terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Poder da sugestão

Thiago Floriano
26/fev/2008

Um cachorro (ou seria um monstro?) os persegue imerso em um vasto matagal. Correm até a porta de um casarão e fecham as portas ao som dos grunhidos da fera, que lá fora os amedrontava. Agora, pareciam seguros. Separam-se e partem um para cada lado, procurando alguma maneira de sair dali. Ela segue por uma grande sala de jantar até um corredor. O único som que se ouve é de um relógio antigo de chão, cujo pêndulo era o único objeto que aparentava ter vida. Ao final do corredor, se depara com um sujeito agachado, de costas para ela. Poucos segundos e ele se vira.

A criança, sentada no sofá, dá um tremendo pulo devido ao susto. Seu irmão ri e continua pressionando os botões até que a mulher descarregue um pente de sua Colt no maldito Zumbi. Se não estivesse sedento por ação à distância, sustos e sangue virtual, não teria escolhido Resident Evil (Bio Hazzard) para lhe fazer companhia através da madrugada. Já tinha idéia do que o esperava no jogo porque seus amigos comentavam as assustadoras histórias no colégio.

Longe de casa, Pedro fica preso no trânsito caótico da cidade. Por sorte, a rádio que ouve o agrada com uma bela canção da Nação Zumbi, muito melhor do que a tal banda Zumbis do Espaço, que a outra estação veiculava naquele momento. Não percebia, porém, relação nenhuma entre as músicas. Ao chegar em casa, percebe um silêncio assustador. Abre a porta, que emite aquele som característico das portas antigas, de madeira com dobradiças em ferro.

Não encontra ninguém na sala. Apenas zumbis vagando pela tela da televisão e os controles do videogame jogados pelo chão. Não se preocupou porque provavelmente seus filhos já deveriam estar dormindo. Segue até a cozinha, come um pão com manteiga e segue para o quarto dos meninos para o tradicional ato de colocar sobre eles o cobertor. Não os encontra.

MDC*, 14 anos, e DFC*, 5, correm pela rua. D. carrega apenas um boneco do homem-aranha, enquanto seu irmão leva consigo um taco de beisebol. Assustados com as cenas do jogos, ficam atentos a qualquer movimento estranho. M. tenta não demonstrar seu medo ao irmão, mas o pequeno não pára de chorar.

Pedro fica totalmente descontrolado e entra em cada aposento da casa procurando seus filhos. A primeira idéia que vem na cabeça desesperada é que essa história toda de zumbis se tornou real. Entra na dispensa no quarto de hóspedes e percebe que labaredas consomem o guarda-roupas. Sem perder tempo, liga para a polícia e comunica o desaparecimento dos filhos. Ligar para os bombeiros fica em segundo plano, o mais urgente agora é achar o que ele tem de mais precioso.

* O nome das crianças foi preservado em cumprimento ao Estatuto da Criança e do Adolescente.

4 comentários:

Vivi disse...

Você abordou um viés mais divertido, trazendo o humor para uma temática densa, ao meu ver. Achei original enquadrar elementos da cultura pop no enredo porque os zumbis abundam nesse cenário. Clipes (Michael Jackson está aí para não me deixar mentir), os vídeos games, filmes...etc. E não é que sociedade foi contaminada pelos zumbis? Gostei de sua abordagem.

Costa disse...

Hahaha os nomes das bandas e o respeito ao estatuto foram hilários!

abraço

Thiago Floriano disse...

até pra escrever conto de terror tenho que apelar pra comédia... não tem jeito... HAHAHAHA

Anônimo disse...

Bã, tinha esquecido de comentar o teu.

Achei que, apesar do tema, denso por natureza, consigou deixar o trama leve, aproveitando muito bem as variáveis que eram possíveis.

Ps: Coincidência mesmo. Quando li o texto do Félix pensei no 2, e tu? hauhauahauha