Ela amou incondicionalmente durante toda sua vida. Amou e se entregou, sem precisar pensar, apenas sentir. E sentia aquele amor preenchê-la em todos os momentos de seus dias. Não pedia nada em troca, não racionalizava e mensurava, pois o verdadeiro amor nada disso pede. Apenas amava, e sabia que também era amada. Não esperava por provas ou declarações. Ela sabia, e isso era o bastante.
Ela não saberia dizer quando havia começado. Era mais fácil admitir que não houvera um momento em especial. Desde o início ele estava lá. Mas, durante os tempos de tenra infância e deleite inconsciente, era mais uma companhia divertida, um companheiro ocasional como outro qualquer. Porém, o tempo passou, e ela não se deixou embarcar na inconsequente irresponsabilidade da adolescência. Quando todos começavam a olhar para os lados e enxergar algo mais nos antigos parceiros de brincadeiras, ele já estava sedimentado em seu coração. Ela seria apenas sua, de corpo e de alma, para toda a eternidade.
Bons momentos, maus momentos. Treva e luz, apogeu e decadência. Mas nunca frio. Nunca solidão. Em todos os momentos, calor, alento e apoio. Se ela estivesse sozinha, não sabia se suportaria as agruras que a vida lhe apresentava. Mas, amando, não tinha como perder a determinação. De nada importavam as privações. Não precisava pesar prós e contras, racionalizar o sentimento, porque o amor não era um meio: era o seu próprio fim. Se havia um mundo além daquele, ela o ignorava, e jamais se questionaria. Não precisava e não queria atravessar o cálido domo de suave proteção.
E assim foi sua vida. Com um sorriso de amor, do abrir ao fechar das cortinas. No crepúsculo de uma existência permeada pela emoção, a certeza de que aquele amor não se exauria com o tempo. Ficava apenas mais forte, e cada vez mais forte, conforme aumentava a necessidade por abrigo e ternura. Ter a certeza de que caminhava os últimos passos em sua presença, que ele estaria ao seu lado no leito e acompanharia seus derradeiros suspiros, era o que bastava para atingir o zênite em paz.
Não se pode dizer o que aconteceria se ela conhecesse a verdade. Talvez tenha tido um lampejo da traição em algum derradeiro segundo, quando soltava os últimos dedos dos penhascos da consciência, escorregando para o oceano de eterno oblívio. Rápido demais para ser interpretado ou permitir qualquer reação. No momento em que ela teria a chance de perceber que ele não estaria esperando-a do outro lado, sua mente não mais existia, e era tarde demais para se arrepender.
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3 comentários:
Um jeito bem Félix - "Treva e luz, apogeu e decadência" - de falar sobre amor.
Legal, pegou uma questão mais profunda, sem dexa exatamente claro do que estava falando.
Agoooooora sim... Depois de uma explicaçãozinha básica, cosegui pegar o lance da estória!
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