Félix B. Rosumek
25/05/05
Estava eu sentado ao pé da porta da sala de aula, esperando pelo professor que não chegava, as salas próximas vazias em meio à véspera de feriado. Pensava na vida, na morte, enfim, em todos aqueles devaneios que, livre do alcance de curiosos, a mente se permitia considerar. Nunca chegava a muitas conclusões, naturalmente, mas era uma boa forma de passar o tempo.
Ergui os olhos para o vasto pátio da universidade e vi uma pessoa ao longe, caminhando lentamente pelo tapete de concreto. Um pouco mais próxima e a reconheci. Era ela. Seu nome era o de uma mortal, mas a beleza a de uma deusa. Laura, a luz de todos os meus dias, que com sua presença tornava paradisíacas mesmo as mais cinzentas e enregelantes manhãs de inverno.
Ela estava trajada magnificamente, o que não deixava de ser estranho para um dia de aula como outro qualquer. Qualquer que fosse o motivo, o fulgor de sua presença pareceu empalidecer o brilho do sol no céu sem nuvens. O longo vestido de um branco imaculado balançava a cada passo, delineando perfeitamente suas formas esculpidas em mármore. Os cabelos negros e brilhantes emolduravam seu leve e tentador sorriso, lábios que eram um convite à perdição. Mesmo à distância era possível perceber o brilho de seus olhos, verdes e cintilantes como esmeraldas cuidadosamente lapidadas, os olhos enfeitiçantes de um anjo... ou um súcubo.
Com um terremoto de passos pesados vindos do nada, Ana correu até mim, a face contorcida e enrubescida pela dor.
- Marcos... preciso falar... a-aconteceu uma coisa terrível!...
Fiz um esforço para romper o estado hipnótico em que estava e prestar atenção nela. Laura agora parara e acenava para mim à distância, com uma expressão de absoluta tranquilidade no rosto. O que poderia ser tão terrível em um dia daqueles?...
- Laura... e-ela... - Ana mal conseguia falar em meio às lágrimas - Oh, meu deus... Foi horrível!...
Minha expressão era de completa incompreensão enquanto Ana despejava suas palavras e eu assimilava seu significado. Diante de meu olhar aturdido, Laura deu meia volta e, com passos calmos e nobres de uma rainha, caminhou languidamente para o horizonte.
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