quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Céu

Devia poder dar três passos. Daqueles de uma perna ao lado da outra, de caminhar. Mas enquanto desenho o um, o dois e o três, já sei que vai ter que ser numa perna só. Difícil isso de se equilibrar numa perna e só. Mas depois eu penso nisso porque o três acabou e agora tem o quatro e cinco.

O quatro fica ao lado do cinco e eu traço uma reta no meio dos dois. Eu aprendi que o meu cachorro tem quatro patas e que são cinco os dedos das mãos. Sempre penso que se a gente andasse de quatro, o quatro e cinco ficariam tão pertinho e nem iam poder se abraçar, se encostar.

Já o seis não. O seis é sozinho. É quase metade e seria meia se a contagem fosse de dúzias. Mas é sozinho o seis.

Aí vem o sete e o oito, que são os números mais bonitos. Ficam separados, mas não deviam, porque são sete as cores do arco-íris e me disseram que o oito deitado é infinito. Quando termino de dividir os dois, penso que ninguém nunca viu o fim do arco-íris.

O nove é quase. A linha do nove é um pouco maior, porque quando é quase, a gente já está cansado e ficar com uma perna só no quase é quase cair.

Acaba o giz, mas bem do lado tem um pedaço de tijolo. Tijolo da construção. O céu não é branco, não. Branco é o caminho, a estrada que chamam de amarela pequenininha, mas que é branca. O céu é em forma de nuvem e nuvem parece algodão. A marca do tijolo é meio laranja, meio rosa. O meu céu é doce como o algodão. Doce.

(E no céu não se precisa ficar numa perna. E só.)

2 comentários:

Fábio Ricardo disse...

gostei. o tom infantil caiu bem. talvez não precisava ter dito o nome da brincadeira, deixar só no ar mesmo.
mas ainda assim eu gostei.

Rodrigo Oliveira disse...

Bem sensível. Um prosa bem leve e bem poética, cheia de imagens bacanas. Gostei. Delicado sem ser meloso. Poético.