quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Era uma vez.

A torre está vazia. Não há mais princesa, o espelho não é mágico, não há fada madrinha. Sem princesa não há dragão, sem dragão sem ilusão, nem príncipe varão, nem corcel ou alazão. A torre está vazia.

Mas no Shabbath as bruxas dançam. O guerreiro se faz garboso, uma luz na torre acende, ascende o dragão. O menino acorda e o príncipe levanta. Monta o corcel e desafia a imensidão. Cruza terra e cruza o mar. Cascos fazendo onda, espada cortando vagas, cauda de espuma branca riscando o teto de Poseidon. Menino aspira o ar salgado, o príncipe de elmo emplumado, Quixote,Valente, sonhador. Cascos atravessam mares, à planície d’outro lado, e, sobre montanhas, lançam-se nos ares. O cavaleiro com um sopro apaga os vulcões, com um golpe derruba tufões, o trotar deita distâncias ao chão. No horizonte uma montanha, na montanha um castelo, no castelo o dragão. O príncipe apeia, escala a montanha, lá no alto a torre em luz. A capa ao vento rubra, em mais um movimento, a montanha já derruba, é chegado o momento. À frente a besta-fera, vomitando brasa e chama, escorrendo lume e escuridão. O bravo de escudo, com o punho já desnudo, arrebata o dragão. Mas a muralha intransponível não permite intromissão, na torre iluminada onde aguarda um coração. O menino assobia, da infância uma canção, e circundam o jovem príncipe, aves em profusão. Ao cantar do rouxinol, o pintassilgo se achegou. O voar da andorinha, a rolinha inspirou. Tomaram pelas patas o príncipe que a canção acompanhou. E o bater das asas, assaz ritmadas, à torre o levou; que com uma janela aberta o visitante regalou.

Entrando por ali, a beleza esplendorosa. Deitada sob o dossel a amada esperançosa. Inclinou-se sobre a bela, que aguardava um beijo seu. Mas cessou por um momento e o beijo arrefeceu. O menino já dormia para o homem acordar. Amanhã já é segunda, ele deve retornar. A torre está vazia.

Um comentário:

Fábio Ricardo disse...

mto bom, prosa e poesia caminhando de mãos dadas.