domingo, 26 de outubro de 2008

A Missão

Chegou em casa cansada, mas satisfeita. A aula havia sido boa, os alunos participado. Deixou as coisas sobre a escrivaninha, despiu-se, desfez o rabo de cavalo e amarrou o cabelo em um coque acima da cabeça. Foi ao banheiro, entrou no box, ligou o chuveiro. Deixou que a água quente escalasse as paredes do box em forma de vapor. Depois deixou que ela lhe massageasse as costas, lavando o resto da semana que ali ainda se agarrava.

A última aula de sexta era sempre a mais complicada; os alunos querendo sair para o fim de semana. "Enquanto o esforço é curto a missão não é cumprida", dizia. E mais uma vez ela tinha conseguido consquitar a classe. Descobriu o site, indicação de uma amiga. Internet sempre conquistava os alunos. Não custava tentar. Gostou da idéia dos micro-contos. Trabalharia em aula com algo que despertasse a criatividade dos alunos, algo leve que lhes mantivesse a atenção, e algo rápido que ela poderia corrigir sem perder mais um final de semana sobre os trabalhos colegiais. Aproveitou o tema proposto para usar com os alunos. Gostou da idéia; ela também cumpria uma missão. Desligou o chuveiro, puxou a toalha de cima do box. Secou-se ainda envolvida pelo vapor e, enrolada na tolha, enfrentou o frio. Cruzou o corredor até o único quarto do pequeno imóvel. Vestiu um moleton bastante usado e confortável. Refez o rabo de cavalo.

Foi à sala-cozinha preparar um café, já com os trabalhos à mão. Sentou no sofá com a pasta da escola sobre a mesa de centro e a caneta vermelha entre os dedos. Com as pernas encolhidas sobre o móvel e os pés escondidos sob uma almofada, puxou a primeira folha:

"A missão da missão omite a omissão da missão."

Tomou a próxima folha e seguiu a leitura:

"Na pia batismal o missionário se banhava. Nu, renasceu puro e molhado frente às beatas descrentes."

Riu e continou a ler folhas e folhas. Cada uma com pouco mais de uma linha escrita. Cada uma, esperava, estopim de algo mais, que se acendesse em seus alunos.

9 comentários:

Flavia disse...

Gostei!
É realmente difícil segurar os alunos no último horário de sexta.

É baseado em fatos reais??

Anônimo disse...

muito bom esse aí da pia batismal.

Anônimo disse...

Gostei principalmente pelos pequenos pormenores apresentados na história. Pois estes fazem a diferença. Gostei das figuras de estílo utilizadas "água quente escalasse as paredes". Vou votar em ti, porque a tua história é simples mas muito rica em conteúdo.
Paula

Rodrigo Oliveira disse...

na verdade todo o resto foi escrito só pra essa parada da pia batismal mesmo. Na verdade devia ter tirado o outro microcontro e deixado só esse. E respondendo à Flávia, não é baseado em fatos reais, não. Ao menos até alguém resolver fazer com que seja ;)

Anônimo disse...

alguem pode dizer-me se eu votando como anónimo o meu voto conta?
Paula (novamente)

Anônimo disse...

Realmente, muito bom...

Félix disse...

paula: conta sim, é só deixar o seu nome no comentário, como neste que você deixou aqui.

rodrigo: interessante ver a versatilidade dos duelistas. nessa rodada, marina fez um conto de félix, e rodrigo fez um conto de marina. o min-conto do missionário foi tudo. legal!

Anônimo disse...

félix: obrigado por teres respondido à minha questão.
Paula

Anônimo disse...

Sou obrigada a concordar com a Flávia, tem que ter criatividade nessas horas... mas você acabou de me dar uma idéia!!!