domingo, 16 de agosto de 2009

Abstrato

Acendeu o cigarro negro, puxou o ar fazendo força e, e antes de soltar a fumaça, vociferou:
- Como assim, só isso?
- Só isso? Mas senhora, este é um raríssimo Kandinsky.
- Kandinsky? Pro inferno com isso! Não me interessaria nem que fosse um Gabbana.
- Senhora, é uma das obras de arte mais respeitadas dos últimos séculos.
- Ah, é? Pois eu só vejo cubos mágicos e uma droga de uma cabeça mal desenhada! O que mais ele me deixou?
- Apenas o quadro, minha senhora. Mas a senhora tem que entender que...
- Entender? Pois eu digo a você quem é que tem que entender alguma coisa aqui. Eu tive que aguentar esse porco roncando do meu lado durante todos esses anos para receber uma porcaria de um desenho? Ele é dono de fazendas, diabo! Onde estão as mansões e os carros importados?
- Está no testamento, madame. A casa continua com a senhora, é claro. Além disso, o patrão deixou este valiosíssimo exemplar artístico. Já foi procurado por diversos museus.
- Então porque não vende logo essa porcaria? Pode fazer um cheque, porque na minha parede é que essa coisa sem sentido não vai ficar pendurada.
Apagou o cigarro no cinzeiro de mármore, descruzou as pernas e deixou a sala. Com um olhar de desdém, jogou as folhas sem assinatura em cima da mesa de reuniões. O quadro, guardado por um forte sistema de segurança, continuou trancafiado por anos ainda, aguardando o dia que voltaria para o seu lugar: junto ao público.

3 comentários:

Rodrigo Oliveira disse...

Gostei da parte do Gabbana =)
Minha preocupação em citar o autor era q ele influenciasse mais que a obra. De certo modo, no seu texto e no meu isso apareceu mais. No dos outros não.

Félix disse...

O diálogo foi divertido (Gabbana foi uma boa mesmo). O último parágrafo é que ficou esquisito. A oração final ficou deslocada do texto. E por que ela não vendeu o quadro, no fim das contas?

Fábio Ricardo disse...

peço desculpas a todos pelo final.
eu odiei.
dá até vergonha.