Em um impetuoso movimento, ele desenhou seu nome no corpo. Muito mais do que cinco letras gravadas em tinta, era uma declaração de amor e união. Mostrou-lhe, e ela soltou um riso nervoso. Desconversou quando ele perguntou se ela não acharia romântico fazer o mesmo. Duas semanas depois, ela pedia para dar um tempo. Falou que não podia continuar enganando-o, fingindo que sentia um amor tão intenso quanto o dele. Ele se desesperou, chorou, seu mundo seguro e confortável ruiu. Tinha esquecido que, ao contrário de tatuagens gravadas na pele, as paixões nunca duram para sempre.
Sozinho e perdido, ele demorou a se adaptar à nova realidade. Tentou sobreviver em um mundo que lhe parecia pálido e cinzento, desprovido de sua tépida companhia. Buscou apoio nos amigos, mas sua companhia lhe parecia vazia e distante. Procurou o calor de outras mulheres, mas elas lhe pareciam geladas e banais. A presença dela estava em tudo, nos lençóis que outrora compartilhavam e nos versos das músicas que ouviam juntos. Ele tentou se livrar de tudo aquilo, mas não conseguiu atirar fora as lembranças. Tinha sentido que, assim como uma droga inebriante e pesada, as memórias só precisavam de um pequeno estopim para uma recaída.
Pois havia a tatuagem. As letras de seu nome lhe saltavam aos olhos todo dia no espelho. Ele passou a evitar fitá-la, mas não adiantou. Sua presença era sentida, como se queimasse na pele e na mente. O nome, e, trazida à tona pelo nome, a imagem. Não, ele não poderia conviver com aquilo. Sua libertação dependia do fim daquela marca. Então, em uma noite de desespero, ele virou uma garrafa de vodca e pegou uma navalha. Encostou-a na pele e pendeu a respiração. A lâmina deslizou, afundando com facilidade nas camadas mais profundas da pele, e ele quase trincou os dentes com a força que os cerrava. Com cada corte, lágrimas jorravam, lágrimas de dor, na pele e na alma. Cada pedaço de seu corpo lacerado era um pedaço de seu coração arrancado. Resistiu apenas até terminar o serviço, desmaiando e esperando o esquecimento definitivo.
Porém, este não veio, e ele acordou no dia seguinte. Fraco pela hemorragia e com a ferida infeccionada, mas ainda vivo. Aquilo lhe mostrou que, se o corpo poderia sobreviver a uma injúria daquelas, o espírito poderia continuar, mesmo alquebrado. Tentou seguir com sua vida em paz, escondendo de todos o local mutilado. Não precisava mais olhar para nenhuma reminiscência de tempos idos, e, com o passar do tempo, as lembranças dela foram lentamente se esvaindo. Mas seu coração jamais conseguiu bater novamente do mesmo modo. Ele tinha se livrado de tudo o que podia lhe lembrar dela, mas não conseguiu evitar a mácula em sua alma. Tinha percebido que, assim como uma tatuagem extirpada à força, deixando exposta uma marca que jamais se cura, nenhum amor verdadeiro abandonava o coração sem deixar uma eterna cicatriz.
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6 comentários:
Caaaaaaaacete. Bom demais.
Se ficasse um pouco menos explícito acho q ficaria melhor. Acho q nao precisava ficar explicando o significado de cada parte. o lance da cicatriz dá um caldo legal, mas a execução acho q podia ser mais trabalhada. (tá, talvez não às 3h da madrugada, mas vc entendeu)
Pô, acho q tem que apresentar teu personagem pro meu. É só desenhar um dragão em cima que tá beleza ;)
Rodrigo, embora eu tenha postado tarde, comecei a escrever antes (efeito do esporro coletivo!). Mas mesmo assim não saiu como deveria ainda, é verdade.
Na verdade, eu queria fazer o clímax ser uma coisa meio gore, descrito em detalhes, para que o leitor praticamente visse e sentisse o maluco se mutilando com a lâmina (sim, Marina, era para ser escabroso!). Mas ia ficar desproporcional perto do tamanho relativamente curto dos outros trechos...
nossa
pois é, eu tinha entendido como um lance meio cinematográfico a cena da automutilação... ficou bom o texto, bem trabalhado, mas vejo um clichê nisso tudo...
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