domingo, 6 de setembro de 2009

Gongo

Era um dos últimos bailes dos Luízes, no século XV. Eles ainda não sabiam disso. Esbanjavam nos leilões, nos vinhos, nas dançarinas, altura do volume da música, nas telas renascentistas que enfeitavam as paredes. A comida tinha acabado de ser servida e parte dos convidados já se encaminhava para o salão enquanto alguns poucos ainda chupavam as pontas dos dedos.

Acima das cabeças das figuras mais importantes da burguesia, Valentin, filho do rei, cometia o maior dos pecados: deixava a pele tocar a de uma prostituta.

Ana não utilizava as anáguas e longos vestidos apertados na barriga e no busto. Nem precisava. Suas vestes de moça simples deixavam saliente a circunferência volumosa que ela ostentava na região dos seios. Era sofrida. Diferenciava-se das demais por trocar maquiagens e jóias por água, para que se mantivesse minimamente limpa.

Quanto Valentin foi levado à casa onde Ana vivia, precisava escolher uma das mulheres que tinham acabado de chegar traficadas da cidade grande para iniciar sua vida sexual. Era eximido do pecado e a poderia tocar. Relacionaram-se até que Valentin tivesse que casar com a filha de outro rei. Aquela era a festa de apresentação dele para a família a noiva.

Exaustos, com o corpo deitado ao lado dos lençóis que deveriam, no mínimo, separar os dois corpos, Valentin e Ana se despediam. Até que o quarto foi invadido e o segredo dos dois descoberto. Ana foi morta pelo Padre amigo da família.

Valentin se casou. Todos os dias ia ao túmulo de Ana. Não havia nem esperança de gongo, mas todos os dias ele ia ao cemitério e deitava-se sob o corpo de Ana. A diferença é que agora havia entre eles sete palmos de terra, que os deixavam mais distantes do que o lençol que nunca os separou.

2 comentários:

Félix disse...

Cada um intepretando o tema com sua abordagem, não é? Imaginei que tu iria vir com algo ligado a relacionamentos. Mas gostei de que não é uma história genérica que poderia se passar hoje em dia, pois um atributo medieval (casamentos arranjados) é parte integrante da história.

Fica claro, no entento, que a narrativa foi apressada e merecia um desenvolvimento maior.

Uma coisa que muita gente não liga, mas eu tento dar atenção, é a fidelidade histórica, quando se pretende escrever um texto no mundo "real" (e não na fantasia, por exemplo). Claro que tu não estava querendo falar de um personagem histórico real, mas detalhes de ambientação afetam a verossimilhança. Por exemplo,
na França do século XV teve apenas um rei chamado Luis, de moderada relevância. Os grandes Luíses, mais conhecidos, foram os da Modernidade (entre os séculos XVI e XVII). Os espartilhos apertados também são coisa da Modernidade, não da idade Média.

Coisas pequenas que muita gente não nota, mas até uma Wikipedia rápida antes de escrever basta. Ajuda muito a mostrar um pouco mais de esforço na hora de criar.

Rodrigo Oliveira disse...

Acho que acabou fugindo um pouco da cronologia proposta. A ambientação me parece muito mais próxima da Europa renascentista que medieval. E se ele realmente se deitava SOB o corpo de Ana, o tal do Valentin era um sujeitinho muito do sinistro. Creepy. :P
Acho q fugiu um pouco do tema, ao meu ver (talvez porfalta de afinidade, não sei) e deu pra ver que foi meio na corrida mesmo. Faltou aquele apuro que normalmente seus textos sempre em uma outra sacada inserida em algum parágrafo, em geral, no último.