terça-feira, 23 de dezembro de 2008

O verbo mudo

Ping!

— Bom dia.
— Bom dia. Nono, por favor.
— Pois não.

Entre as quatro paredes de metal, eu e o ascensorista. E Ray Connif na rádio interna. Sete anos, a mesma rotina. A mesma música. Os mesmos nove andares. Mas não hoje.

— Aliás, oitavo.
— Oitavo?
— Oitavo.
— Pois não, senhor.

Ping!

— Oitavo, senhor.
— Obrigado.

Do corredor à porta de incêndio. Nas escadas, um degrau por vez. Passo a passo. Cada vez mais alto até a porta com o número nove. Novo corredor. O velho corredor. O corredor de todos os dias. Dez passos até a porta de madeira. A mesma empresa. Os mesmos rostos. Os mesmos bom dias falsos. Hoje, sem resposta. Hoje sem sorriso.

A porta de vidro transparente. A sala do chefe. Porta a dentro.

Um único verbo, silencioso, num dedo médio em riste.

5 comentários:

Lori disse...

asorei esse texto ficou muito interessante.Parabéns....bjus Elis

Medéia (Carlena) disse...

Muito bom... é difícil escrever sem verbo mas você fez isso muito bem!
Parabéns

Anônimo disse...

Muito muito bom

Anônimo disse...

É fato! Escreves como poucos!
Ab, Cris

Vivi disse...

Como não ser sua fã?