domingo, 26 de julho de 2009

Equinócio

A luz... A luz que outrora brilhava, desvanece
O calor, que antes acalentava, não mais aquece
Tudo se dissipa, tudo se apaga, tudo vira pó e nada
Com lentidão morosa, a vida presente se torna passada


Fim da linha, quem diria?
Eu, como poucos, já sabia
Uma ascensão para cada queda, um verão para cada inverno
Não há sentido - não há existência - em um Éden que seja eterno


Saudades, ah, saudosismo!
Conversas alegres entre amigos
Onde o riso é semeado pela memória de tempos idos
E oculta o medo de futuros de tais alegrias desprovidos


Pois estes tempos, e todos os tempos, são o aqui e agora
Não há mais show, não há mais jogo, quando passa sua hora
O teatro vivo fecha suas cortinas, sobram só as fotografias
Nas margens da estrada, camas quentes em estalagens frias


Meus amigos, meus queridos...
Em breve, corações partidos...
Não mais pessoas, não mais ilhas a serem desbravadas
Só serão múmias estáticas, em estase embalsamadas


Ah, meu amor! Meu divino, verdadeiro e inatingível amor!
Não mais me atormentará, cegando-me com alegria e dor!
Minha querida e amada, a mais ardente lembrança cultivada!
O altar sagrado numa catedral de memórias idolatradas!


Passou-se o apogeu...
(e ninguém se apercebeu)
O ápice foi cruzado...
(num arrastão desgovernado)
Agora a vida é queda...
(agora a vida é treva)
Até sua final solução...
(quem sabe por sua própria mão)


...adeus, doce verão...
...venha, entre, amargo inverno...
... com lembranças crepitando na danação...
... a labareda débil em nosso suave inferno...

6 comentários:

Félix disse...

O anônimo que me deu esporro no Santuário vai adorar essa coleção de frases prontas e rimas pobres! :D

Esse texto foi escrito em 2006, mas esta versão foi editada e modificada para que a perspectiva se tornasse menos individual, para se adequar ao "nosso" do tema.

Sobre a parte estrutural, eu não adequo os versos à uma métrica e um ritmo correto. Adoraria ter paciência para isso, mas não é o caso. Isso é um dos fatores que me fez desencanar de escrever poesia. É mais fácil considerar isso uma "prosa em versos com rimas".

Fábio Ricardo disse...

realmente, a métrica e as rimas são fracas, além de pobres =D

mas ainda assim, o início e o final me agradaram. a linha condutora do meio dele é que não chamou-me a atenção.

Félix disse...

Tenho uma pergunta de curiosidade para meus amigos mais literatos, em especial o Rodrigo (leitores podem contribuir): por que rimar "ão" com "ão" e "ar" com "ar" (estou falando das sílabas finais, é claro), por exemplo, é considerado uma rima "pobre"? É só porque é fácil de fazer ou tem efetivamente outra coisa aí? Sei que se eu fizer um texto de 30 versos todos terminando em "ar", vai ser horrivelmente cansativo, mas no que isso iria diferir de um texto com todos os versos terminados em uma outra sílaba qualquer?

Essa parte estrutural da poesia me deixa curioso. Embora, como eu disse, não tenha paciência para ela na hora de criar (o que não signfica que não dê valor na hora de ler).

Fábio Ricardo disse...

félix, na verdade as rimas pobres não são as com final igual.
rima pobre é rimar verbo com verbo, substantivo com substantivo, adjetivo com adjetivo.

e "rima pobre" é o nome dado a isso, nao significa que as rimas sejam ruins, apenas são "rimas pobres".

o "ar" com "ar" é o exemplo mais comum, por isso a gente sempre lembra dele como rima pobre.

Félix disse...

Bah, que legal. Eu nem imaginava que o conceito era esse. Achava que era algo mais subjetivo, ligado a algum problema com a sonoridade.

Deste modo aí, realmente mostra que a rima pobre não tem nada a ver com a rima ruim.

Mas é engraçado que aquelas rimas que eu consideraria "boas" no texto são mesmo aquelas que não são pobres.

Fábio Ricardo disse...

É porque isso demonstra uma erudição, um cuidado a mais. Por tentar fugir da rima pobre, acabamos nos mostrando mais cultos e conseguindo uma rima não tão óbvia. E quando pensamos mais, achamos uma opção melhor.

E bingo! O texto fica melhor.