“Ah, como começou. Acho engraçado vocês, jornalistas de hoje. Sempre com as mesmas perguntas. Não que no meu tempo tenha sido diferente, mas quando eu comecei a trabalhar nessa área sempre buscava perguntas mais difíceis, mais inteligentes. A idéia era cutucar sempre os entrevistados, sabe como é? Mas naquele tempo tudo era diferente. Existiam mais jornais na cidade. Até uns dois ou três. Além de rádios e televisões. A concorrência ainda era permitida naquela época. Mas tudo bem, vamos voltar à sua pergunta, mocinha.
Naquela época, o pessoal ainda lançava os livros só impressos. Os e-books eram vistos com maus olhos, era coisa de piratas, doía a vista pra ler. Daí a gente veio com essa coisa de projeto literário na internet. Era novidade na época. A gente morava numa cidade no interior de Santa Catarina, Blumenau. Vocês conhecem, né? Então... ninguém fazia disso lá. E a gente começou a escrever de brincadeira, só pra se exercitar. Isso ainda foi muito tempo antes dos patrocínios, dos prêmios, da cadeira na Academia. Pra você ter idéia, naquela época a gente não tinha nem layout no blog. Vê só, era tudo branco, aqueles padrões de quando se monta um site pela primeira vez, sabe? O Rodrigo sempre prometia que ia melhorar a cara do site, mas nunca fez. Só quando a gente conseguiu as verbas de patrocínio mesmo, que já montaram todo o site pra gente, sem a gente precisar fazer esforço.
Mas era assim, começou numa brincadeira entre amigos. A gente vivia querendo escrever, mas nunca tinha saco, nunca tinha tempo. Naquela época todo mundo trabalhava muito ainda. Era todo mundo ainda se estabelecendo nas carreiras. Quando a gente começou, o Félix nem tinha concluído o mestrado ainda, ainda morava no Brasil. O Rodrigo não tinha publicado nada até então. Mas ele já era meio gagá desde aquela época, sabe? Mas escrevia bem, o desgraçado. Agora não passa de um ranzinza, vivendo de direitos autorais.
É faz tempo que a gente não se fala. Todo mundo, na verdade. Sabe como é, né... a vida leva a gente pra lugares diferentes. Agora só conversamos vez ou outra pela internet mesmo. E tá todo mundo super bem, né. Ao menos eu acho. Faz tempo que não falo com o pessoal. Todo mundo publicado, premiado. O Floriano ganhou mais um prêmio esses dias, né? Vi no jornal. O dinheiro vem, né. Mas naqueles tempos, foram tempos difíceis. É uma história longa, que não dá de contar por aqui.
Mas tá vendo aquela livraria ali do outro lado da rua? Vai até e pede uma cópia do “Duelistas”. Sim, “Duelistas”, eu que escrevi. Há, faz uns 30 anos já, conta justamente essa história, de como tudo começou. Escrevi na onda da academia, né. É, quando vieram aqueles prêmios todos, eu aproveitei. Precisava da grana, sabe como é.
O pessoal não gostou, não. Até deu umas brigas por causa disso. A Marina nem olhava mais na minha cara depois de ler o livro. Mas tudo bem, ela sempre arrumava um motivo pra não olhar na minha cara de qualquer forma. Com o tempo a gente fez as pazes. Até lançamos um livro juntos. Sim, sim. Pô, podias ter feito uma pesquisa básica antes, né. É, pelo menos os nomes das obras. Ô pessoal, ajuda a mocinha ali.
Mas então, a gente veio aqui pra falar sobre o lançamento do filme, não veio? Vamos lá, então. Podem perguntar”.
segunda-feira, 6 de abril de 2009
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4 comentários:
porra, eu não fico arrumando motivos pra não olhar na tua cara zé mané! hahahahahaha
é engraçado imaginar essas besteiras todas...
basntante divertido. ao menos pra gente em todos os casos. mas aí como fica a carreira de autoajuda? ahaha
Escolha criativa de abordagem. fico pensando se o filme teria a locução do Cid Moreira...
Divertido, inventivo e criativo. Gostei muito!
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