terça-feira, 26 de maio de 2009

Verdadeiro amor

Ela amou incondicionalmente durante toda sua vida. Amou e se entregou, sem precisar pensar, apenas sentir. E sentia aquele amor preenchê-la em todos os momentos de seus dias. Não pedia nada em troca, não racionalizava e mensurava, pois o verdadeiro amor nada disso pede. Apenas amava, e sabia que também era amada. Não esperava por provas ou declarações. Ela sabia, e isso era o bastante.

Ela não saberia dizer quando havia começado. Era mais fácil admitir que não houvera um momento em especial. Desde o início ele estava lá. Mas, durante os tempos de tenra infância e deleite inconsciente, era mais uma companhia divertida, um companheiro ocasional como outro qualquer. Porém, o tempo passou, e ela não se deixou embarcar na inconsequente irresponsabilidade da adolescência. Quando todos começavam a olhar para os lados e enxergar algo mais nos antigos parceiros de brincadeiras, ele já estava sedimentado em seu coração. Ela seria apenas sua, de corpo e de alma, para toda a eternidade.

Bons momentos, maus momentos. Treva e luz, apogeu e decadência. Mas nunca frio. Nunca solidão. Em todos os momentos, calor, alento e apoio. Se ela estivesse sozinha, não sabia se suportaria as agruras que a vida lhe apresentava. Mas, amando, não tinha como perder a determinação. De nada importavam as privações. Não precisava pesar prós e contras, racionalizar o sentimento, porque o amor não era um meio: era o seu próprio fim. Se havia um mundo além daquele, ela o ignorava, e jamais se questionaria. Não precisava e não queria atravessar o cálido domo de suave proteção.

E assim foi sua vida. Com um sorriso de amor, do abrir ao fechar das cortinas. No crepúsculo de uma existência permeada pela emoção, a certeza de que aquele amor não se exauria com o tempo. Ficava apenas mais forte, e cada vez mais forte, conforme aumentava a necessidade por abrigo e ternura. Ter a certeza de que caminhava os últimos passos em sua presença, que ele estaria ao seu lado no leito e acompanharia seus derradeiros suspiros, era o que bastava para atingir o zênite em paz.

Não se pode dizer o que aconteceria se ela conhecesse a verdade. Talvez tenha tido um lampejo da traição em algum derradeiro segundo, quando soltava os últimos dedos dos penhascos da consciência, escorregando para o oceano de eterno oblívio. Rápido demais para ser interpretado ou permitir qualquer reação. No momento em que ela teria a chance de perceber que ele não estaria esperando-a do outro lado, sua mente não mais existia, e era tarde demais para se arrepender.

3 comentários:

Marina Melz disse...

Um jeito bem Félix - "Treva e luz, apogeu e decadência" - de falar sobre amor.

Fábio Ricardo disse...

Legal, pegou uma questão mais profunda, sem dexa exatamente claro do que estava falando.

§Polli§ disse...

Agoooooora sim... Depois de uma explicaçãozinha básica, cosegui pegar o lance da estória!