domingo, 6 de janeiro de 2008

A Pequena Flor

Fábio Ricardo
06/01/08

Era uma vez uma bela flor, que vivia em um jardim imenso, muito bonito e florido. Todos os dias, quando o sol nascia, ela era a primeira a se levantar, espreguiçar-se e mostrar suas lindas pétalas. Todas as flores do jardim se esticavam, balançavam suas pétalas ao vento, mas aquela era a flor mais bonita do jardim. Dia após dia, o sol nascia e sorria para ela.

Uma pequena flor assistia tudo a certa distância. Ela também fazia parte daquele lindo jardim, mas era tão pequenina, mirrada e magrinha que não conseguia ver o sol. Ela vivia entre os caules das outras flores, e não era tão bonita quanto o restante. Ela era apenas um botão. Um pequeno botão que nunca recebia os raios de sol, isolada entre caules, vendo as pétalas apenas de baixo para cima, no escuro criado pela barreira de flores.

Ela fazia força para crescer e ultrapassar a barreira de pétalas, sonhando em ver o sol e se tornar bela como as outras flores. Se esticava ao máximo, mas não conseguia chegar à altura do restante das flores. As outras flores riam das tentativas do pequeno e magro botão de flor.

Um dia, o inverno chegou. Chegou de repente, sem avisar. O frio atingiu as pétalas das flores, que queimavam aos poucos enquanto seu corpo secava a casa dia que se passava. A pequenina flor não entendia o que estava acontecendo. Estava lá, sozinha no escuro, em silêncio, sem ninguém lhe dizer o que fazer. Ela sentia frio, mas não tinha noção do que se passava. Isolada embaixo de todas as outras flores, que recebiam os primeiros flocos de neve, a pequena flor sentia apenas as gotas geladas da neve derretida, pingando sobre seu corpo frágil.

As semanas se passaram e a pequena flor adormeceu no frio inverno. Quando acordou, notou que mais nenhuma flor se movia. O chão estava úmido da neve que havia derretido e todas as flores ao seu redor mostravam seus caules secos, mortos. A pequena flor se sentiu sozinha, abandonada. Aonde todas as outras flores haviam ido, por que não a chamaram?

A pequena flor, solitária, esforçou-se ao máximo para conseguir enxergar por cima das pétalas das outras flores. Não era possível, elas estavam muito altas, ela não conseguia chegar até as outras. Esticou-se, forçou o próprio corpo em direção ao céu, e nada.

Todos os dias, lutava contra a escuridão na companhia dos caules secos, esforçando-se ao máximo para absorver toda aquela água gelada que molhava a terra, para se impulsionar ao topo. Forçava até ficar toda dolorida, sentindo o corpo se esticando cada vez mais. Ela continuava sua luta, triste por ter sido esquecida por todas.

Pensava que havia sido deixada para trás por ser muito feia, pequena e sem graça. Tantas flores lindas! E ela lá, encolhida entre seus caules. Este pensamento esteve em sua mente todos os dias, dando força para que lutasse para crescer.

Um dia, depois de muito esforço, sentiu que ultrapassara a barreira de pétalas formadas pelas outras flores, que já estavam secas e sem vida. Com muito custo, fez força e abriu-se, transformando-se de um botão em uma bela flor, com pétalas brilhantes e coloridas, sob o sol quente daquela manhã que se iniciava.

A flor, já não mais aquele pequenino e magro botão, espreguiçou-se e sorriu ao ver as belas pétalas. Olhou para os lados e viu que o inverno tinha acabado. Ao seu redor, centenas de outras belas flores, sorriam umas para as outras. Animada, a nova flor olhou para cima e alegrou-se: o sol estava lá, sorrindo diretamente para ela. Ela então percebeu: era a flor mais bonita do jardim.