Se já teve alguma história engraçada? Teve, teve sim. Sempre tem alguma coisa diferente. Tem cada tipo que aparece! As melhores sempre são as de algum endinheirado que fecha a casa só pra ele e pros amigos, ou aqueles de trazem alguém pra inaugurar. É, inaugurar. A primeira vez, sabe? Porque virgem nunca vem sozinho, né? Sempre é alguém que traz. Se teve alguma vez em especial? Não sei. Tem uma juntou um pouco dos dois, eu acho. Veio um coronel certa vez, de uma cercania aqui perto, pra inaugurar o filho. Isso faz uns cinco, seis anos, se não me engano. Não! Que é isso! Não posso dizer o nome, não. Sabe como é, normas da casa. E também por respeito aos clientes, né? Mas veio aquela vez, então, aquele coronel que eu não vou dizer nome, trazendo o guri mais velho dele. Ele não fechou a casa, mas pegou um elevado só pra ele. Veio com os amigos, gente de dinheiro, de fazenda, sabe? E o guri. E coronel era cliente bom, tinha que atender bem. Pagava bem e tratava bem. Era um homem bom. Por isso a gente também tratava ele bem. E o rapazote veio então pela primeira vez. Devia ter uns quinze, no máximo dezessete. Era meio franzininho mas era de se jogar fora, não. Tímido, o coitado. Nem sabia direito o que fazer. A Dona Keka viu que coronel tinha chegado e mandou eu e as meninas ir lá fazer sala pra eles. Eu sempre atendia o coronel, então foi bem tranqüilo. Já era da casa, nunca deu problema. Eu fui lá com as meninas e o coronel apresentou o filho. Claro, que também não posso falar o nome dele, mas ele, mesmo meio nervoso, foi bem educado com as meninas. A gente serviu os clientes com a garrafa reservada pro coronel, e até o filho deu uns golinhos. Acho que também foi a primeira vez que provou, pela cara que fez. Mas aí que o coronel queria inaugurar o garoto, e queria que fosse bem feito. Falou que já tava na hora de virar homem, que filho alegre não se cria. E pra prevenir, achou melhor trazer o rapaz aqui. E fez questão que eu também atendesse o garoto. Por mim tava tudo bem, até fiquei feliz com o reconhecimento do coronel. Depois de deixar o garoto mais à vontade e um pouco menos nervoso, levei ele lá pra cima. E os amigos do coronel faziam a festa, tinha até padrinho chorando de emoção.
No começo, tudo normal. Ele tava um pouco nervoso, mas todo mundo fica assim na primeira vez. Já cansei de pegar homem feito tremendo feito bambu no vento. Então comecei a conversar com ele, aquelas preliminares de sempre, pra não assustar. Perguntei se era mesmo a primeira vez dele (como se eu não soubesse!) só pra dar mais confiança. Ele disse que era. Ao menos com uma mulher. Na hora me deu um branco. Será o filho do coronel era fruta? Mas daí, logo lembrei que não podia ser. Logo o filho do coronel! Perguntei se era porque ele já tinha treinado sozinho. Ele riu nervoso e disse que sim. Quando tava pra começar o garoto, pra tranqüilizar, eu falei que era parecido com o que ele já tinha feito, e essas coisas que a gente sempre diz pra soltar mais o cliente. Mas só então eu vi ele não tava conseguindo. Devia estar nervoso, o coitadinho. Ele explicou que não era parecido com o que ele já tinha feito, que lá na fazenda os meninos aprendiam diferente. Eu já tinha iniciado muito filho que agricultor e sabia bem como era na fazenda. Molecada vivia no curral! E não era ordenha que eles faziam nas vacas, não! É verdade, aqui na cidade tem gente que não acredita, mas esse pessoal da fazenda aprendia assim até uns anos atrás. Você ri porque sempre morou por aqui. Mas enfim, eu tava perdendo o meu tempo e queria logo resolver aquilo. Então eu virei as costas pro garoto, bem na beirada da cama, e pedi pra ele vir. Falei que ia ser quase como ele já tinha feito antes. Enfim o coronelzinho conseguiu marcar presença e achei que ia se resolver logo. Mas aquilo tava demorando um pouco demais. Perguntei se estava tudo bem, e ele disse que aquilo não era bem como ele já tinha feito antes. Pôxa, aquilo era o mais próximo que eu podia chegar! Só faltava ele pedir pra eu mugir! Só então ele me explicou, bem sem jeito. Ele não freqüentava muito o curral, não. Ele costuma era ir lá pra plantação de melancia do coronel. Se tinha alguma menina que ele encontrava lá? Não, não. Se ele já tivesse conhecido menina eu não tinha passado tanto trabalho e tanta humilhação! Ele tava era atrás das melancias mesmo. Literalmente. Fazia um furinho com a faca e depois emprenhava a fruta. Que fim dava na melancia depois, eu não sei. Só sei que nunca mais comprei melancia que veio da fazenda do coronel. E não é que o moleque me pediu pra ficar que nem melancia? Que abuso! E lá fiquei eu, que já tinha mandado minha dignidade pro ralo, toda encolhida, abraçando os joelhos contra o peito esperando o garoto terminar. Pior é que de raiva e de vergonha devo mesmo ter ficado vermelha que nem melancia. Só sei que o moleque acabou não acabando. É, não deu certo, eu já tava irritada, e o coronel que me desculpe, mas aquele piá tem algum problema. Levei o coronelzinho de volta pro pai. Ele foi meio cabisbaixo mas eu pus o sorriso mais falso que tinha na cara e disse pro coronel: Coronel, seu menino não volta mais. Agora eu trouxe pro senhor um homem! E o padrinho chorão voltar a chorar, o velho acendeu um charuto e enfiou na boca do moleque e eu encerrei o expediente por ali mesmo. O que aconteceu com ele? Não sei bem. O coronel nunca mais apareceu. Nem o filho. Dizem que o moleque virou padre. E a Ritinha disse que viu ele com um outro garoto fazendo o que não fez aqui. Ela disse que o coronelzinho não gosta da fruta não. Mas, da fruta, ah, disso eu sei que ele gosta.
5 comentários:
Muito boa a forma como foi contada a história, sob a perspectiva de uma "dama da noite" sendo entrevistada. E os detalhes da piazada do campo "treinando" foram bastante criativos heheheheh!
Muito boa a história!
Rodrigo Surfistinha é foda...
comentário maldoso do próprio irmão, hein...
hahahaha muito bom! abordagem por demais diferente e muito bem humorada!
casra, muito bem escrito e muito criativo. Não se nota como tu chegaste no resultado. vocabulário bem verdadeiro, texto bem -humorado, boa sacada da fruta.
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