domingo, 16 de novembro de 2008

O Processo

Sentou-se em frente à velha máquina de escrever, pegou a folha preenchida que repousava na máquina e arrancou com um único puxão. Não se preocupou em descobrir o que estava escrito. Simplesmente amassou a folha e arremessou em direção ao lixeiro, no canto da sala. Errou e o papel juntou-se a tantos outros que rodeavam a lata de alumínio, já cheia.

Sorveu o último gole de cerveja já quente e colocou uma nova folha na máquina. Caminhou até a cozinha e largou a garrafa vazia em cima da pia. Abriu a porta da geladeira, procurou mais algumas latas, mas já havia bebido todas. Procurou por uma garrafa em algum lugar da casa, e achou meia vodka caída no sofá. Bebeu um gole direto do gargalo e franziu a testa enquanto os olhos avermelhavam.

Abriu mais uma vez a porta da geladeira e procurou algum refrigerante. Encontrou só uma jarra com um resto de chá mate. Misturou os dois num copo grande, meio a meio. Voltou ao escritório, descansou o copo sobre uma pilha de papéis e sentou-se frente à velha Olivetti. Bateu com força os dedos que enchiam o ar com o som característico e hipnotizante.

A primeira linha se preencheu com velocidade, assim como as seguintes. O copo se esvaziava na mesma proporção que a folha se enchia. Fred adormeceu, braços cruzados apoiando a cabeça embriagada sobre as teclas. Na manhã seguinte, Fred acordaria, arrancaria a folha da máquina e a desprezaria num canto qualquer, sem ao menos ler o que estava escrito. Procuraria por uma bebida por toda a casa, reclamaria da ressaca e começaria tudo de novo.

4 comentários:

Marina Melz disse...

Fante e Fred juntos. Adorei.

Rodrigo Oliveira disse...

Há quem diga q escrever é reescrever. E reescrever, reescrever, reescrever...

Thiago Floriano disse...

fred é sempre fred... tá bom... só fiquei com a sensação de que faltou alguma coisa... ainda não sei o que é... vou ler de novo!

Vivi disse...

Taí...uma outra perspectiva: o segredo da técnica de escrita é suprimir as regras e não acrescentá-las.

Gostei!