E ela escapara da madrasta para isso! Se soubesse teria deixado que o caçador tivesse lhe extraído o coração. Nem ela precisaria suportar tantos suplícios nem o gamo teria pagado pelos crimes que não cometera. Agora as alvas mãos não lembravam mais a maciez da neve. Os calos se assemelhavam mais à rocha da mina de onde os seus sete flagelos cavavam riquezas não partilhadas. A ela restava o trabalho e escravidão.
A um deles não saciavam os infinitos banquetes que tinha de preparar. Das iguarias mais exóticas tinha de descobrir as receitas, providenciar os ingredientes e garantir a fartura. Outro lhe impedia acesso até às migalhas. Não aceitava que lhe tomasse nada e nada dividia. Nem riquezas, nem sobras, nem atenção. Um terceiro lhe exigia mais e mais. Nada era suficiente, nenhuma quantia era o bastante. Atenção, cuidados, quaisquer q fossem os serviços, ele queria tudo, e queria mais. Outro nada fazia. Ela tinha-lhe q pegar as botas, trazer-lhe comida, vesti-lo e asseá-lo. Vivia exausta enquanto ele descansava. E não importa quão inferior se sentia, um outro a fazia sentir ainda pior. Exibia-lhe a opulência de suas vestes, recitava seus maiores feitos e evidenciava o contraste q os separavam. Assim, ela chegava à noite cansada de corpo e espírito. E ainda o corpo tinha de entregar aos vícios do sexto algoz, lascivo e insaciável. Com o corpo já exaurido tinha por fim o espírito flagelado pelo sétimo senhor, para quem, apesar de tudo, nada está bem feito, inflamando-lhe os humores. Não raro a violência das reprimendas tornava-se física, alquebrando o pouco que lhe restava do corpo e da dignidade.
E assim passava os seus dias, com a saia amarela em farrapos e os cabelos pretos desgrenhados, esperando que lhe aparecesse à porta uma velha vendedora de maçãs.
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
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3 comentários:
nunca confiei muito nesses halflings mesmo...
pai do céu, fábio, são anões, anões!!! eles são baixinhos, fortes e vivem embaixo de montanhas. os outros são baixinhos, fracots e vivem e tocas. chama um anão de halfling pra ver onde vai parar o machado de guerra...
(ok, sim, somos muito nerds!)
ah, sim, embora o texto tenha sido muito bom, não consegui localizar onde está o senhor invejoso na história...
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