quinta-feira, 5 de junho de 2008

Quiromancia

A marca branca no anelar não estava lá. Tinha desaparecido, não sabia quando. Mas ela ainda sentia-lhe ali. Não a falta branca, mas o cingir dourado. No pulso, conferiu a data de novo entre os ponteiros, vários anos vencida. As manchas escuras cobrindo as veias azuis que irrigavam falanges retorcidas e curvadas. A pele se acumulava flácida sobre os nós, as unhas sem brilho. Os ossos saltados de uma magreza ancestral. Se uma cigana lhe lesse a palma não veria réstia do que ela lia naquele dorso marcado. Já empobrecido sem o brilho dourado, sem o entrelaço de outras falanges, velhas também, já descarnadas. E enquanto ao lado esquerdo pousava inerte, sobre o tecido amarelado e sob memórias emboloradas, a mão desnuda, à direita a outra zapeava canais distraidamente, aguardando o momento de parar, em que as duas se encontrariam sobre o peito murcho e se encerrassem definitivamente no escuro, onde não poderiam ver a falta daquele brilho dourado de outrora.

Um comentário:

Anônimo disse...

muito bom o zapear incessante esperando a hora de se cruzar sobre o peito.