domingo, 7 de junho de 2009

Anéis de fumaça

- Que legal! Me ensina?
A voz vinha da menina sentada junto ao balcão, aparentemente sozinha. Eu, largado no sofá vermelho, nem reparei que ela estava ali. Estava envolto em mim mesmo, ouvindo o blues que tocava ao fundo e soprando anéis de fumaça.
A menina se aproximou e sentou no sofá ao lado, de três lugares. Ela se vestia como um rapaz, com seu moletom cinza velho e fora de moda, a camiseta pólo listrada, o all star branco sujo, o cabelo picotado numa franja que caía sobre o olho, o piercing, a tatuagem, a calça xadrez. Acendeu seu próprio cigarro e tragou fazendo força com as bochechas.
- Ensinar o quê?
- As bolinhas. Gosto de bolinhas.
Hum, ok. Bolinhas. Não era exatamente o que eu gostaria de ouvir numa quinta-feira à noite, mas foda-se, ela era gatinha. Dei mais uma tragada no cigarro, enchendo a boca de fumaça. Inclinei a cabeça para trás e liberei três perfeitos anéis de fumaça.
- Isso?
- É, como faz? Como faz?
- Você enche a boca de fumaça, sem tragar. Deixa a boca num formato meio redondo e usa o maxilar pra expulsar a fumaça de dentro da boca.
- Meio redondo?
- É, assim.
E fiz um bico deixando a boca com um formato arredondado. Ela deu risada.
- Acho fofo.
- O que?
- Tua boca, assim. Acho fofo.
Fiz um sinal pro garçom e pedi dois chopes.

2 comentários:

Rodrigo Oliveira disse...

a cena é bacana. Sabe aqueles filmes coreanos de arte? Dá até pra imaginar as texturas e os vermelhos no fundo da cena. Mas acho que ficou no quadro, na direção de arte. Cabia um pouco mais de roteiro, acho.

fefa disse...

com a minha pretensão de quem acha que te conhece, achei tão fábio esse texto.