Um velho conhecido costumava andar pela Grécia e vivia rodeado de pensadores. Todos demonstravam grande habilidade na oratória e raciocínio lógico deveras apurado, mas nenhum conseguiu ajudá-lo a sanar sua dúvida mais cruel. Os gregos usavam duas palavras distintas para se referir ao tempo. “Chronos”, tempo cronológico, mensurável, dos dias, anos, épocas. E o “kairos”, tempo divino, anacrônico, incomensurável, ou apenas “um momento”. Sempre entendi o tempo mais como kairos do que como chronos. Deixem-me explicar.
Há muito venho refletindo acerca do que é, de fato, o tempo. Se tempo é a duração de algo em relação a um determinado padrão estabelecido, como uma rotação “do Sol em torno da Terra”, por exemplo, estou certo de que os dias, meses e anos nada mais são do que convenções. O tempo é uma convenção? Com efeito, afirmo que não.
O tempo é algo muito além do que a visão simplista das convenções sociais. O tempo é divino. O tempo é mundano. O tempo é vivido. O tempo sou eu. Sim, sou eu. É você também. Se pensarmos que o tempo pode ser a sua percepção da duração dos fatos, o tempo nada mais é do que a resposta de seu cérebro para estímulos aos quais a ele seus sentidos apresentam. “Essa tarde está custando a passar, não?”
Será que o tempo de uma jornada de oito horas de trabalho na segunda-feira é o mesmo de uma sexta-feira? Se o tempo é uma percepção individual, será que podemos mudá-lo a nosso bel prazer? São dúvidas sensatas, meus caros. Pensem nisso. E não me venham com perguntas tolas, afinal! O que mais é o presente se não o exato momento em que o futuro vira passado? Tudo o que podemos esperar, tudo o que podemos ver, tudo o que podemos sentir é apenas um momento. O momento kairos, costumo dizer. Um único instante que resume toda a existência. Um único instante que não nos diz absolutamente nada. Isto é o tempo. Isto é a vida.
Sem mais delongas, quero cumprimentar o reitor desta nobre universidade e, em nome dele, todos os demais componentes desta mesa, assim como os acadêmicos participantes dessa jornada. Peço perdão pelo atraso e tenham todos um bom dia.
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2 comentários:
Olha, no começo até pareceu um texto do Félix. O final não poderia ser mais Floriano.
muito bom... a leitura ficou gostosa na boca, e... como posso dizer... o tempo passou voando durante a leitura.
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