Lembro-me como se fosse hoje: aquela luz forte que teimava em me cegar os olhos, uma cama desconfortável com lençóis cor de nada e dois sujeitos de branco me apertando como se eu fosse uma bola. Tudo bem que o meu corpito estava meio oval, mas poxa, poderiam ter mais consideração, afinal não era uma posição muito agradável. Foi nessa hora que eu percebi que aquela criaturinha que estava vindo ao mundo me faria passar por todos os tipos de situações embaraçosas. Já começou por ali: a minha perna totalmente aberta, meia dúzia de pessoas olhando algo que seu pai demorou dois meses para chegar perto, eu toda descabelada e a enfermeira tirando foto dessa cena desastrosa. Você também não ajudou muito querendo abrir espaço entre as minhas costelas à base de cabeçada, tudo isso para vir ao mundo dar o ar da sua graça. E olha como o tempo passa rápido mesmo, isso já faz um ano. Um ano que a moça de branco me entregou um pacotinho marrom sujo de sangue e falou: Parabéns, mamãe!
Quando eu vi aquela coisinha (aquela coisinha é você, filha!) de 30 cm com cara de joelho e nariz de batata pensei que mesmo que você vomitasse em cima da minha coleção de selos ainda amaria você. Porque o amor foi forte, filha! Nem quando o José Henrique, da 6ª série II, me pediu em namoro eu senti algo tão intenso. As pernas ficaram bambas, o coração bateu mais forte e os olhos não conseguiram segurar o aperto no peito, tive que chorar. Desde então, o amor só aumentou. Mesmo quando você babou na minha blusa de seda favorita. Mesmo quando você empurrou para o chão a sopa que eu demorei duas horas para preparar.
Hoje, você não faz mais isso, aprendeu a ser mocinha. E nós crescemos juntas nesse ano. Aliás, acho que aquele clichê de 'aprendi muito mais que ensinei' serve para mim nesse caso. Nem ligo de usar clichês nessa sua cartinha porque quando olho para você, baby, o meu cérebro se esvazia e só consigo me comunicar através de frases feitas. Não consigo bolar uma frase criativa para resumir tudo o que eu sinto/senti por você nesse ano. Então é isso, filhota... De novembro de 2007 a novembro de 2008, o Jamelão decidiu partir dessa para uma melhor, o Jandir foi eleito para o décimo quinto mandato em Itajaí e o Bush, finalmente, vai pegar seu banquinho e sair de mansinho. Mas, o que realmente sacudiu o meu mundo foi um ser de coxas grossas que não sabe falar, não sabe andar, não sabe nem a diferença de pedra para comida. E que hoje comemora um ano de vida. Parabéns, filha!
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Tamara Cardoso Belizario
Leitora de Itajaí (SC)
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
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4 comentários:
Muito bem escrito. Adorei o estilo da narrativa, a história, tudo.
e mão é que ficou legal mesmo? eu não tenho muito amor pelos "pacotinhos marrons sujos de sangue", mas a narrativa bem humorada foi muito boa.
um pequeno detalhe: poderia tirar a frase "(aquela coisinha é você, filha!)", pois o texto não precisa desse tipo de explicação.
Tamara,
Achei legal você misturar Bush com maternidade. Deu um contraste poético.
Muito bem escrito.
eu gostei por ser um texto muito real. Ele poderia muito bem ser guardado para ser entregue daqui a uns anos, dizendo "é pra você, filha, escrevi no seu aniversário de um ano".
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