Quando acordei, me descobri imerso numa escuridão que não me permitia ver nem meu próprio corpo. Logo me lembrei do rapaz dirigindo um carro e mergulhando num infinito mar de leite. Lembrei das palavras exatas do texto e senti um aperto na alma, imaginando quanto tempo isso iria durar. Mas a razão me voltou ao notar uma cegueira negra, muito diferente das descrições do mar de leite.
Há dias eu estava perdido nas dunas. Meu balão perdeu atitude e me choquei contra a areia quente, neste inferno de suor e ar seco. Nem uma gota de água, nem uma gota de água, repito para mim mesmo em meus sonhos. Durante o dia, o sol castiga minha pele que ferve em bolhas em contato com a areia ardente. Durante a noite, o frio é insuportável e sinto todos os músculos do corpo tremendo, tensos e desesperançados.
Caminho, o corpo desidratado rente ao solo. Minha pele se arrasta na areia quente, deixando para trás quaisquer tipos de pertences. O bater de asas que já acompanha meus ouvidos há horas incontáveis se mostra cada vez mais próximo. Levo as mãos ao rosto, apenas para sentir a pele queimada das membranas que cobrem as pupilas, já secas e sem vida. A dor é minha única companheira, agora que a esperança já não mais me acompanha. Deito a cabeça nos grãos de fogo enquanto aguardo, inerte, o bater de asas se aproximar.
terça-feira, 6 de outubro de 2009
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Um comentário:
lembrou um texto do félix. bacaninha. a ideia de cair de balão foi bem interessante. talvez, ao menos na minha cabeça, aí estivesse a maior tensão do texto. o balão sobre o deserto, perdendo aLtitude, sem nada pra fazer. A queda, o isolamento. o lance da cegueira me pareceu meio perdido (ou eu q não vi alguma coisa). Se ele estivesse cego ao cair, um cego no deserto, aí acho que teria mais força, mais tensão, se fosse esse o foco. Mas de todo modo, está bem escrito.
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