quarta-feira, 6 de maio de 2009

Françoise

Françoise é o maior produtor cultural do Estado de Santa Catarina. Foda-se Françoise. Foda-se seu sotaque forçado, seus lenços, seus chapéus. Foda-se o bigodinho ridículo, a barba mal feita e o cabelo despenteado. Foda-se Françoise.

Dizem que Françoise ama tanto a arte que escreveu sua primeira ópera na sétima série. Fodam-se as óperas de Françoise. É uma bicha, isso que ele é. Deu o rabo para cada um dos empresários do ramo cultural do estado, por isso que consegue emplacar seu espetáculo nas maiores casas. Uma bicha, eu disse, uma bicha.

Agora ele está na cidade. Se acha o tal, fica no hotel mais caro do centro e faz questão de comer no restaurante que mais atrai a burguesia. Mesmo que ele tenha nascido aqui, nessa bosta de cidade, e pudesse muito bem ficar na casa dos pais dele e almoçar no restaurante da universidade. Foda-se a pretensa beleza Cult de Françoise, que come em lugares caros e só toma suco.

Françoise o caralho. É uma bicha. Uma bicha louca. Eu sei que ele é uma farsa. Eu sei que ele tinha medo de escuro quando era pequeno, e que tinha uma queda pela Mariana, na sétima série. E agora vem, se fazendo de veado só pra conseguir mais fama. Porque está na moda ser boiola. Maldita bicha que se faz de veado só pra fazer sucesso com sua ópera.

Eu sei que Françoise é uma farsa. Uma bichinha que não entende nada de arte. Todas as suas ideias são roubadas. Suas óperas não têm alma porque ele não sabe o que é a alma. É uma bicha, um veadinho que se faz de Cult para vender suas óperas.

Oras, Françoise é o maior produtor cultural de Santa Catarina, era só o que me faltava. Ele nem sabe escrever uma ária que não repita as tragédias já utilizadas por todos os que vieram antes dele. Suas óperas são lixo, lixo. Todas as suas ideias são roubadas. Como ele fazia desde sempre. Desde a sétima série. Foda-se Françoise e suas óperas roubadas.

Essa noite eu vou até lá. Vou encontrar ele nos bastidores, nos túneis escuros do teatro. Ele vai ver só. Françoise, o maior produtor cultural do Estado de Santa Catarina, encontrado esfaqueado atrás do palco durante sua ópera roubada. Sua maldita ópera roubada quando ele estava apenas na sétima série.

Françoise, a bicha. Esfaqueado pelo verdadeiro autor de sua única ópera. Foda-se sua ópera, fodam-se todos os cantores de ópera. Foda-se, Françoise. Foda-se esse seu nome falso. Foda-se esse seu sotaque inventado. Foda-se a sua ópera, Françoise. Foda-se a sua ópera.

Esta noite, Françoise. Essa noite você vai aprender que só a dor cria coisas bonitas, Françoise. Esta noite, Françoise, a bicha, esfaqueado durante sua ópera. Sua ópera. Há! Sua ópera, há! Sua o caralho, Françoise. Ela nunca foi sua. Espera, Françoise. Esta noite, Françoise.

5 comentários:

Félix disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Félix disse...

Agora postando um comentário certo no lugar certo:

Eu também esfaquearia o tal Françoise. Pseudo-bicha-pop-cabeça é o que há de pior no mundo.

Como sugestão, eu tentaria arranjar alguma coisa mais "tchan"** para colocar no parágrafo final, já que ele pareceu meio vazio e não teve muita força (fora a excelente frase "Essa noite você vai aprender que só a dor cria coisas bonitas").

** - isso foi bem pseudo-bicha-pop-cabeça

Thiago Floriano disse...

cara, eu gostei do final... foi ali que deu pra sacar bem o estilo do personagem narrador.

Rodrigo Oliveira disse...

qto ao final, concordo com o félix. faltou alguma coisa, eu acho. saquei o lance da repetição "foda-se" e "françoise", mas teve algum momento que me pareceu meio exagerado. pode ter sido impressão. ou até intenção.

Marina Melz disse...

Concordo sobre a falta de tchan-pseudo-bicha-pop-cabeça, apesar de ter gostado bastante. Talvez pelo estilo Fábio de texto, que eu gosto e estava sentindo falta. Um texto Fábio para um pseudo-bicha-pop-cabeça, e não um texto pseudo-bicha-pop-cabeça para o Fábio.