segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Torpe Torpor

Alexándros, o mais jovem dos ácolitos, aguardava ansioso pela chegada do deus. Seria o seu primeiro encontro com aquele que aprendera a venerar sem conhecer. No átrio posterior do templo, o sacerdote se preparava para o ritual. Com auxílio de mais dois escravos, o acólito envolvia o homem santo com as pesadas e incômodas vestes sacerdotais. O deus, no entanto, ainda não chegara.

Com a mal disfarçada ansiedade, admirava, no centro do ambiente, a pitonisa já levemente inebriada, amparada por outros dois jovens discípulos enquanto aguardava o arrebate do deus em um pequeno altar de pedra. Mas o deus, ainda, se recusava a aparecer.

Ao aproximar do sacerdote, já vestido conforme a tradição, os escravos se retiraram e os discípulos se afastaram para o recôndito das sombras que cobriam as paredes do templo. Alexándros observou os dois manipuladores retirarem as lajes de pedra que revelaram as fissuras no solo, enquanto o sacerdote entoava os cantos evocando o deus da verdade. Mas o deus, ainda, não respondia ao chamado.

Das fendas expostas emergiam vapores aquáticos, secretos, ancestrais, que iam, aos poucos, envolvendo a jovem pitonisa e extinguindo-lhe o que lhe restava da consciência. Mas o deus, ainda assim, não aparecia.

Foi só quando os vapores já quase inebriavam todos os presentes, que a pitonisa foi arrebatada pelo êxtase do deus. Pois os deuses, aprendeu Alexándros, revelam-se apenas aos entorpecidos.

6 comentários:

Anônimo disse...

e eu tinha dito q o Félix usava drogas?
hahahaahaha

muito bom, conseguiu unir tudo em poucas linhas, sem parecer forçado.

Félix disse...

uma ou outra das palavras não me pareceu encaixar tão naturalmente (manipuladores, aquáticos), mas também, quando a gente sabe qual a proposta da rodada, elas saltam mais aos olhos do que se fosse em um texto comum. portanto não fica prejudicado.

a ambientação na antiguidade é algo que sempre conta pontos. já li muito a respeito e ainda não entendi bem como era a relação das diferentes camadas sociais gregas com seus mitos.

e a última frase foi arrasadora!

Vivi disse...

Um ótimo trabalho com a palavras dadas. À mim me pareceram naturais e bem casadas à história.
Bjs

Vivi disse...

Um ótimo trabalho com a palavras dadas. À mim me pareceram naturais e bem casadas à história.
Bjs

Marcelo Labes disse...

As referências, cadenciadas, de um deus que não vem nunca - ao menos pelo que parece - vão dando um real ar de desilusão. Mas quando surge, então, sim, está explicado. É calmaria novamente.

Thiago Floriano disse...

faço eco às palavras do félix, a não ser pela parte da ambientação na atiguidade, que pra mim não conta pontos nem positivos nem negativos... ahahahaha... abraço