terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Nova vida

15/12/08

Sua respiração estava mais difícil, ele notou pela primeira vez. Não era mais aquela inspiração profunda e vigorosa, seguida por uma expiração suave e tranquila. Agora, os pulmões não estavam mais puxando o ar com tanta vontade, e ele podia ouvir um fraco chiado saindo da garganta na expiração. Não era tão aparente quanto as mãos enrugadas que ele encarava. Outrora as fortes mãos de um carpinteiro, agora apenas as rugas tinham permanecido. O vigor se fora.

Ergueu-se com alguma dificuldade e olhou-se no espelho. A face estava murcha, os cabelos esbranquiçados, os olhos caídos e sem brilho. Será que aquele corpo alquebrado aguentaria uma temporada no deserto? Sim, se ele confiasse no Pai, e esta confiança ele tinha acima de tudo, certo? Afinal, não tinha arrastado um peso enorme por quilômetros, em um corpo muito mais sofrido e torturado que este? Sim, ele tinha que ter esta certeza. Mas não pôde evitar um pequeno tremor de insegurança na espinha.

Não era para ser assim. Por que o Pai havia deixado sua forma carnal ficar tão decadente desta vez, em vez de mantê-la em glória por toda uma vida? Seria uma nova provação? Será que aquele era o caminho que Ele havia escolhido para seu filho desta vez? Entretanto, por que as pessoas não se condoíam diante do sofrimento de uma morte lenta? Seria mesmo necessária uma morte violenta, no auge, para que todos o reconhecessem novamente? Porém, ele não sabia como iria reagir agora, diante de uma morte dolorosa... Quer dizer, ele deveria fazer o que o Pai lhe exigisse, pois seu amor era infinito, certo? Um novo calafrio percorreu o corpo, ao imaginar um chicote violento e as costas idosas cobertas de sangue...

A porta do quarto de abriu. Ela fez uma pequena reverência e falou com doçura:

- Inri, está na hora do culto.

Ele sorriu com benevolência e respondeu que já estava indo. Bem, desta vez o Pai escolhera outro caminho para ele. Uma vida longa, saudável e cercado por jovens discípulas. Não era de se reclamar. Afinal, ele sabia o que era uma morte na cruz e não a desejaria para mais ninguém. Muito menos para si mesmo.

3 comentários:

Lori disse...

Parabéns felix seu texto esta muito bom. Esta claro, e interessante.Adorei....bju elis

Medéia (Carlena) disse...

AHAHAH, SHOW!
Parabéns!

Anônimo disse...

inri eh rei!!!!