenvolvido foi magistral. a dança nao poderia ter outra imagem. dez.

Anônimo disse...

achei muito boa a narração dessa forma assim, artística. gostei bastante do resultado.