sexta-feira, 16 de maio de 2008

Trote

Abri a porta de casa e saí pela rua. Era a primeira vez que mamãe me deixava sair pra brincar desde a nossa mudança pra cá. Eu ainda não conhecia ninguém, mas facilmente faria amizades, afinal, crianças se aproximam com muito mais facilidade que os adultos.

Viro a primeira esquina. Fora a luminosidade, parece um quarteirão qualquer do bairo em que morávamos. Encontrei dois meninos correndo em minha direção. Eles corriam de um jeito todo estranho e eu ainda não tinha me acostumado com aquelas roupas que usávamos. Me dava vontade de rir. Quando chegaram perto de mim, pararam e perguntaram em uníssono.

- De onde você é?

- De São Paulo - respondi prontamente.

- Vem com a gente.

O sotaque me fez imaginar que eram cariocas, mas não tinha certeza. Corremos daquele jeito esquisito até uma quadra poliesportiva.

- Vamos jogar basquete. Concurso de enterradas. O que você acha? - perguntava o mais extrovertido.

- Eu não alcanço a tabela.

Desanimei. [...] Um deles pegou a bola, encostou contra o peito, passou por entre as pernas e saltou. Nunca tinha visto um salto daqueles. E que enterrada! Principalmente para uma criança com não mais do que 10 anos.

- Sua vez! - Apontaram pra mim, já passano a bola.

- Não consigo pular assim.

- Tenta. Vamos ver até onde você vai. Pula com toda a força.

Me sentindo intimidado, aceitei o desafio. Peguei a bola, apertei-a com firmeza e me lancei ao ar. A cesta estava na altura oficial, assim como todas as dimensões da quadra, exceto pelo teto meio baixo. Foi exatamente nesse teto baixo que tiveram que me buscar minutos depois. Minha cabeça ficou presa entre as telhas que eu acabara de quebrar, mas aprendi na prática a diferença da gravidade entre a Terra e minha nova morada.

Um comentário:

Anônimo disse...

hahahaha, muito bom! garanto que essa eh ima visão da vida extraterrena que ninguém nunca tinha abordado!