Leitores e amigos, temos um comunicado importante a fazer a todos que acompanham o Duelo de Escritores. No dia 1º de novembro, o Duelo de Escritores completa 2 anos de existência, com grande produção literária e experimentações das mais diversas formas. Nestes dois anos, as regras passaram por melhorias, todos aprendemos muito com nossos escritos e o Duelo evoluiu como um todo.
Agora, o Duelo de Escritores passa por sua maior transformação desde sua fundação. Os duelistas Félix Rosumek e Thiago Floriano se desligam da equipe inicial do projeto. A decisão foi tomada por eles, que vinham tendo dificuldades em conciliar vida profissional e o cronograma puxado de produção do site. Queremos agradecer por todo o tempo em que escrevemos juntos e nos divertimos, lembrando que sempre serão parte importante da história do projeto.
Mudanças
Por isso, esta rodada não terá competição aqui no Duelo. Ela será utilizada para aplicarmos as mudanças que se fazem necessárias para mantermos o projeto afiado mesmo com a saída dos dois integrantes. No dia 1º de novembro, data em que comemora 2 anos, o Duelo de Escritores volta com tudo, já apresentando ao público os dois novos Duelistas que passam a fazer parte do projeto.
Outra mudança é a de servidor. O Duelo deixa o Blogger (endereço blogspot.com) para ser hospedado no Wordpress, servidor mais prático e confiável. Para quem acessa o site pelo endereço www.duelodeescritores.com não muda nada, ele continua valendo. A outra opção é digitando o endereço completo: www.duelodeescritores.wordpress.com.
Durante a semana, apresentaremos os novos integrantes e migraremos todo o site para o novo servidor. Fiquem ligados, boas leituras e continuem votando!
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Recado
Aos leitores, duelistas e amigos,
O Duelo de Escritores se aproxima de seu aniversário de dois anos. Ao final desta segunda etapa teremos mudanças por aqui. O Fábio ou a Marina em breve postarão mais detalhes a respeito. Por hora, adianto que as novidades virão na rodada comemorativa. Para preparar a casa, estamos estendendo esta rodada. (Na verdade uma microfolga de uma rodada). Portanto, o novo tema será postado apenas no dia 1° de Novembro.
Antes disso, no entanto, já postaremos mais novidades. Fiquem ligados. (ou assinem o RSS :) )
O Duelo de Escritores se aproxima de seu aniversário de dois anos. Ao final desta segunda etapa teremos mudanças por aqui. O Fábio ou a Marina em breve postarão mais detalhes a respeito. Por hora, adianto que as novidades virão na rodada comemorativa. Para preparar a casa, estamos estendendo esta rodada. (Na verdade uma microfolga de uma rodada). Portanto, o novo tema será postado apenas no dia 1° de Novembro.
Antes disso, no entanto, já postaremos mais novidades. Fiquem ligados. (ou assinem o RSS :) )
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
Votação - Despedida
Está aberta a votação até o dia 20 de outubro.
Participe deixando seu comentário neste tópico.
Abraços.
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Abraços.
Prelúdio da aceitação
Estás presente em mim,
mas de um jeito diferente.
Já não pesa ante meus olhos
cada história comovente.
Se és linda lá fora,
também o és em minha mente.
Cada palavra que te escrevo
faz sentido de repente.
Mesmo tempo que te afasta
é aquele que se sente.
Sorte não reclamo
mesmo te vendo ausente.
E o destino que, hora choca,
noutra se mostra clemente.
Logo céu se abre,
indubitavelmente.
O que é lembrança triste,
apague piedosamente.
Se outra chance não demora
a pairar em minha frente,
vejo e sinto que és passado e,
assim sendo, agora deixo-te ir
(sutilmente).
"Faixa bônus" (ou: o texto que seria postado caso o de cima não fosse...)
Epitáfio
Aqui jaz alguém que observou e registrou,
mas nunca esqueceu de interagir
mas de um jeito diferente.
Já não pesa ante meus olhos
cada história comovente.
Se és linda lá fora,
também o és em minha mente.
Cada palavra que te escrevo
faz sentido de repente.
Mesmo tempo que te afasta
é aquele que se sente.
Sorte não reclamo
mesmo te vendo ausente.
E o destino que, hora choca,
noutra se mostra clemente.
Logo céu se abre,
indubitavelmente.
O que é lembrança triste,
apague piedosamente.
Se outra chance não demora
a pairar em minha frente,
vejo e sinto que és passado e,
assim sendo, agora deixo-te ir
(sutilmente).
"Faixa bônus" (ou: o texto que seria postado caso o de cima não fosse...)
Epitáfio
Aqui jaz alguém que observou e registrou,
mas nunca esqueceu de interagir
(sem título)
Despeço-me e (des)peço-te: pare (não dispare, não repare). O primeiro passo depois do adeus não é o fim: é o começo de uma nova despedida.
De deuses e adeuses.
Um adeus nunca é a deus. Seja pela improbabilidade da partida ou da prévia chegada. Seja pelo nunca ir ou pelo nunca ter estado, a deus não há adeus. Os adeuses são todos ateus, independente da crença de quem os dá. Como se no adeus não se precisasse acreditar em mais nada, além do próprio adeus. Nele, acredita-se piamente. O temos ali, à frente, provado, escarrado e escrito. Ou acenado, lacrimejado. Mas o adeus o temos ali.
Mas logo, o próprio adeus dá adeus. Vai-se. Não temos nada mais, então, no que acreditar. Exceto, talvez, que inventemos algo. Porque os adeuses são breves e efêmeros como nós. Talvez por isso acreditemos tanto neles; para que possamos acreditar em nós mesmos. Os adeuses nos são muito mais próximos que os deuses. Os adeuses são nossos; e como nós. Imagem e semelhança, diríamos, se não o tivéssemos dito antes a outro que não ao adeus.
Nem por isso nos despeçamos dos deuses. Mesmo porque, visto que a eles não existem adeuses, seriam estes desnecessários e insignificantes. Os adeuses, digo. Há algo no adeus que escapa mesmo a deus. É ao adeus que estendemos a mão e acenamos, cabeça erguida em felicidade ou tristeza. Só quando o adeus se vai é que baixamos a cabeça e nos recolhemos a nós mesmos, rememorando, lambendo as feriadas ou saboreando um passado recém saído da pupa do presente.
A deus dá-se o contrário. Quando está presente — se alguma vez esteve, e deve ter estado, se não mentem os dois pelados em torno da árvore das iscas proibidas — é que baixamos a cabeça. Não há acenos, estender de braços ou olhares elevados. Há silêncio e olhos ao chão. Como procurando por algo que emane lá de baixo, que lá se esconda, e que nos atrai ainda mais quando contrastado pela presença divina. Só tornamos a erguer a cabeça quando deus se vai. E tornamos a erguer o braço, seja para baixá-lo com violência, seja para apontá-lo a alguém, seja para buscar algo que pareceu-nos extraviado de repente. Jamais em adeus. Porque o adeus é nosso para darmos a quem quer que seja. Exceto a deus, que ele, a nós, o deu muito antes.
Mas logo, o próprio adeus dá adeus. Vai-se. Não temos nada mais, então, no que acreditar. Exceto, talvez, que inventemos algo. Porque os adeuses são breves e efêmeros como nós. Talvez por isso acreditemos tanto neles; para que possamos acreditar em nós mesmos. Os adeuses nos são muito mais próximos que os deuses. Os adeuses são nossos; e como nós. Imagem e semelhança, diríamos, se não o tivéssemos dito antes a outro que não ao adeus.
Nem por isso nos despeçamos dos deuses. Mesmo porque, visto que a eles não existem adeuses, seriam estes desnecessários e insignificantes. Os adeuses, digo. Há algo no adeus que escapa mesmo a deus. É ao adeus que estendemos a mão e acenamos, cabeça erguida em felicidade ou tristeza. Só quando o adeus se vai é que baixamos a cabeça e nos recolhemos a nós mesmos, rememorando, lambendo as feriadas ou saboreando um passado recém saído da pupa do presente.
A deus dá-se o contrário. Quando está presente — se alguma vez esteve, e deve ter estado, se não mentem os dois pelados em torno da árvore das iscas proibidas — é que baixamos a cabeça. Não há acenos, estender de braços ou olhares elevados. Há silêncio e olhos ao chão. Como procurando por algo que emane lá de baixo, que lá se esconda, e que nos atrai ainda mais quando contrastado pela presença divina. Só tornamos a erguer a cabeça quando deus se vai. E tornamos a erguer o braço, seja para baixá-lo com violência, seja para apontá-lo a alguém, seja para buscar algo que pareceu-nos extraviado de repente. Jamais em adeus. Porque o adeus é nosso para darmos a quem quer que seja. Exceto a deus, que ele, a nós, o deu muito antes.
Suprema hipocrisia
Este é o texto que eu jamais escreveria. Porque, ao chegar o momento final, não me importaria coisa alguma deixar algo para o que viesse depois. Não passaria de um agrado momentâneo enquanto a mente ainda funcionasse. À posterioridade, que se dane.
O pensamento sobrepuja os desejos. Muito se fala de como a racionalidade pode ser devastada pela emoção. Mas pouco sobre o caminho inverso. O raciocínio pode mudar as emoções. A objetividade pode sobrepujar a subjetividade. A razão pode matar a emoção. Como se houvesse alguma realidade nesse dualismo artificial. Pensamentos podem sobrepujar outros pensamentos, e pronto. Sejam pensamentos sobre a vida, o universo e tudo mais, ou pensamentos de te amo e te odeio.
Faz muito tempo que uma trilha alternativa foi tomada. Não foi na filosofia tradicional, não na leitura de tomos complicados, ou no diálogo com pares em um nível superior. O estranhamento nasceu em algum ponto além-lembrança. Desde a mais remota evidência da arqueologia pessoal, havia alguém que voluntariamente se afastava. Que se saturava de companhia, fosse inconveniente ou dos mais queridos amigos e parentes. Aquele pequeno ser que, na hora do sentar à mesa nas festas, pegava seu prato e ia sentar em algum canto afastado. Não por exclusão. Não por antipatia. Apenas por vontade.
A dúvida sempre esteve ali. Afinal, aquele que a tudo questiona, não deixará de questionar a si próprio? Evasão? Fuga? Medo? Ou diferença? Em um sistema complexo como uma mente humana, nunca há desvinculamento de conceitos. Há uma fonte, mas ela se perde em meio às suas consequências. O produto final é a diferença. O estranhamento. A misantropia egoísta e elitista que gera o senso de desajuste. Esnobe, em aparência. "O intuitivo sensitivo pensador julgador irradia uma aura de segurança que pode ser tomada como simples arrogância pelos menos decisivos, mas tem origem em sistemas de conhecimento especializado que começar a ser construídos cedo". Psicologia jungiana. Citar um nome conhecido sempre reveste com uma aura de autoridade a declaração de conhecimentos pré-adquiridos.
Para o observador, não há sentido em um monólogo intrínseco se não são feitas relações com o mundo exterior. Uma pessoa só interessa a outra pessoa quando serve de reflexo a si mesma. Hei de me prender a esta limitação em meu epitáfio imaginário, pois minha mente já há tempos não consegue se contentar com a idiotice travestida de beleza. Ela procura lógica onde lógica não há, na fantasia, na literatura, nos devaneios. Por que o personagem fez a escolha? Por que nasceu o mal de um Criador sem maldade? Por que aquele verso está ali? Falta de sentido é estupidez. Não importa o quão floreada esteja.
Como uma vida consegue lidar com todas suas hipocrisias intrínsecas? Como pode conviver consigo mesma, sendo incoerente em cada instante? Só sendo cego de pensamento, uma cegueira que nunca é de nascença, antes mais um fechar de olhos ou uma cabeça enfiada no buraco. Abençoados ou amaldiçoados? A ignorância pe uma benção? Nunca para aquele que já a deixou para trás. Que ainda se satisfará com piscares, mas sempre se forçará a abrir os olhos e fitar a luz. Mesmo que o Sol queime suas retinas.
O diferente aprendeu a mascarar seu deslocamento. Consegue muito bem sorrir e concordar. Apenas o mais perceptivo verá o ocasional olhar nublado, ou o suave e desprezante arqueamento de lábios. Todo deslocado se sente superior? No fundo, ele sentirá algo parecido. Mas sabe que superioridade não existe, pois melhor e pior fazem parte da cegueira. Secam, morrem e definham sob a luz. Diferença não é superioridade. Há compensações. Negativas e positivas. É possível ser profundamente pensador e profundamente sociável? A máscara pensa que sim. O demônio interior sabe que não.
A diferença leva ao isolamento. Ou o isolamento leva à diferença? Pergunta capciosa. Há alguma origem. É possível isolar uma variável? Felizes aqueles que possuem registros independentes das lembranças, sempre distorcidas pelo tempo. Havia a diferença. Nasce o isolamento. E inicia-se a retroalimentação.
De nada a lugar nenhum a vida leva, e um momento de despedida só pode evocar o fantasma do "e se?". Admirável como a mais tola de todas as perguntas, e continuará sendo enquanto não for possível retorcer o tempo, é também a mais evocada. Há um tênue limite entre a utilidade como aprendizado e o masoquismo pessoal. Definitivamente, não é às portas do inferno que se ficará no primeiro lado da linha.
Havia algum ponto-chave na estrada? Sempre será uma teia de fatos e relações. Mas há peças que derrubam muitas outras, e peças que caem praticamente sozinhas. Ter ido para um lugar em vez de outro? Ter escolhido a felicidade imediata e mediana, ou a probabilidade de uma alegria maior? Qual das faces pelo caminho era a chave? Aquela que se tornou a cicatriz, incurável, obsessiva, travestida ao máximo no sorriso de amizade? Ou aquela que aceitaria e desejaria, que correria atrás daquele que sonha com outros Édens?
Fez-se em poucos parágrafos um tortuoso influxo de pensamentos. Será que aqueles que acreditam em alguma continuidade relêem e elaboram seus epitáfios? Aos opostos, não basta a despedida ser a suprema hipocrisia. Quando mais olhar para os trastes que foram deixados para trás. Como na morte, que assim seja o último adeus, puro e intragável, pois para quem vai já não importa o pensamento de quem fica. Que a redenção não venha na forma de recompensa, nem de descanso. Só como um vazio desprovido de cor, forma e significado. Adeus.
O pensamento sobrepuja os desejos. Muito se fala de como a racionalidade pode ser devastada pela emoção. Mas pouco sobre o caminho inverso. O raciocínio pode mudar as emoções. A objetividade pode sobrepujar a subjetividade. A razão pode matar a emoção. Como se houvesse alguma realidade nesse dualismo artificial. Pensamentos podem sobrepujar outros pensamentos, e pronto. Sejam pensamentos sobre a vida, o universo e tudo mais, ou pensamentos de te amo e te odeio.
Faz muito tempo que uma trilha alternativa foi tomada. Não foi na filosofia tradicional, não na leitura de tomos complicados, ou no diálogo com pares em um nível superior. O estranhamento nasceu em algum ponto além-lembrança. Desde a mais remota evidência da arqueologia pessoal, havia alguém que voluntariamente se afastava. Que se saturava de companhia, fosse inconveniente ou dos mais queridos amigos e parentes. Aquele pequeno ser que, na hora do sentar à mesa nas festas, pegava seu prato e ia sentar em algum canto afastado. Não por exclusão. Não por antipatia. Apenas por vontade.
A dúvida sempre esteve ali. Afinal, aquele que a tudo questiona, não deixará de questionar a si próprio? Evasão? Fuga? Medo? Ou diferença? Em um sistema complexo como uma mente humana, nunca há desvinculamento de conceitos. Há uma fonte, mas ela se perde em meio às suas consequências. O produto final é a diferença. O estranhamento. A misantropia egoísta e elitista que gera o senso de desajuste. Esnobe, em aparência. "O intuitivo sensitivo pensador julgador irradia uma aura de segurança que pode ser tomada como simples arrogância pelos menos decisivos, mas tem origem em sistemas de conhecimento especializado que começar a ser construídos cedo". Psicologia jungiana. Citar um nome conhecido sempre reveste com uma aura de autoridade a declaração de conhecimentos pré-adquiridos.
Para o observador, não há sentido em um monólogo intrínseco se não são feitas relações com o mundo exterior. Uma pessoa só interessa a outra pessoa quando serve de reflexo a si mesma. Hei de me prender a esta limitação em meu epitáfio imaginário, pois minha mente já há tempos não consegue se contentar com a idiotice travestida de beleza. Ela procura lógica onde lógica não há, na fantasia, na literatura, nos devaneios. Por que o personagem fez a escolha? Por que nasceu o mal de um Criador sem maldade? Por que aquele verso está ali? Falta de sentido é estupidez. Não importa o quão floreada esteja.
Como uma vida consegue lidar com todas suas hipocrisias intrínsecas? Como pode conviver consigo mesma, sendo incoerente em cada instante? Só sendo cego de pensamento, uma cegueira que nunca é de nascença, antes mais um fechar de olhos ou uma cabeça enfiada no buraco. Abençoados ou amaldiçoados? A ignorância pe uma benção? Nunca para aquele que já a deixou para trás. Que ainda se satisfará com piscares, mas sempre se forçará a abrir os olhos e fitar a luz. Mesmo que o Sol queime suas retinas.
O diferente aprendeu a mascarar seu deslocamento. Consegue muito bem sorrir e concordar. Apenas o mais perceptivo verá o ocasional olhar nublado, ou o suave e desprezante arqueamento de lábios. Todo deslocado se sente superior? No fundo, ele sentirá algo parecido. Mas sabe que superioridade não existe, pois melhor e pior fazem parte da cegueira. Secam, morrem e definham sob a luz. Diferença não é superioridade. Há compensações. Negativas e positivas. É possível ser profundamente pensador e profundamente sociável? A máscara pensa que sim. O demônio interior sabe que não.
A diferença leva ao isolamento. Ou o isolamento leva à diferença? Pergunta capciosa. Há alguma origem. É possível isolar uma variável? Felizes aqueles que possuem registros independentes das lembranças, sempre distorcidas pelo tempo. Havia a diferença. Nasce o isolamento. E inicia-se a retroalimentação.
De nada a lugar nenhum a vida leva, e um momento de despedida só pode evocar o fantasma do "e se?". Admirável como a mais tola de todas as perguntas, e continuará sendo enquanto não for possível retorcer o tempo, é também a mais evocada. Há um tênue limite entre a utilidade como aprendizado e o masoquismo pessoal. Definitivamente, não é às portas do inferno que se ficará no primeiro lado da linha.
Havia algum ponto-chave na estrada? Sempre será uma teia de fatos e relações. Mas há peças que derrubam muitas outras, e peças que caem praticamente sozinhas. Ter ido para um lugar em vez de outro? Ter escolhido a felicidade imediata e mediana, ou a probabilidade de uma alegria maior? Qual das faces pelo caminho era a chave? Aquela que se tornou a cicatriz, incurável, obsessiva, travestida ao máximo no sorriso de amizade? Ou aquela que aceitaria e desejaria, que correria atrás daquele que sonha com outros Édens?
Fez-se em poucos parágrafos um tortuoso influxo de pensamentos. Será que aqueles que acreditam em alguma continuidade relêem e elaboram seus epitáfios? Aos opostos, não basta a despedida ser a suprema hipocrisia. Quando mais olhar para os trastes que foram deixados para trás. Como na morte, que assim seja o último adeus, puro e intragável, pois para quem vai já não importa o pensamento de quem fica. Que a redenção não venha na forma de recompensa, nem de descanso. Só como um vazio desprovido de cor, forma e significado. Adeus.
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Carne Viva
Viveu a vida inteira em 100%. Se existem pessoas que são ou 8 ou 80, ele era apenas 80, o tempo todo. Viveu, amou, sofreu. Aproveitou cada dia, cada semana, como se fossem os últimos. Não se planejava com o futuro, pois estava mais interessado no presente. Até mesmo em seus melhores sonhos, como o de ser pai, nunca conseguiu visualizar seu filho adolescente. Apenas como uma criança. De certa fora, nunca imaginou que viveria muito tempo.
Tinha pouco menos de 30 anos. Há cinco, já havia percebido seu problema, mesmo que os outros não o percebessem, ou fingissem que não. Sua contagem regressiva corria em ritmo alucinado. Ele, o cara cujos amores duravam três semanas, cujos empregos nunca chegavam a um ano, cuja vida fervia com a vontade de logo acabar.
Vivia em carne viva, e sofria muito por isso. Mas tinha a certeza total e absoluta de que cada lágrima valia a pena. Para ele, dois meses de sofrimento eram pouco, comparados à doçura de duas semanas de felicidade.
Um dia, comprou uma moto. Uma V-Blade, estilo custom, que sempre viu nos filmes e sempre sonhou em pilotar. Nem foi tão caro assim. O dinheiro que guardou para sua pós-graduação foi um bom investimento. Passou no banco e zerou a conta. Encheu os bolsos e mandou e-mails durante todo o dia.
Despedia-se. Da ex-namorada, da melhor amiga, do grande amor de sua vida e da dona de seus pensamentos. Dos amigos mais próximos e mais verdadeiros. No Orkut, disse um adeus geral, a todos os que faziam seus Natais melhores.
Subiu na moto e partiu. Abasteceu quando necessário. Rodou e rodou, sem lugar para ir, sem ponto de chegada ou qualquer expectativa. Rodou por muito tempo, 100% por segundo. Rodou até não mais ter dinheiro para abastecer e seguir com a jornada. Antes do último quilômetro rodado, estacionou sob um caminhão.
Demoraram meses até descobrirem o que aconteceu. Demoraram meses para entender.
Não demorou muito para ser mais um saudoso esquecimento.
Tinha pouco menos de 30 anos. Há cinco, já havia percebido seu problema, mesmo que os outros não o percebessem, ou fingissem que não. Sua contagem regressiva corria em ritmo alucinado. Ele, o cara cujos amores duravam três semanas, cujos empregos nunca chegavam a um ano, cuja vida fervia com a vontade de logo acabar.
Vivia em carne viva, e sofria muito por isso. Mas tinha a certeza total e absoluta de que cada lágrima valia a pena. Para ele, dois meses de sofrimento eram pouco, comparados à doçura de duas semanas de felicidade.
Um dia, comprou uma moto. Uma V-Blade, estilo custom, que sempre viu nos filmes e sempre sonhou em pilotar. Nem foi tão caro assim. O dinheiro que guardou para sua pós-graduação foi um bom investimento. Passou no banco e zerou a conta. Encheu os bolsos e mandou e-mails durante todo o dia.
Despedia-se. Da ex-namorada, da melhor amiga, do grande amor de sua vida e da dona de seus pensamentos. Dos amigos mais próximos e mais verdadeiros. No Orkut, disse um adeus geral, a todos os que faziam seus Natais melhores.
Subiu na moto e partiu. Abasteceu quando necessário. Rodou e rodou, sem lugar para ir, sem ponto de chegada ou qualquer expectativa. Rodou por muito tempo, 100% por segundo. Rodou até não mais ter dinheiro para abastecer e seguir com a jornada. Antes do último quilômetro rodado, estacionou sob um caminhão.
Demoraram meses até descobrirem o que aconteceu. Demoraram meses para entender.
Não demorou muito para ser mais um saudoso esquecimento.
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Tema da rodada
Após um atraso genuinamente oktoberféstico, eis que o tema é:
Despedida.
Textos postados até dia 16.
Despedida.
Textos postados até dia 16.
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
terça-feira, 6 de outubro de 2009
Desesperança
Quando acordei, me descobri imerso numa escuridão que não me permitia ver nem meu próprio corpo. Logo me lembrei do rapaz dirigindo um carro e mergulhando num infinito mar de leite. Lembrei das palavras exatas do texto e senti um aperto na alma, imaginando quanto tempo isso iria durar. Mas a razão me voltou ao notar uma cegueira negra, muito diferente das descrições do mar de leite.
Há dias eu estava perdido nas dunas. Meu balão perdeu atitude e me choquei contra a areia quente, neste inferno de suor e ar seco. Nem uma gota de água, nem uma gota de água, repito para mim mesmo em meus sonhos. Durante o dia, o sol castiga minha pele que ferve em bolhas em contato com a areia ardente. Durante a noite, o frio é insuportável e sinto todos os músculos do corpo tremendo, tensos e desesperançados.
Caminho, o corpo desidratado rente ao solo. Minha pele se arrasta na areia quente, deixando para trás quaisquer tipos de pertences. O bater de asas que já acompanha meus ouvidos há horas incontáveis se mostra cada vez mais próximo. Levo as mãos ao rosto, apenas para sentir a pele queimada das membranas que cobrem as pupilas, já secas e sem vida. A dor é minha única companheira, agora que a esperança já não mais me acompanha. Deito a cabeça nos grãos de fogo enquanto aguardo, inerte, o bater de asas se aproximar.
Há dias eu estava perdido nas dunas. Meu balão perdeu atitude e me choquei contra a areia quente, neste inferno de suor e ar seco. Nem uma gota de água, nem uma gota de água, repito para mim mesmo em meus sonhos. Durante o dia, o sol castiga minha pele que ferve em bolhas em contato com a areia ardente. Durante a noite, o frio é insuportável e sinto todos os músculos do corpo tremendo, tensos e desesperançados.
Caminho, o corpo desidratado rente ao solo. Minha pele se arrasta na areia quente, deixando para trás quaisquer tipos de pertences. O bater de asas que já acompanha meus ouvidos há horas incontáveis se mostra cada vez mais próximo. Levo as mãos ao rosto, apenas para sentir a pele queimada das membranas que cobrem as pupilas, já secas e sem vida. A dor é minha única companheira, agora que a esperança já não mais me acompanha. Deito a cabeça nos grãos de fogo enquanto aguardo, inerte, o bater de asas se aproximar.
Morenice salgada
O chapéu, meio de lado, assim, escondia o rosto tímido, que escondia a malandragem. Estendeu a mão e puxou a morena. O samba que tocava nem sei qual era, e não importa também. Tic-tic-tun e quando a música parecia acabar, mais tic-tic-tun. A banda viu por cima do ombro suado da morena a trança de palha e tocou baixinho, miúdo. A mão aberta, bem no meio das costas dela, fazia com que ele parecesse comandar cada um dos seus movimentos. Ela era uma boneca. Uma boneca de pele morena, de pele suada.
Numa mesa de butiquim a batucar, ele compôs morena dourada, gosto de mar. Sonhou o sal que desprendia da pele dela, molhada de suor. Molhada de morenice salgada.
De repente ela chegou. Arrastou a saia pela mesa, esticou a mão. O cabelo molhado, a pele seca. Foi só chegar perto do pescoço e sentir o doce do perfume. Não era a morena do mar, era a morena do cheiro doce. Cruzou as pernas num passo salgado.
Numa mesa de butiquim a batucar, ele compôs morena dourada, gosto de mar. Sonhou o sal que desprendia da pele dela, molhada de suor. Molhada de morenice salgada.
De repente ela chegou. Arrastou a saia pela mesa, esticou a mão. O cabelo molhado, a pele seca. Foi só chegar perto do pescoço e sentir o doce do perfume. Não era a morena do mar, era a morena do cheiro doce. Cruzou as pernas num passo salgado.
Exército de Esqueletos
Quando suas bocas estiverem secas
Suas salivas pegajosas, suas gargantas ardentes
E a sede embotar, cruel, o raciocínio em suas mentes
Lembrem-se dos banhos tomados! Lembrem-se das carnes assadas!
Lembrem-se dos pisos lavados! Lembrem-se das gotas pingadas!
Lembrem-se dos carros cintilantes! Lembrem-se das piscinas ao sol!
Lembrem-se dos canos empestantes! Lembrem-se dos venenos ao céu!
Vocês não terão nem lágrimas para chorar
Quando seus corpos forem apenas cascos secos
E eu me juntarei, rindo, ao exército de esqueletos
Suas salivas pegajosas, suas gargantas ardentes
E a sede embotar, cruel, o raciocínio em suas mentes
Lembrem-se dos banhos tomados! Lembrem-se das carnes assadas!
Lembrem-se dos pisos lavados! Lembrem-se das gotas pingadas!
Lembrem-se dos carros cintilantes! Lembrem-se das piscinas ao sol!
Lembrem-se dos canos empestantes! Lembrem-se dos venenos ao céu!
Vocês não terão nem lágrimas para chorar
Quando seus corpos forem apenas cascos secos
E eu me juntarei, rindo, ao exército de esqueletos
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
À mainha morta
eu rio
do rio
pruquê
o rio tá na vala, mainha
padinho diz
que quâno rio inchê
vai dá di vê meu riflexo
mas já dá, padinho
que o rio é marrom e rachado
qui nem minha cara di sertão
até meus óio verve mais água qu'esse rio
eu cuspo
pelo buraco onde tinha um dente
pra vê se o rio enche di novo
ai di mim, mainha
o poço secô
tu já morreu
painho sumiu
padin diz que foi pro rio
mas eu tô no rio
e
o rio secô
o rio rachô
e painho não tá
no rio, mainha
'que o rio tá seco
e velho
que nem eu
vazio
do rio
pruquê
o rio tá na vala, mainha
padinho diz
que quâno rio inchê
vai dá di vê meu riflexo
mas já dá, padinho
que o rio é marrom e rachado
qui nem minha cara di sertão
até meus óio verve mais água qu'esse rio
eu cuspo
pelo buraco onde tinha um dente
pra vê se o rio enche di novo
ai di mim, mainha
o poço secô
tu já morreu
painho sumiu
padin diz que foi pro rio
mas eu tô no rio
e
o rio secô
o rio rachô
e painho não tá
no rio, mainha
'que o rio tá seco
e velho
que nem eu
vazio
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Novo Tema
Pra contrastar com essa chuva, o tema da rodada será: Seca.
Os textos devem ser postados até dia 6/10.
E começa outubro.
Os textos devem ser postados até dia 6/10.
E começa outubro.
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