quinta-feira, 26 de junho de 2008

Encontros

Dorinha e Suzana se encontram no Aeroporto de Florianópolis, no portão de embarque para São Paulo, cidade onde ambas nasceram e estudaram juntas até a oitava série.

- Dorinha! Há quanto tempo!
- Dorinha não, por favor, que agora é Doutora Dolores, que a posição exige, né meu bem? – Diz rindo forçosamente Dorinha, professora primária aposentada, apontando o anel de rubi falso vermelho no dedo anular.
- Menina, que chique! Quer dizer então que conseguiu realizar o sonho de infância e virou juíza?
- Claro, meu bem! E você é uma executiva de sucesso e realizou seu sonho também?
- Óbvio, né, cherrie... Por sinal, acabei de voltar de um encontro com investidores estrangeiros que querem investir na minha empresa de cosméticos – disse Suzana, vendedora Avon na cidade onde mora hoje, Pinhalzinho, interior paulista.
- Menina, que coisa boa! E vai dizer que você também está vindo de Buenos Ayres? – Dorinha faz questão de destacar a palavra “também” na frase, mesmo tendo apenas passado uma semana na casa da irmã, que mora em São José.
- Também! Que coincidência, né amiga? Passei nove dias num roteiro lindíssimo pela América do Sul, para aproveitar que teria que ir até a Argentina para negociar com estes investidores. Você foi a Bariloche? – perguntou ela, que na realidade participara de um congresso de vendedoras Avon em Tubarão.
- Também dei uma passadinha lá sim! Não tem como não ir, não é mesmo? Todo ano dou um pulo rápido lá, para relembrar – disse, mesmo que a única Bariloche que já havia visitado era a sorveteria.
- Mas então amiga, que bom te encontrar depois de tantos anos! E nós continuamos assim, com tanta coisa em comum!
- Isso mesmo! Pena que minha poltrona está tão longe da sua. Estava uma delícia relembrar tudo isso.
- É, eu também adorei! Vamos marcar de se ver mais, né amada?
- Ótimo! Estarei em Paris no início do mês, quem sabe nos encontramos quando eu voltar?
- Ótima idéia, fofa. Até porque eu também estarei fora na primeira quinzena do mês. Negócios a tratar em Milão, sabe como é né?

Assim, Suzana e Dorinha foram, cada uma em sua poltrona, de volta a suas vidas infelizes. Dorinha adorou, pois não precisaria sustentar a farsa de Doutora Dolores por mais tempo. Suzana também.

3 comentários:

Anônimo disse...

Pelo visto andar em aeroporto te inspirou. =)
Gostei muito das falas, caracterizou as personagens.

Marina Melz disse...

que massa, pinhalzinho tem avon! a do interior paulista, claro! hahahaha

Cris disse...

Adorei os diálogos...
E pensar que existe tanta gente que age como suas personagens!!!
Parabéns!!