quarta-feira, 26 de março de 2008

Walden III

Thiago Floriano
26/mar/2008

Nasceu em um círculo social meio perturbado. Cercado de intelectuais e intelectualóides, aos cinco anos já tinha ouvido falar em diversos conceitos que, talvez, nem os adultos à sua volta compreendessem. Mas eles gostavam de falar sobre aquilo. E principalmente de fingir que entendiam muito bem cada conceito. Era semiótica pra cá, positivismo pra lá, e por aí trilhavam o caminho da mediocridade pseudo-intelectual. Obviamente, alguns daqueles seres sabiam o que estavam falando, mas a maioria era só pose mesmo.

Utopias. Este era um tema recorrente nas rodas de conversa de toda terça-feira na casa dos pais do pequeno garoto. E lá ficava ele, prestando toda a atenção que podia, afinal, não o deixavam simplesmente brincar de correr pela casa, pois tiraria a concentração daqueles que discutiam. Thomas Morus pra cá, Thoureau pra lá. E o garoto ouvindo tudo aquilo.

Aos seis anos, aprendeu a escrever e resolveu que criaria sua própria utopia. Começou: “Para uma jovem mente livre como a que vos escreve, nada pode ser mais utópico que uma Páscoa que dure o ano todo. Ganharíamos chocolates e nos esbaldaríamos com o delicioso sabor dos mesmos. Vale lembrar que na Espanha não existem ovos de Páscoa, logo a Espanha não é um bom lugar para crianças”. Entregou o manuscrito aos adultos e saiu sorrindo, esperando que eles percebessem que estavam na semana santa.

Um comentário:

Rodrigo Oliveira disse...

"(...)na Espanha não existem ovos de Páscoa, logo a Espanha não é um bom lugar para crianças". Meus professores de filosofia não diriam melhor. =)