segunda-feira, 27 de abril de 2009

Invisível

Quando ela saiu, ele arrumou os apetrechos deixados sobre a mesa. Limpou a máquina, retirou a agulha e recolheu os pedaços de gaze ainda úmidos de sangue. Foi até a porta de vidro e trancou-a, fechando as cortinas por detrás, sem esperar por mais clientes durante a tarde. De volta ao estúdio, Denis pegou a máquina fotográfica, discretamente apoiada ao lado do grande espelho. Deixava suas mãos tremerem visivelmente agora: fazia muito tempo...

Apagou a luz e foi para trás da cortina, onde apenas a tela de um laptop brilhava sobre uma mesinha. Encaixou os fios e deixou os dados fluírem entre as máquinas. Sentado no escuro, ele aguardava, enquanto encostava as gazes no rosto e aspirava o aroma do sangue coagulado. Tendo baixado o que queria, deixou o vídeo rodar várias vezes. Ali estava ele, acariciando suas coxas disfarçadamente enquanto trabalhava, observando sua deliciosa beleza juvenil enquanto ela se contorcia para enxergar seu trabalho. Ele tentava trabalhar o mais próximo possível, mas sem constranger a garota. Mesmo sob a máscara, sentia o cheiro forte de sua fertilidade, tão próxima, tão ao alcance... Ah, se não fosse pelas malditas luvas...

Masturbou-se violentamente, várias vezes, enquanto observava o vídeo. Ela tentava fitar o espelho e, quando o fazia, era quase como se estivesse olhando nos olhos da câmera. Olhos que, naquele momento, eram os seus. Sim, ele a teria... Em algum momento ela seria sua... Ele não sabia quando, nem como, mas em alguma de suas visitas ele fecharia as cortinas da porta de vidro e aquela alva pele seria o palco para outras artes.

Talvez ela se oferecesse abertamente, pois não era seu pêlo que se eriçava quando era tocada? Não percebia ele a rigidez dos bicos de seus seios por baixo das roupas? Mas Denis poderia obter o que queria por outros meios. Se ela fazia desenhos invisíveis, era porque os pais eram rígidos, e ele poderia fazer chantagem... Ou talvez tivesse que usar a força?.. Ele tentava espantar esses pensamentos perversos, mas tremia de pavor e excitação ao fantasiar a cena. Ainda tinha muito medo das conseqüências, mas uma hora ele mandaria tudo ao inferno. E então a teria... Ah, sim! Ele tornaria seu desejo visível e a teria, toda só para si...

4 comentários:

Thiago Floriano disse...

achei muito boa essa história da perversão do tatuador... mérito pra cabeça permanentemente embriagada do félix. hahahahaha

Félix disse...

Eu tinha pensado em fazer uma continuação "sensu stricto", imitando até o estilo de escrita do conto original. Mas estava faltando a idéia e, quando surgiu essa idéia, não dava para mantê-la no mesmo clima.

Eu ficaria curioso para saber do Rodrigo se ele tinha alguma expectativa sobre o tema ou era para largar livre mesmo.

Rodrigo Oliveira disse...

expectativa eu não criei nenhuma em relação aos textos de vcs, mas é claro que, tendo criado o primeiro conto, algumas coisas eram esperadas. Tipo, vc captou a vibração/tensão erótica que eu tentei aplicar ao primeiro conto. Mas ao seu tatuador é evidentemente diferente do meu (no meu ponto de vista). O fábio acho q retratou ele melhor na linha do eu estava imaginando. e o Floriano melhor ainda. E ainda capturou mto bem a Mica e especialmente a relação dos dois (mesmo depois de mto tempo). Q fosse rolar algo mais sexual eu até esperava (por aquela 'tensão') mas a relação dos personagens acho q era outra.

Fábio Ricardo disse...

cara, gostaria ainda mais se não tivesse o último parágrafo, terminasse sem a parte racional, soh com o desejo mesmo.

mas ficou muito, muito bom!