Espreguiçava-se lentamente e enquanto o edredon percorria o corpo quase nu. O cheiro de café começava a entrar pelo quarto e acordava num forte impulso. Quase conseguia sentir as mãos acariciando sua nuca. Colocou os pés no chão, abriu os olhos e olhou para o travesseiro intacto ao lado. Adorava a saudade, e ainda mais o cheiro que a trazia forte.
E passava todo o dia, o dia todo, com balas de café na boca. Os intervalos com nicotina tornavam o gosto forte ainda mais forte.
Almoçava e ia à cafeteria próxima. A cada dia, um café diferente. Com limão, nozes, mate. Quente, frio, morno, batido, com chantilly ou chocolate. O gosto da lembrança a cada gole, que queimava a língua e aquecia o corpo no inverno gelado.
A tarde voava entre reuniões e cafés ruins, mesmo que cafés. Chegava e antes mesmo que correr para o chuveiro, ligava a cafeteira. Quando saia, com a pele úmida e os cabelos molhados, inspirava o cheiro que já invadia a casa. Sorria, sentindo uma solidão bonita e melancólica. Se saudade fosse café, seria expresso e sem leite. Mas doce, muito doce. Como os dias e as lembranças que acompanham seu dia, todos os dias.
6 comentários:
Wow! (e nada mais, por enquanto).
muito bonito esse final, de que a saudade é doce. apesar de nem sempre ela o ser.
ah, e eh café eSpresso. o resto é imitação.
Gostei muito do começo e do final, mas senti que algo se perdeu (ou ameaçou ser sem chegar a ocorrer) ali no meio. O final realmente foi de tirar o fôlego. Talvez se você empregasse mais durante o texto a analogia dos sentimentos com o café. Sei lá...
Gostei do "Se saudade fosse café, seria expresso e sem leite". Só isso já daria um texto massa. Gostei, de novo, do final. De roubar o último pão queijo.
concordo com o rodrigo quanto à frase... já vale o texto
Um texto poético e todo prosa. Muito belo.
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