quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Continua

Paredes brancas são meu tormento e não haveria sensação pior pra me acompanhar durante a espera no hospital. Os minutos rastejavam cada vez mais longos quando pude finalmente ver meu filho e minha esposa. 

O Leonardo chegou pra mudar nossas vidas. Pelo menos a minha, eu decidi, tinha que ser preenchida com momentos de alegria intensa, pra compensar tanta agonia da passagem até agora discreta que tive por este mundo. Que hora estranha pra nascer o meu primeiro filho! A coincidência só podia ser o aviso que eu precisava, e eu atendi. 

Passamos dias fazendo vendo as ondas na praia, conhecendo o vai-e-vem da água. Barulho de mudança, pra mim uma terapia. Em casa, era o Leonardo de dia e uma nova esposa à noite. Eu a amava mais do que nunca, ela procurava entender minha nova fase e dávamos gargalhadas com o Léo. Uma linda mãe, um lindo filho.  

Esta semana o Léo fez seu primeiro aniversário e tive uma surpresa: sobrevivi. Contrariei as expectativas do médico, que disse que eu teria apenas um ano de vida depois de descoberto o câncer.  

O Léo já está mexendo com a areia na praia. A Mara chora e não sabe explicar por quê. O médico ainda diz que posso morrer a qualquer momento, mas meu filho me trouxe hoje uma palavra mais animadora que a do pós-graduado: “papai”. 
 
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Daniel Costadessouza, leitor de Blumenau (SC)

4 comentários:

Anônimo disse...

Um texto simples, contudo, muito real,cheio de sentimento.
Parabéns! Gostei.
Paula

Anônimo disse...

Um texto simples, contudo, muito real,cheio de sentimento.
Parabéns! Gostei.
Paula

Anônimo disse...

Um texto emocionante. Cabe um mundo dentro dele. Fala de esperança, acima de tudo.

Parabéns ao Duelo de Escritores pela iniciativa dessa rodada. Que venham mais aniversários! :)

Anônimo disse...

Legal essa perspectiva de "apenas um ano de vida". Imagina só, ter um filho num momento como este!
Apenas achei que o texto poderia carregar um pouco mais de emoção nas palavras, não ser tão direto assim.