Começou com o sorriso. Cada um dos dentes de leite foi amarelado com cafeína e nicotina. Ficaram escuros até que tivessem que ser arrancados. Depois, veio a pureza. Fez com que transasse com os tipos mais sórdidos, sujos e cruéis. Por vezes até enganada por uma paixão febril, mas geralmente consciente que o sangue que jorrava entre suas pernas abertas era apenas uma necessidade fisiológica. Aí veio a sanidade. Forçou a imaginar os pais morrendo, os caixões fechando, o namoradinho na cama com outra, com duas, três... Enlouqueceu-a. Tornou-se masoquista. Colocava bem alto as trilhas sonoras de momentos que não aconteceriam mais, leu em tom de ironia as cartas nunca lidas. Por fim, o golpe de misericórdia: violou-lhe a inocência. Com requintes de crueldade. Mentiu, inventou, imaginou choros e declarações que nunca existiram, pensou no futuro, sentiu doer o passado. Entendeu, enfim, o que era a mentira.
Olhou o espelho e teve certeza. A criança tinha morrido.
2 comentários:
Filler, sim. Mas tentei pensar em outra coisa por várias vezes. Juro.
Mais um "em mim" de Marina Melz.
Mas nessa de contornar o tema, até que se saiu bem.
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